Pesquisar este blog

18 de outubro de 2013

Grandes Clássicos dos Quadrinhos (independentes): Piratas do Tietê

No final da década de setenta, os quadrinhos americanos emularam os quadrinhos franceses e criaram a revista Heavy Metal - como uma variação da Métal Hurlant - com o propósito de oferecer espaço a produtores independentes e não convencionais para suas obras, com espaço para experimentações (e erotismo para ajudar a vender).
Basicamente é uma compilação, reunindo trabalhos de toda sorte de autor, com todo tipo de trabalho (histórias curtas, histórias mais longas, arcos completos e seriados, arcos fechados, textos...), reunindo gente como Moebius, Milo Manara, Alejandro Jodorowsky, Enki Bilal e mais uma leva de criadores talentosos.

Não para ali, inspirando na década de oitenta a Fierro argentina, e, no Brasil a fantástica Chiclete com Banana, reunindo Angeli, Glauco, Laerte na produção de uma revista independente que durou uns bons dez anos, e ao que reza a lenda, a primeira edição de Chiclete com Banana vendeu mais que a edição de Homem Aranha - publicada pela toda poderosa Abril - na época.

Do sucesso da Chiclete com Banana, surgiu a oportunidade do Laerte Coutinho criar uma revista própria para destilar toda a incrível gama de loucura que permeava em sua cabeça. Nascia assim a Piratas do Tietê.
Ao contrário de todos os exemplos citados até agora, Piratas era de produção do Laerte, única e exclusivamente, e a parte integrante da revista era anarquizar a cidade cortada pelo Tietê com todo tipo de assombração, monstro e simplesmente tipinho escroto que se possa imaginar.

E pra mim a grande sacada estava na altíssima octanagem que o brilhante cartunista conseguiu destilar em cada mínimo detalhe das edições... Fosse as capas (como você pode ver acima, da primeira edição), fosse nas tirinhas ou histórias curtas, fosse no desenvolvimento de histórias mais longas, aprimorando um storytelling que é raro de se ver (destaques para a brilhante "A quarta margem", também conhecida como "O Segredo do morcego" - por acaso, quer saber o segredo do morcego? - "O Lobisomem" e na brilhante participação de Fernando Pessoa - declamando poesia num barquinho no Tietê -, talvez a mais icônica história dos Piratas), mas com muito espaço para esquisitices e bizarrices como só o Laerte consegue fazer, ridicularizando a moral, os costumes e a situação da sociedade brasileira nesse período entre anos 80 e 90 (com transição entre a ditadura e a república, as instabilidades econômicas e financeiras e o Playcenter).

Eu ainda rio toda vez que me lembro do "Sindirata" (O Sindicato dos Piratas Bucaneiros Fibusteiros e Corsários em Geral da Região Metropolitana), e é justamente esse caos, essa cultura nonsense que faz sentido que permeia cada momento de uma das mais importantes revistas produzidas no Brasil.

Recentemente a Devir republicou pelo selo Jacaranda boa parte desse material em três volumes (bem caros se alguém me perguntar), com um belo acabamento de capa dura, ótima qualidade do papel e impressão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário