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11 de setembro de 2013

Ato 2 - A crise de identidade (parte 6)


_ Você quer um conselho? Bem, eu posso sugerir muitas coisas, e quem não pode? Todo mundo se julga especialista na vida dos outros, pois afinal é mais fácil dirigir outrem que arriscar o próprio pescoço. Mas eu sempre julguei prudente analisar o mundo a partir de comparações de fácil entendimento ou, no caso, de mais fácil entendimento – diz um calmo e ponderado Dr. Borges, com um copo de chá quente em suas mãos.
_ O ser humano é um dos poucos animais coletivos que funciona pior coletivamente que individualmente. Sozinhos somos mais espertos, mais hábeis, mais capazes até. Em grupo cometemos atos estúpidos para sermos aceitos, como julgar e pré-julgar outros, e, na grande maioria criamos fogueiras grandes demais para os pecados que queremos expurgar. É o contrário das formigas, abelhas e tantos animais aos quais consideramos de casta inferior e menos sofisticados, seja biologicamente, seja evolutivamente... Estes, em quantos maiores seus números, mais coisas serão capazes de fazer.
Relacionamentos são complicados, afinal, cada ser humano em si é complicado sozinho, e juntos, essas complicações se multiplicam, se combinam e, muitas delas pioram. Afinal, diz-se que nenhum homem é uma ilha, mas eu penso o exato oposto. Todo homem é uma ilha, isolado, e, num máximo próximo o suficiente para formar um arquipélago. E nada mais. Sempre haverá espaço suficiente entre cada pessoa para separar ilha de ilha.
Os relacionamentos são as pontes que ligam estes pedaços de terra, e às vezes algumas pontes são mais frágeis do que outras.
Agora, como reparar uma ponte que ruiu? Como impedir que uma delas caia ou construir uma nova?
Não sou nenhum engenheiro ou alguém capaz de entender como pontes se formam, funcionam ou se moldam. Se minha vida dependesse de apontar uma fórmula para isso, bem... Estaria com os dias contados. Pulemos esses detalhes, e partamos um passo mais perto das respostas. São questões de múltiplas respostas, e todas elas dependem da vontade das pessoas envolvidas mais que qualquer outra coisa. Você precisa de um pouco de paciência, vontade e franqueza.
E pelo que me disse, de um lugar para ficar até ela esfriar a cabeça. Eu posso te indicar uns lugares... A faculdade sempre indica alguns apartamentos para professores ou alunos que precisem de lugares por aqui, e eles são bem acessíveis, normalmente já mobiliados... O que quer dizer que são sujos e mal conservados – ele ri, nervosamente, e eu fico ainda mais preocupado com minha situação.
_ Agradeço sua preocupação, doutor. Gostaria que isso resolvesse meus problemas, mas...
_ Mas você os criou, e ninguém mais, não é mesmo? Sua garota tem toda a razão para estar nervosa. Diga o que quiser, faça o que fizer. Ela precisa de um pouco de tempo para repensar porque ainda deve continuar nessa, e você precisa usar esse tempo para convencê-la disso.
Ou pelo menos parar de fazer idiotices.
Um dos dois, com toda a certeza, já será suficiente.
Mesmo usando palavras um pouco mais ásperas, o tom é o mesmo calmo e contemplativo. Ele bebe um gole do chá, e continua com aquela expressão de quem parece não ter problema algum no mundo, sequer um passado ou vida além daqueles livros e teses e ensinamentos.
Invejo um pouco mais esse homem a cada minuto que passo em sua companhia.
E aceito seguir seus conselhos.
Primeiro passo, me assentar no pulgueiro que ele chama de apartamento oferecido pela universidade.
Segundo passo, agir como, e quem sabe até me tornar um homem melhor.
Terceiro passo, reconquistar minha mulher.
E rezar, antes e entre cada um deles para não tropeçar.
***
O apartamento novo é horrível. Pequeno, apertado, com uma colônia de férias para fungos na cozinha e um banheiro bastante nojento (tanto que tenho de tomar banho de chinelos). O quarto tem um cheiro estranho, que realmente não consigo decifrar, e, à noite quando as luzes se apagam, um constante gotejamento se faz notar na sala, já começando a formar algumas pequenas estalagmites em meu teto. Lembro uma vez mais dos tempos da faculdade, mas desta vez não vejo nada de animador... Mesmo porque meu apartamento daquela época ainda era melhor que isso.
