Por muito tempo existe a história de que, se tocar o disco do Pink Floyd, The Dark Side of the Moon (com repeat, uma vez que a duração do disco é beeem menor que do filme) a partir do terceiro rugido do leão da MGM do filme O Mágico de Oz, passa-se a ter uma toda nova trilha sonora para o filme.
Não se sabe exatamente a origem dessa história, que tipo de maluco ou alienado passou seus dias e horas à procura desse tipo de situação, mas a explicação para o fenômeno é bem menos fascinante que todas as teorias conspiratórias e absurdos que se supõe sobre o assunto, mas, não obstante, é muito mais intrigante.
Pois bem, a primeira coisa que é preciso entender, é que nosso cérebro, por mais complexa ferramenta que possa ser, é falível e muitas (e muitas) vezes sujeito a alguns 'glitches'. Como as ilusões de ótica na obra de M C Escher.
São efeitos de nossas dificuldades de assimilar a percepção de profundidade, e o motivo para eu ressaltar Escher é que estamos falando de imagens estáticas aqui.
Toda ilustração, quadro ou escultura cravada em madeira feita pelo holandês retrata um plano sólido, estático e que, no máximo, simula a noção de movimento.
O princípio básico do cinema, porém, é o de usar imagens estáticas que passam em uma sucessão rápida (24 quadros por segundo) o que cria a ilusão de movimento --> mas lembre-se, aquilo são apenas fotos contínuas e sucessivas vistas em seqüência.
E essa ilusão se reforça com uma segunda, a de que àquelas imagens contínuas e sucessivas existe áudio, mesmo que às vezes (ou muitas vezes) o som que se ouve não tem nada com o som da situação quando gravada (como os efeitos sonoros ou o efeito de narração com voice over).
Mas existe mais que isso (bem mais...), como o fato que a velocidade da luz é muito superior a velocidade do som - mesmo que seja o tempo necessário para a luz projetada e o áudio gerado pelo seu aparelho de tv - o que faz com que os equipamentos tenham de gravação precisem compensar esse fato para manter essa ilusão de sincronismo.
Além disso, teorias de alguns neurocientistas como Benjamin Libet (procure por "Subjective backward referral" ou "Antedating") apontam que existe um atraso de aproximadamente 80 milissegundos entre o que é real, e o que nossos cérebros processam (o que faz bastante sentido considerando-se que por menor que seja, existe um tempo entre a informação - obtida por nossos receptores e sentidos seja transmitida através do sistema nervoso até o cérebro e processada).
Tem só mais uma coisinha, da teoria sobre Sincronicidade de Carl Jung, em que ele descreve e argumenta como às vezes forçamos padrões e coincidências pela existência de um mesmo significado, enquanto, na direção contrária, o economista Clive Granger propõe a condição entre correlação e causalidade (também aplicada ao campo da neurociência).
Com tudo isso, façamos uma breve pausa pra um café pra digerir essas informações.
Sério, pare um pouquinho, tome um café e relaxe antes de continuar.
Eu espero.
Pronto?
Então vamos lá:
Pela teoria de Sincronicidade de Jung, quando o tema é correlato, nosso cérebro consegue forçar a conexão existente entre duas coincidências, ok?
E, de uma forma bastante abrangente, o Mágico de Oz é um filme sobre uma garota triste e deprimida que encontra um senhor no meio da estrada que lhe vende drogas e então ela fica alta como uma pipa e começa a ver o mundo em Techicolor, para passar por estágios diferentes de uma viagem de drogas (incluindo a bad trip), e, após algum tempo ela só quer mesmo que tudo acabe para poder voltar pra casa.
Semelhantemente, The Dark Side of the Moon trabalha com a abertura de horizontes, simbolizada pela imagem da capa - o raio de luz branca passando pelo 'diamante' de LSD e então se tornando algo colorido, transcrevendo em canções sobre loucura (Brain Damage) ou como temos uma diferente concepção de tempo (Time) e obviamente dinheiro (Money).
Não é?
Bem... Nem de longe.
Pra começo, The Dark Side of the Moon, se tivesse que ser rebatizado com qualquer outro título, teria de roubar o nome de um disco do meu power trio favorito, o álbum de 1978: Hemispheres (inclusive a capa).
ISSO é sobre o que o álbum do Pink Floyd retrata: Dualidade.
Nós e eles, Tempo e Dinheiro (que convenciona-se dizer que um seja o outro), Breathe e Speak to Me são frequentemente creditadas como uma única faixa, e cada um dos 'lados' termina com uma alusão aos céus (The Great Gig in the Sky e Eclipse), inclusive como uma referência ao lado escuro da Lua.
Inclusive, as 10 faixas do álbum se dividem igualitariamente pelo lado A e B. Nisso não esqueça da questão dos dois hemisférios cerebrais, e, não obstante todas as teorias que diziam pela divisão nítida de funções por estes hemisférios.
E essa dualidade, novamente se assemelha aquela do álbum do power trio canadense, uma vez que as faixas do Dark Side permeiam constantemente entre razão e emoção (inclusive apelando ao vocal de Clare Torry para esse fim).
