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10 de julho de 2013

Ato 1 - A vida, o universo e tudo mais (parte 3)


Todas as peças estão espalhadas por uma mesa enorme. E são peças diversas... De vários tamanhos, de vários formatos... É um quebra-cabeças enorme, e talvez um dos mais difíceis que eu já vi, com toda a certeza. Peças circulares, peças amórficas... É um pesadelo escheriano... Pensando bem, talvez nem mesmo ele seria incapaz de conceber. Mesmo com o encaixe tão perfeito que estas peças disformes e confusas vão fazendo conforme vou juntando e unindo uma a outra. E tudo vai fazendo sentido... Tudo vai ficando mais claro.
A imagem remete a uma foto familiar, e, apesar de levar um bom tempo para conseguir visualizar uma imagem nítida, o desafio acaba ficando um tanto mais fácil conforme prossigo. As pessoas são familiares... Bastante familiares. São minha família. Minha noiva. Meus amigos mais próximos. Todos eles ali, do centro com minha mãe e irmão, expandindo a esposa dele e minha noiva, e nas extremidades os poucos amigos que ainda possuo. Eu não estou ali.
As peças vão diminuindo. Falta cada vez menos espaço para preencher, e eu continuo não estando ali.
Isso vai até a última peça, que sou eu... É minha foto, minha imagem. Mas ela não se encaixa no quadro, em lugar algum. Ela não cabe ali... Simplesmente destoa de todo o resto, e não pertence ali.
E as peças então começam a desmoronar, e escorrer da mesa, como areia. Só sobra minha foto, minha pequena peça que eu seguro, agarro agora mais firme, torcendo que o mesmo não aconteça. E quando fecho os olhos, segurando apertado o pequeno pedaço do quebra-cabeças que traz minha imagem, ouço barulhos e ruídos que, ao abri-los percebo que mais uma noite se passou, e a luz do sol corta pela janela, suavemente, enquanto eu agarro firme parte de meu travesseiro, como se fosse a peça de meu quebra-cabeças.

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