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2 de fevereiro de 2014

Descobrindo o homem por trás dos óculos

Era um dia como outro qualquer no meio da semana.
Terça ou quarta, e acordei levemente indisposto, motivo pelo qual não fui trabalhar.
Dormi um pouco mais para passar o mal estar, assisti algo estúpido na tv e, lá pelas duas da tarde foi quando finalmente bateu alguma fome. Optei por uma padaria não distante de casa - aproveitei a caminhada para abrir um pouco o apetite - pedi um pão-de-queijo e um cappuccino. Posso imaginar coisas, mas acredito que aquele pedido foram as primeiras palavras que disse naquele dia todo; pensando bem, é provável que não, afinal tivera de me justificar de minha ausência no trabalho; ainda assim, se tivera dito mais que um décimo de palavras até então, era muito.
O local é razoavelmente espaçoso, com algo entre doze e quinze mesas, duas portas de entrada - além de uma da cozinha, para os funcionários - e um bom número de janelas que mantém o lugar iluminado e fresco. Das mesas, algumas são mais baixas e mais espaçosas, outras mais estreitas e mais altas, com bancos no lugar de cadeiras, mas a ideia é a mesma. Em lados opostos - um próximo a entrada e outro próximo à cozinha - ficam dois balcões. O primeiro é o caixa, onde infestam-se os mais diversos tipos de avulsidades e produtos industrializados, enquanto o outro balcão é destinado para o atendimento dos pedidos dos clientes, expondo algumas das guloseimas previamente preparadas (como bolos e tortas), e onde preparavam bebidas quentes.
Sentei-me a uma das mesas baixas, próxima à janela lateral, introspectivo e observando a xícara como se procurasse o sentido do universo naquele amontoado de partículas de leite e café e espuma, ainda assim a cabeça pairava vazia, dando espaço para que os sentidos encontrassem algo de interessante.
Ouvia algumas histórias nada interessantes de mesas vizinhas, que não se importavam em relatar em alto som seus desatinos, como se existisse uma falsa ilusão de privacidade ao redor de cada mesa.
No caixa, as peças de dominó começam a sua dança.
Uma senhora de idade, tentava encontrar alguns centavos para facilitar o troco de sua conta, quando um meliante dela se aproxima, e velozmente saca uma nota de cinquenta da bolsa da senhora. Anda apressado e quase ninguém nota o ocorrido. Do lado de fora da padaria um homem vê o evento suspeito, e começa a gritar com o meliante, chamando a atenção de outros transeuntes, da senhora (que enfim nota o valor subtraído de sua bolsa), e de outros clientes da padaria, que inspirados pelo primeiro queixoso, saem e mobilizam-se contra o meliante, que acuado tenta argumentar não ter feito nada. Alguém chama a polícia, outro alguém imobiliza o rapaz, e um grupo menor saca seus telefones celulares, filmando ou tirando fotos da arruaça. Ainda imobilizado, o rapaz dá sinal de resistência, se debate e tenta escapar. Há certo bate-boca. Os carros diminuem a velocidade para sentir a aglomeração. A senhora discute com o rapaz - que nega ter feito qualquer coisa. Consegue se soltar, e tenta correr, só para se ver acuado pela multidão que parece clamar por seu sangue, e logo está sofrendo alguns golpes de um grupo de senhores, além de uma ou duas 'bolsadas' da senhora que fora furtada. Tenta correr, tropeça, e novamente é imobilizado. Dessa vez alguém o revista, e acha o dinheiro da senhora de idade. O rapaz protesta. Os espectadores continuam observando, filmando, fotografando. A polícia não tarda, e com sua partida a comoção se espalha.
Eu, no entanto, tomo meu cappuccino.

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