Entre essas dualidades, entra o tema mais perene entre sanidade e loucura (mais detalhado pelas frases - e gargalhadas - sobrepostas aos instrumentos, como "I've always been mad, I know I've been mad, like the most of us are. It's very hard to explain why you're mad, even if you're not mad.", na primeira faixa, além de toda a faixa Brain Damage, que é especialmente dedicada ao antigo cantor do grupo, Syd Barret, que justamente teve um colapso nervoso e ficou por anos internado em um sanatório).
Entre essas dualidades, entra o tema mais perene entre sanidade e loucura (mais detalhado pelas frases - e gargalhadas - sobrepostas aos instrumentos, como "I've always been mad, I know I've been mad, like the most of us are. It's very hard to explain why you're mad, even if you're not mad.", na primeira faixa, além de toda a faixa Brain Damage, que é especialmente dedicada ao antigo cantor do grupo, Syd Barret, que justamente teve um colapso nervoso e ficou por anos internado em um sanatório).
O Mágico de Oz, por outro lado, trata de isolamento e depressão.
Dorothy é uma jovem solitária, que vive isolada em uma fazenda num cu de mundo sem qualquer pessoa de sua faixa etária, ao ponto que seu único amigo no mundo é um cachorro, e pior, terá que sacrificar esse melhor amigo porque ele atacou uma mulher amarga que mora nas redondezas.
Nisso foge, e... Bem, tome um belo fôlego e se prepare para algo que pode te chocar (e até acabar com sua memória de infância).
Pronto? Vou avisando que é meio pesado...
Não vá me culpar depois, hein?
Tem certeza?
Vamos lá, Dorothy foge e tenta o suicídio, fracassa - batendo a cabeça e passa por uma longa alucinação em uma terra mágica e bizarra com fadas, duendes e nada perturbadores anões que gostam de pirulitos... Uma terra fantástica e maravilhosa (e curiosamente familiar, já que encontra os rostos de funcionários da fazenda transpostos como o grupo de sua jornada por Oz). Claro que não é nada óbvio e claro, até porque estamos falando de um período da história em que, o mundo vinha caminhando de uma longa recessão - para entrar num grande conflito global. A menção ao suicídio é bastante velada, inclusive porque qualquer um que vê o filme consegue enxergar o potencial de fantasia para atrair um público infantil (com todo o colorido e as canções).
Até que ela acorda em sua própria cama, cercada de parentes e amigos e vendo que, de fato não estava assim tão sozinha.
Curiosamente, os temas de Alice no País das Maravilhas, permeiam muito mais dentro dos limites impostos pelo Dark Side of The Moon. O questionamento sobre a razão e a loucura... Mas não existe a sincronicidade jungiana aqui, existe?
Como explicar isso?
O tema em si não é correlato - a menos que numa extrapolação e de maneira beeeeem tangencial.
Inclusive, um bocado de situações se tangenciam (a noção das cores, a apresentação leve para temas complexos e pesados...), e é justamente toda essa tangencialidade que vai cruzando entre correlações e causalidades de forma que nosso cérebro estabelece - e força - as conexões necessárias para que exista uma sincronia.
Mesmo que não seja uma sincronia perfeita, ponto a ponto, nos vários pontos em que ocorre é possível estabelecer um padrão, e, aceitar que todas as coincidências, não sejam de fato apenas isso.
Nisso foge, e... Bem, tome um belo fôlego e se prepare para algo que pode te chocar (e até acabar com sua memória de infância).
Pronto? Vou avisando que é meio pesado...
Não vá me culpar depois, hein?
Tem certeza?
Vamos lá, Dorothy foge e tenta o suicídio, fracassa - batendo a cabeça e passa por uma longa alucinação em uma terra mágica e bizarra com fadas, duendes e nada perturbadores anões que gostam de pirulitos... Uma terra fantástica e maravilhosa (e curiosamente familiar, já que encontra os rostos de funcionários da fazenda transpostos como o grupo de sua jornada por Oz). Claro que não é nada óbvio e claro, até porque estamos falando de um período da história em que, o mundo vinha caminhando de uma longa recessão - para entrar num grande conflito global. A menção ao suicídio é bastante velada, inclusive porque qualquer um que vê o filme consegue enxergar o potencial de fantasia para atrair um público infantil (com todo o colorido e as canções).
Até que ela acorda em sua própria cama, cercada de parentes e amigos e vendo que, de fato não estava assim tão sozinha.
Curiosamente, os temas de Alice no País das Maravilhas, permeiam muito mais dentro dos limites impostos pelo Dark Side of The Moon. O questionamento sobre a razão e a loucura... Mas não existe a sincronicidade jungiana aqui, existe?
Como explicar isso?
O tema em si não é correlato - a menos que numa extrapolação e de maneira beeeeem tangencial.
Inclusive, um bocado de situações se tangenciam (a noção das cores, a apresentação leve para temas complexos e pesados...), e é justamente toda essa tangencialidade que vai cruzando entre correlações e causalidades de forma que nosso cérebro estabelece - e força - as conexões necessárias para que exista uma sincronia.
Mesmo que não seja uma sincronia perfeita, ponto a ponto, nos vários pontos em que ocorre é possível estabelecer um padrão, e, aceitar que todas as coincidências, não sejam de fato apenas isso.
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