Todas as peças
estão espalhadas por uma mesa enorme. E são peças diversas... De vários
tamanhos, de vários formatos... É um quebra-cabeças enorme, e talvez um dos
mais difíceis que eu já vi, com toda a certeza. Peças circulares, peças
amórficas... É um pesadelo escheriano... Pensando bem, talvez nem mesmo ele
seria incapaz de conceber. Mesmo com o encaixe tão perfeito que estas peças
disformes e confusas vão fazendo conforme vou juntando e unindo uma a outra. E
tudo vai fazendo sentido... Tudo vai ficando mais claro.
A imagem remete
a uma foto familiar, e, apesar de levar um bom tempo para conseguir visualizar
uma imagem nítida, o desafio acaba ficando um tanto mais fácil conforme
prossigo. As pessoas são familiares... Bastante familiares. São minha família.
Minha noiva. Meus amigos mais próximos. Todos eles ali, do centro com minha mãe
e irmão, expandindo a esposa dele e minha noiva, e nas extremidades os poucos
amigos que ainda possuo. Eu não estou ali.
As peças vão
diminuindo. Falta cada vez menos espaço para preencher, e eu continuo não estando
ali.
Isso vai até a
última peça, que sou eu... É minha foto, minha imagem. Mas ela não se encaixa
no quadro, em lugar algum. Ela não cabe ali... Simplesmente destoa de todo o
resto, e não pertence ali.
E as peças então começam a desmoronar, e
escorrer da mesa, como areia. Só sobra minha foto, minha pequena peça que eu
seguro, agarro agora mais firme, torcendo que o mesmo não aconteça. E quando
fecho os olhos, segurando apertado o pequeno pedaço do quebra-cabeças que traz
minha imagem, ouço barulhos e ruídos que, ao abri-los percebo que mais uma
noite se passou, e a luz do sol corta pela janela, suavemente, enquanto eu
agarro firme parte de meu travesseiro, como se fosse a peça de meu
quebra-cabeças.
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