De tudo isso, só tenho o alívio de que, só terei de pagar alguma mensalidade se estiver aqui ainda em janeiro. O apartamento estava disponível já há algum tempo, e, minha estada aqui facilita ou compõem parte dos regimentos internos da faculdade, de acordo com uma ajuda do doutor Borges, que me registrou como docente substituto. O que não é de todo mentira, afinal, ele conseguiu uma vaga para mim, prestando uma espécie de monitoria aos alunos com dúvidas e oferecendo algum eventual curso. Paga pouco, mas constitui créditos importantes para um eventual mestrado, e me deixa menos tempo sozinho com meus pensamentos, e mais tempo me dedicando a ser uma pessoa melhor.
E isso ajuda bastante.
As freqüentes conversas com Borges, a presença sempre de gente em minha sala ou solicitando minha presença em algum lugar do campus, acaba me desviando de meus problemas, e consigo me sentir melhor, mais confiante.
Realmente me sinto bem fazendo isso. Sinto que estou fazendo algo importante, que as pessoas se beneficiam de minha experiência para algo positivo. Algo produtivo.
Sinto que estou fazendo algo de bom para as futuras gerações, e, mesmo que o cansaço de manter dois turnos seja grande, ainda assim vale muito a pena. Consigo não pensar em Marina tanto, e em minha própria estupidez.
Quando penso nela durante o dia, sempre que posso sigo o conselho do doutor e envio alguns mimos, diversos pedidos de desculpas e fico no aguardo de uma resposta por parte dela.
Fico esperando que ela ligue de volta, ou simplesmente atenda ao telefone, mas não acontece.
Passam dias... Algumas semanas até que eu receba a primeira notícia dela. Ela atende, e, brevemente me diz que não está a fim de ouvir de mim ainda. Quer esfriar a cabeça, quer apaziguar os ânimos ainda, e precisa ficar um pouco sozinha. Mas agradece meus intentos para reatarmos... Só espera que não seja tarde demais. E eu também.
Os dias são longos e cheios de coisas acontecendo, poucas acabam ficando em minha memória.
***
_ Doutor, porque fazemos certas coisas?
_ Questionando o sentido do destino, meu caro Milton? Alguns homens perderam fortunas e boa parte de suas vidas buscando respostas, enquanto outros perderam a sanidade. É um caminho longo e tortuoso, e nem sempre um que valha a pena trilhar.
_ Talvez apenas filosofando um pouco, não sei bem. Faz algum tempo que venho me perguntando o que estou fazendo com minha vida... Porque segui esse caminho e não outro... Porque escolhi a faculdade que escolhi, e ignorei seu caminho para conseguir um emprego... Porque Marina me escolheu... Porque eu continuo a ter medo e fazer coisas estúpidas...
Há um breve silêncio, até que a conversa seja retomada, com tom interrogativo.
_ Conheces Richard Parker?
_ O Homem Aranha?
_ Creio que este seja Peter, meu caro. Richard é uma figura um tanto mais peculiar e curiosa. Ele figura em um sinistro conto de Edgar Allan Poe sobre um navio que fica à deriva, e, seus passageiros tem as mais diversas atribulações, chegando ao ponto de, bem, recorrer ao canibalismo para sobreviver.
Quase sessenta anos mais tarde da história ser escrita, um navio desapareceu, tendo em seu rol de marinheiros um jovem inglês batizado “Richard Parker”. O nome rendeu pelo menos mais três casos semelhantes. O já falecido Poe havia previsto tamanha tragédia? Ou como parece mais provável uma singela coincidência bizarra que nosso cérebro busca por padrões lógicos na compreensão do ilógico? Tentamos explicar o caos e o acaso a partir de teoremas e regulações. Sincronismo ou coincidência? Destino? Predestinação? Bem, que diferença faz?
Existem mistérios demais para nossa compreensão e percepção, e às vezes o melhor a fazer é deixar que as perguntas sejam suas próprias respostas, ou sequer se importar com as mesmas.
***
O trabalho não melhora.
As semanas que seguem são corridas, com cada vez mais demissões e, um alarmante número de afastamentos ocasionados por estresse e até alguns suicídios de funcionários ou ex-funcionários (recém demitidos, diga-se de passagem). Numa quinta-feira pela manhã recebo a notícia de que sete ex-colegas, de cidades diferentes – e até estados - coincidentemente nos deixaram.
