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10 de janeiro de 2016

Primeiro Editorial do Ano - A desmitificação do Impeachment

Que rufem os tambores, que soem as trombetas que soem os tambores e trufem as tambetas!
Mais um editorial!



Indo direto ao assunto, pretendo abordar um pouco da situação do Impeachment da presidente Dilma e explicar porque, bem provavelmente, ele não sairá em 2016 (quiçá em algum momento).
Sem dúvidas os procedimentos (manifestação de populares, os laudos do STF e o aceite do pedido de Impeachment) enfraquecem as perspectivas do PT de eleger um presidente na eleição de 2018, mas tirar a atual presidente de seu mandato?
Não parece exatamente provável.
Sei que tem gente que já está com o argumento na ponta da língua de que 'por menos cassaram o Collor', e outros pormenores, então vamos direto para a explicação histórica.

A verdade é uma só: Ao contrário da situação do Collor onde havia um país unido graças ao movimento das Diretas Já de 83-84 e toda o sentimento de renascimento e novo Brasil pós Constituição de 88 - ou seja, poucos anos antes de 92 quando Collor deixou o governo.
O povo brasileiro estava cansado de um controle autoritário do regime militar, mas mais que isso, de um regime economicamente patético. A hiperinflação exorbitante e os planos econômicos dos mais ridículos possível só solapavam a ideia de que ninguém sabia exatamente o que estava fazendo.
Com as promessas de mudanças que Collor fez demonstrando apenas bravatas - afinal, ele que queria acabar com os marajás estava ali metendo a mão nos cofres públicos - o povo foi às ruas marchar em protesto e tinha o apoio e manifestação política para exigir esse tipo de mudança.



Enquanto os protestos contra Collor queriam um país mais íntegro, os protestos contra a Dilma parecem a parada anual do Asilo Arkham com todas as sandices que se espera... 
Hoje, temos um cenário completamente caótico onde todo tipo de maluco e candidato a ex-BBB aparece pleiteando atenção (e dá-lhe o babaca vestido de Batman, dá-lhe a 'musa' do Impeachment - que, por sinal, já anunciou candidatura a vereadora...), ao que tudo parece uma enorme alegoria e piada (de mau gosto).
Os protestos são caóticos (tem gente pleiteando a volta da monarquia, tem gente querendo intervenção militar - inclusive intervenção militar norte-americana*) sem uma voz clara e nítida.
* Uai, pra que mais faixa em inglês pro exército brasileiro?
Quem tenta justificar 'intervenção' militar, depois de todos os anos de ditadura no Brasil e do fracassado golpe espanhol da década de 80 (como destaca o brilhante 'Anatomia de um Instante' de Javier Cercas).

E para 'ajudar' não existe uma liderança política forte para apoiar o pleito e puxar o apoio popular numa única direção. Na verdade, todo mundo quer tirar o próprio da reta e ficar o mais distante dos holofotes pois sabe que tem o rabo preso.
Afinal, se fosse para 'moralizar' o Brasil, não deveríamos começar por baixo?
Mesmo que em Brasília, começar pelos presidentes da Câmara e do Senado que estão bem sujos?

Na verdade, todas as manobras de Cunha são exatamente o ponto mais sujo e nojento de toda a situação do Impeachment (sério, gente com faixas pró-nazismo e xingando quem quer que fosse por usar roupas vermelhas não chegam nem perto das tramoias do presidente da câmara).
O prazo entre fevereiro e junho quando começam as Olimpíadas será marcado pela novela do empurra a barriga. Vão jogar a batata quente de um lado pro outro (porque os problemas são muito maiores que a gente imagina) e tudo vai ficar no esquema de ganhar tempo.
Um ganha tempo daqui, outro ganha tempo dali, surge um novo escândalo que muda todo o panorama da coisa toda (esperem começar a investigar os bancos públicos... Eu mesmo sei de um monte de sujeira daquele banco bom para tolos, sem conhecer os rolos nas diretorias).

E olha que eu nem apontei um único dos argumentos que se justifica para o pedido de Impeachment...
Até porque é aquele terreno arenoso e conturbados (as pedaladas fiscais tiveram análises diferentes em alçadas e instâncias diferentes, ao que torna difícil julgar; a situação da Petrobrás, bem, é ingenuidade julgar que seja tudo culpa da Dilma quando o Paulo Francis morreu em 97 denunciando corrupção na estatal), e, muito mais um caso para ser analisado pelos órgãos competentes (Polícia Federal e Ministério Público) que para o mero escrutínio popular (até o momento, nenhum documento liga direta e inequivocamente [antes de comentar, favor reler e entender: DIRETA E INEQUIVOCAMENTE] a presidente como única e total responsável por qualquer ato que justifique seu Impeachment)...

Como tudo isso vai se desfraldar? Realmente difícil prever (como eu disse antes, 'caótico' É uma palavra que define tudo isso), mas com certeza, essa não foi a última vez que se falará do assunto (talvez aqui para a felicidade dos leitores).

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