Se você não viveu os últimos anos numa caverna, obviamente já ouviu falar do grafiteiro/artista plástico/ criador de vinheta dos Simpsons, o britânico conhecido apenas como Banksy.
Sua arte é algo que é necessário ver para crer (e entender), e é muito difícil de se explicar. O tema mais próximo de comum é o desafio à convenções pré-estabelecidas (como 'o que você deveria esperar como arte'), mas muitas vezes questionando o papel e fundamento da arte como instituição (o filme abaixo 'Exit through the gift shop' é em resumo esse parágrafo).
Nesse mês de outubro, ele resolveu passar uma temporada em Nova Iorque, e realizou uma série de trabalhos (como esses no Trabalho Sujo), e destacado pelo brilhante Stephen Colbert sobre a valorização de paredes grafitadas por Banksy (inclusive NÃO pedindo que ele NÃO piche o prédio... Ah, assista o vídeo da Colbernation, é melhor), e numa das maiores sacadas da subversão de sua própria arte, colocou trabalhos que podem passar dos US$30.000,00, para serem vendidos em uma banca no central Park por US$60,00 a peça (e vendeu dois com 50% de desconto para uma senhora) - e documentando o decorrer do dia.
Com o perdão da visão de Scott Mcloud (Desvendando os Quadrinhos) sobre sua visão de arte, acredito que é justamente nesse desafio sobre os pilares, convenções e fundamentos sagrados do que é entretenimento e arte que temos a vista divisão entre meros produtores de conteúdo e os artistas propriamente ditos.
E é justamente engraçado como isso se justapõe à postura de grandes artistas brasileiros com seu 'Procure Saber' em uma postura incrivelmente fascista e censora impondo valores sobre a cultura (e jornalismo) se levando demasiado a sério com coisas que... Bem... Não deveriam receber esse tipo de tratamento.
Até porque, como todo desistente da faculdade de geografia (e história) sabe, é preciso conhecer o passado para entender o presente.
Isso funciona para tudo.
Quer entender Shakespeare? Saiba de sua biografia e do tempo em que vivia (para entender padrões como as críticas veladas - e nem tanto - ao modo de vida pré-Cristianismo, principalmente fora das fronteiras inglesas para expor a inferioridade de espírito dos conterrâneos europeus).
Então como alguém poderá explicar a Tropicália algumas gerações no futuro, sem relatar com verdade todas as orgias de drogas que foram necessárias para composições e ao questionamento sobre a ditadura militar... Ou mesmo omitindo outras quaisquer informações que os autores achem ofensivas e violação de seus direitos à privacidade?
Até porque, como todo desistente da faculdade de geografia (e história) sabe, é preciso conhecer o passado para entender o presente.
Isso funciona para tudo.
Quer entender Shakespeare? Saiba de sua biografia e do tempo em que vivia (para entender padrões como as críticas veladas - e nem tanto - ao modo de vida pré-Cristianismo, principalmente fora das fronteiras inglesas para expor a inferioridade de espírito dos conterrâneos europeus).
Então como alguém poderá explicar a Tropicália algumas gerações no futuro, sem relatar com verdade todas as orgias de drogas que foram necessárias para composições e ao questionamento sobre a ditadura militar... Ou mesmo omitindo outras quaisquer informações que os autores achem ofensivas e violação de seus direitos à privacidade?
Se o problema é privacidade, inclusive, o tal grupo não deveria brigar com a "Caras", "Quem" e todo tipo de produto baseado em fofoca e paparazzi ao invés de combater o jornalismo e o trabalho investigativo? Ou será que esses artistas (que incluem um ex-ministro e aquele a quem chamam rei) estão tão precisados de dinheiro que querem uma fatia das vendas de suas biografias?
É meio triste, não é?
Como aquele papo do careta baterista do Metallica sobre o Napster e proliferação da música na internet (brilhantemente sacaneado pela trupe do South Park no episódio Christian Rock Hard) que levanta toda sorte de pergunta sobre esse tipo de postura e comportamento...
Quer dizer, vejam o caso de tantos artistas que viveram e morreram na merda (Van Gogh, Dostoievski, Edgar Allan Poe, William Shakespeare, Kafka - cuja publicação de seus escritos foi toda póstuma), e como saberíamos de suas agruras sem biografias, e mais que isso, sem biografias realizadas de forma imparcial (a ponto de descrever o problema de Poe com o alcoolismo ou os casos extra-conjugais de Shakespeare), e mesmo no caso de autores maduros o suficiente para retratarem de suas autobiografias de maneira brutal e honesta (lembram de "Maus"?), ainda é importante oferecer uma oportunidade a quem quer que seja (e se interesse) para escrever sobre uma figura pública (ou não) que seja.
Não é apenas liberdade de expressão, é a documentação histórica.
E se não mantivermos, é a biblioteca de Alexandria...
Como bônus, na íntegra o filme do britânico "Exit through the gift shop" (algo como "Saída pela loja de presentes"), que tem uma história muito engraçada atrelada a ele: Antes da exibição do filme, eram distribuídas peças 'artísticas' produzidas pelo MBW (o assunto do 'documentário') para os espectadores - que, depois de assistir o filme, entendiam o significado e valor dessas peças, entulhando as latas de lixo dos cinemas onde essa ação foi realizada.
"À noite, as ruas são nossas..."
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