Nunca fui muito de pensar sobre suicídio, e, agradeço minha rotina e vida bastante por isso, mas recentemente confesso que pensamentos recorrentes sobre o assunto cobrem minha mente. O fim para o sofrimento.
Puro e completo egoísmo, me diz Virgílio, me olhando inquisidor, dizendo que eu não sou o centro do universo, e que é vergonhoso querer desistir só porque as coisas ficaram difíceis. Que eu não faço idéia do que realmente significa a palavra difícil.
Mesmo assim, o pensamento me atormenta, me persegue como uma assombração, e acaba surgindo em momentos tenebrosos, quando estou sozinho em meu horrível apartamento encarando um prato de alguma gororoba nojenta que preparei e, se não em companhia do mais completo silêncio contemplativo, ouvindo cada e todo barulho que se passa com meu vizinho de parede, ou de andar. Seja um deles fazendo sexo ruidoso e burocrático, ou seja outro (ou o mesmo) usando a descarga de seu vaso sanitário, continuas e repetidas vezes... Ou mesmo durante meus almoços solitários durante o expediente, também contemplando algum grude asqueroso, e sozinho em uma tentativa de cozinha no prédio em um andar vazio e quase abandonado devido ao desmanche dos departamentos e setores, ouvindo o barulho de máquinas de escrever ao longe, que parecem destacar ainda mais o sentimento de assombração que me acomete.
Tenho medo.
Mais que quando Marina esteve mal, que eu pensei que pudesse perdê-la, eu temo que agora serei incapaz de me encontrar. Temo ficar sozinho, perdendo mais e mais sonhos, preso mais e mais em algo que, desde o começo não quis fazer parte.
A mudança parece piorar essa situação.
Sei que já faz algum tempo que estou no apartamento, mas não me acostumei com a idéia, e muita coisa eu nem tirei das caixas. Muita coisa eu nem peguei do apartamento velho... Marina mesmo disse que isso é temporário – apesar de não significar que voltaríamos a morar sob o mesmo teto. Só que existem algumas coisas que me fizeram desenterrar o passado, e, provocam sentimentos adormecidos, e alguns mortos.
Numa noite em particular que não tinha serviço qualquer na universidade, começo a revirar as caixas de recordação, e encontro muita coisa de meu tempo de colégio... De meu tempo de faculdade. E de, alguns anos depois o começo de namoro com Marina.
Vejo tantas fotos quanto sou capaz de ver, e, algumas faço questão de ver novamente, ou separar para manter mais perto de mim, de minha rotina. Não são tantas fotos que estão comigo, afinal ainda não trouxe todas minhas coisas, e honestamente espero nem precisar. Vejo meu pai, jovem com um bigode robusto, me carregando quando ainda era criança. Minha mãe também está ali, com uma expressão feliz, que há muito tempo não vejo em seu rosto, e, que também nada fiz para facilitar isso, bem o contrário. Ela segura meu irmão, um pouco maior que eu, uma vez que também um pouco mais velho. Mal lembro quando vi essa foto pela última vez, ou mesmo que a tinha.
Alguns amigos que partiram desse mundo, ou que simplesmente partiram para outros países ou cidades mais distantes. Tem uma foto que me chama muita atenção... É a primeira que tirei ao lado de Marina. Havia um brilho em seu olhar, seus cabelos longos e soltos como há um bom tempo ela não usa mais. Eu, com uma camisa... Bem, é a mesma que eu estava usando ontem. Cinco anos e ainda tenho a mesma camisa. Meu cabelo também está diferente, um pouco mais ralo, bem mais curto, sem franja ou topete, e a barba por fazer, que na época eu tentava transformar em um cavanhaque ou algo, e hoje é só por preguiça mesmo.
Bate uma saudade desse ‘não-tão-velho-eu’...
Fico por mais um tempo vendo e revendo as fotos, com calma, vagarosamente, quando toca meu telefone. Penso um minuto antes de atender, e, vendo que não conheço o número, resolvo simplesmente não fazê-lo.
Quando começa a chamar novamente, mudo de idéia. Pode ser importante, afinal.
_ Milton? Milton, sou eu Virgílio! Precisava falar com você, meu amigo!
_ Virgílio?
