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29 de novembro de 2015

{EDITORIAL} Em defesa de Jar Jar Binks

Se você acompanha esse blog já algum tempo, deve saber que eu não sou um fã de Star Wars. Nem de longe...
Na verdade verdadeira acho os primeiros filmes mais simpáticos que efetivamente um grande marco da história cinematográfica como se prega (vejo muito mais como grande marco do merchandising cinematográfico e a grande indústria de produtos licenciados).

Sei que sou um tanto chato com relação a isso, e sei também que parte da ausência de meu fascínio com a franquia resida no fato que eu não assisti esses filmes enquanto criança - ao contrário da grande parte do pessoal que gasta milhares para construir uma réplica de armadura de storm trooper ou até milhões para uma réplica da falcon... - e sei também que enquanto eu não vejo graça na franquia leio quadrinhos de super heróis, e, inclusive ainda hoje gosto das Tartarugas Ninja (assisto o mais recente desenho da Nickelodeon, e acho bem bonzinho, e olha que eu cresci conhecendo a versão mais pasteurizada dos personagens que surgiu para tv como uma ferramenta para vender bonecos de ação). Minha nostalgia não me impede de ver que boa parte das adaptações com os quelônios é horrorosa (nem o ridículo da própria ideia - tartarugas adolescentes mutantes ninjas com nomes de pintores da Renascença criados por um rato gigante).
Entendo plenamente qualquer crítica que possam (e façam) aos meus gostos pessoais e respeito a opinião de outros (mesmo que e se não concorde às - muitas - vezes), e por isso espero o mesmo com relação a minha opinião a Star Wars.

Muitos fãs tem um problema sério que os torna incapazes de enxergar de maneira objetiva, sem que a nuvem da nostalgia ofusque e blinde sua opinião sobre o material que realmente se observa e o que estamos projetando (através de boas lembranças, de histórias engraçadas e eventos correlatos gerados graças ao material em questão - e nem necessariamente o material, como conhecer e fazer uma grande amizade e/ou relacionamento amoroso graças ao filme, por exemplo).  Com isso se relevam defeitos, e, é até justo que a defeitos sejam relevados quando a diversão justifica.
Exemplos são bem fáceis de se demonstrar, inclusive - a patética briga entre Darth Vader e Obi Wan Kenobi no primeiro filme, que termina de maneira bem ridícula com a morte de Kenobi desaparecendo em seu roupão... Os soldados que são incapazes de acertar um único tiro em toda franquia (e forjaram todo um amontoado de clichês sobre capangas incompetentes). E eu não quero nem começar a falar sobre os malditos ursinhos de pelúcia (e preventivamente mando a merda quem quiser dizer que aquela batalha dos Ewoks contra o Império é uma representação da guerra do Vietnam - com um exército vastamente superior sendo surrado por um grupo com menor tecnologia mas maior determinação) do terceiro filme...

Quando décadas após o lançamento dos filmes originais as continuações foram lançados, já haviam gerações de fãs esperando recuperar aquele brilho da infância com algo tão grandioso que seria impossível de se obter. Principalmente quando foram traçados os planos para as prequelas.
Enquanto a história dos episódios IV a VI contam uma jornada heroica - que num gráfico de Vonnegut seria um crescendo - os episódios I a III trazem uma história trágica - no gráfico seria uma espiral até o fundo do poço. Isso é um fato importante que já caracteriza o destempero com as histórias mais recentes, afinal, tradicionalmente o público tem maior predileção por aventuras inócuas e jornadas heroicas - em que tudo acaba bem - algo que inclusive é fácil mostrar em números, como os livros mais vendidos ou os filmes campeões de bilheteria (é fácil notar, não por acaso que não são 'Persona', 'Rashomon', 'A invenção de Morel' ou 'Crime e Castigo' que figuram no topo destas listas).

Por uma série de motivos, os novos filmes não foram bem recebidos, sendo que vários são motivos bem válidos (a direção de Lucas É questionável, pra dizer o mínimo; Os atores principais estão em suas piores performances de suas carreiras - incluindo Liam Neeson e Samuel L Jackson - e, bem, a história pula o evento mais importante/relevante/interessante de todo esse período da história de Star Wars, que são as Guerras clônicas propriamente ditas - pularam para fazer uma animação/seriado narrando o evento). Mas, eu confesso que não tenho a mesma antipatia.
Vejo a motivação de contar a tragedia de Anakin Skywalker - sua ascensão, com a libertação de sua vida como escravo até o destaque em meio aos mais poderosos jedis e eventual derrocada em se tornar um dos mais notórios vilões de todos os tempos - e essa jornada em si é rica e interessante. Não foi conduzida da melhor maneira ao ponto que outros fariam bem melhor (algo nas linhas de Do Inferno de Alan Moore, com o tortuoso caminho de William Gull se tornando Jack, o Estripador).

De fato entendo que está longe de ser uma obra de arte (ao que os filmes clássicos também estão anos-luz do mesmo objetivo), e entendo também que são filmes altamente dispensáveis (qualquer pessoa que só assistir aos três primeiros entenderá tudo que precisa do universo de Guerras nas Estrelas - gente brigando com sabres de luz enquanto lasers disparam no espaço e fazem 'ptew, ptew'). Mas o preciosismo é bastante descabido quando Star Wars gerou um dos mais ridículos especiais natalinos de todos os tempos já em 1978, isso sem ignorar as pífias adaptações, como o jogo de 1991 para o NES pela JVC ou bem, vários dos itens comentadas nessa lista do Cracked nos livros, quadrinhos e outras adaptações...

Então tenho que admitir que me perturba um pouco quando tentam focar todos os defeitos, todos os problemas, tudo o que há de errado (não só com as continuações, mas com todo o universo de Star Wars) se resume ao irritante personagem 'Jar Jar Binks'.
Ele é um alívio cômico que não funciona direito, e é um personagem horroroso... Sim, mas quantos filmes não os tem? Que tal Argyle de Duro de Matar? Ou mesmo o personagem de Bill Murray na comédia Clube dos Pilantras...?
Binks é irritante e não funciona em 99% de seu tempo na tela, é verdade. Agora, fingir que é dele a responsabilidade pelo que há de errado e falho nestes filmes é uma visão limitada.

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