_ Eu mesmo... Eu... Estou envergonhadíssimo de nossa última conversa, e, só agora consegui criar coragem pra te ligar e pedir desculpas... Não conseguiria esperar mais, e, depois que liguei em sua casa e vi que você não estava lá, resolvi tentar o celular e...
Fico em silêncio por um instante, pensando se ele já descobriu sobre minha condição, sobre minha briga com Marina... Penso que a recíproca só confirma minhas suspeitas.
_ Milton... Eu precisava falar com alguém, e... Estive mal, mal demais. Acho que se havia um fundo de poço, eu cheguei lá com uma pá, e aumentei o buraco. Quando surtei com você só pensei no quanto queria enfiar minha cabeça num buraco e me esconder por lá... Acho que agora estou um pouco melhor, o tratamento parece me ajudar bastante. Sinto menos ansiedade, e minha angústia minha depressão também não mais me acompanham...
Pela primeira vez em muito tempo conversamos. Quer dizer, eu ouço bastante. Ouço cada e toda palavra que ele tinha que dizer, sobre sua condição, sobre o que o levou pra clínica de reabilitação. Sua quase overdose meses atrás, sua depressão, como estava alienado e confuso com o mundo. Solitário, atolado em serviço pra pesquisa... Sobre como ficou uma semana inteira sem ver a luz do sol, lendo e revisando livro atrás de livro para adiantar algumas páginas de seu trabalho. Parte do que estou ouvindo agora a enfermeira da clínica já havia mencionado para mim. É triste. Me faz pensar.
_ Eu não sei... É confuso... Eu me sentia sozinho... Tão sozinho que dói... Não sei se você já se sentiu assim.
Olho ao meu redor, para caixas, coisas empacotadas, um espaço amplo sem móveis, e com todo aquele espaço e com aquelas paredes sujas... Uma lágrima me escorre, enquanto faço isso, e fecho os olhos pesadamente.
_ Agora há de melhorar, meu amigo...
Desligamos o telefone, e passo a noite em claro, olhando para Marina, pensando o quanto eu quero, o quanto preciso dela, para não sentir mais essa dor, esse vazio.
***
Fausto está cansado. Faz tempo que ele está lutando com um leão por dia para manter algum ou alguns empregos para alguns de nós. Creio que ele conseguiu salvar muitos, e com seu empenho, salvou a si mesmo, com mesmas condições, porém um leve rebaixamento, para analista jurídico no processo de incorporações, devido a forma como lidou brilhantemente com o Cosette. Será efetivado no cargo a partir de março, quando nada além do Swann existirá. Sei que sua chegada em minha sala é para falar sobre meu cargo, seja para me manter, para me oferecer alguma condição para ficar, ou para anunciar meu fim. É o que ele anda fazendo por aqui ultimamente, e, nosso histórico aponta que ele viria pessoalmente falar comigo.
_ Olha, eu sei que não é muito, e que as coisas andam difíceis, mas eu consegui mover uns pauzinhos e, enquanto eu estiver como presidente interino, tenho alguns poderes e garantias adicionais por aqui. Por exemplo, eu consegui reverter a demissão de um bocado de gente, e consigo garantir que muitas pessoas não saiam também.
E eu quero você aqui, conosco, Milton, na minha equipe.
Fico em silêncio por um tempo. Ele me pergunta se está tudo bem, se eu ouvi bem o que ele veio para dizer. Digo que sim, e, sigo eventualmente com minha resposta.
_ Agradeço o esforço, Fausto, e não quero parecer ingrato ou coisa do tipo... É que...
_ Todo mundo odeia ‘É que...’, Milton. E todo mundo sabe o que isso quer dizer. Você quer sair, então?
Fico um tanto constrangido, como já estava. Meço com todo o cuidado as próximas palavras, e resolvo que é hora de seguir um conselho de alguns dias atrás, que ofereci para Fausto.
_ Sim. Eu quero sair, e acho que é o momento.
Você me conhece há bastante tempo, sabe muito sobre minhas condições, sobre minha formação acadêmica e tudo o que fiz de cursos e desenvolvimento para minha vida...  Dos projetos que tentei seguir, das empresas que planejei montar. Todos os meus fracassos, entre um copo e outro eu te contei. E foram muitos. Fiquei muitos destes anos porque precisei, porque o dinheiro nunca foi ruim, e sempre me valeu bem... E nenhum projeto vingou. Nada deu certo o suficiente.
As dívidas com o hospital de Marina só consegui pagar graças a essa promoção que recebi graças a seu esforço de me trazer pra cá, e faço questão de enfatizar isso, pra dizer que não sou mal agradecido.
_ É a hora de sair do casulo...? Quem sou eu para discutir a busca por condições melhores, ou que valham mais a pena?
Não posso dizer que isso me agrada, que fico contente de ouvir o que você acabou de me dizer, mas você está certo... Tem de seguir seu caminho... – ele está agora mais tenso, escondendo seus sentimentos. Obviamente está chateado. Sentindo-se até traído, eu diria.
Sem pestanejar, continuo com meus argumentos, mesmo que pareçam não mais necessários.
_ Muito do que passei nos últimos meses, muitas das inquietações, das dúvidas, dos transtornos e desentendimentos... Muito se deve a minhas dúvidas sobre o que estou fazendo e o que isso significa para mim. Invariavelmente vi respostas que não me agradam.
Invariavelmente vejo um homem no espelho que não me agrada.
Este não é o homem que eu sonhei em me tornar, Fausto, e hoje o banco... A vida me oferece uma chance de começar de novo, e eu preciso aceitar, meu amigo.
Pode ser a maior burrice que eu faça. Pode ser que eu vá ganhar um bocado menos, pode ser que eu nem consiga quitar todas minhas dívidas sem um novo empréstimo ou refazendo meus empréstimos... Não importa muito.
_ Certo... Certo... – diz ele pensativo, coçando a cabeça com a mão direita, olhando para o chão, tentando ocultar o desapontamento e o cansaço.
Assino sua demissão com uma única condição.
_ Claro, me diga.
_ Quero que me ajude, estabelecer planos e condições para melhorar a futura gestão, nesse fim de transição... Nesse novo início... – seus olhos emanam um fogo, uma paixão pela empresa, que, eu realmente precisaria de mais dez vidas para ser capaz de entender. Ele saiu e voltou, vendeu uma leva de diretores e pessoas para manter seu cargo (sim, eu disse antes que ele labutou para manter muita gente, da mesma forma que se esforçou para condenar e afastar um outro tanto, principalmente de pessoas incompetentes, com altos salários, é verdade, mas um eventual ou outro desafeto, sem motivo maior que isso), e ainda assim, ele quer o melhor da empresa. Desenvolvimento, progresso, sucesso. Algumas vezes chego a pensar que sou incapaz de entender as outras pessoas, e talvez essa seja a raiz de todos os meus problemas. – Hoje – ele continua, ainda empolgado – com o acesso irrestrito e meios diversos e capazes de propagar os ideais e vontades de todos... Hoje, mais que em qualquer tempo da história, em que o papel aceita tudo, mas não só o papel é meio para comunicação escrita, e, a comunicação visual se faz tão simples e aceita quanto qualquer outra opção. Não são só os vencedores capazes de contar suas versões da verdade e da história, apesar de ainda serem eles somente capazes de moldar o destino, mas todo e cada um pode espalhar seus contos e epopéias. Espaço para tal existe, e, mesmo que seja algo chato, patético e, bem, sem nenhum propósito, motivo ou mesmo capacidade para mudar o mundo ou a sua forma de vê-lo como, tantos alienados sem talento foram capaz de mostrar, e isso está em todo lugar, com todas essas pessoas vazias que lançam produtos com sua marca, tudo que se precisa é um pouco de vontade... E, talvez um pouco de marketing. Mas vontade principalmente.
Você está me entendendo?
(Confesso que não segui toda a linha de raciocínio, e minha cara de ponto de interrogação deixou isso bastante evidente).
_ Quero que você use seu talento e idéias para me apresentar, ao menos um escopo disso, antes de você partir, o que ainda insisto que é uma pena.
Estes são meus termos, para que saia daqui, pela porta da frente, e, com uma passagem de volta caso precise descontá-la se um dia precisar.
Sei que não é demais, sei que você já deve ter dezenas de idéias e projetos engavetados por aí que atendam ao que estou pedindo. E é por isso, principalmente que peço.
Sorrio, e me levanto de minha mesa, andando alguns passos em sua direção, contente afinal, aperto suas mãos vigorosamente.
_ Como posso dizer não, meu amigo?

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