Há algo sobre essa música que sempre me faz pensar... Muitas vezes sobre sincronicidade (como quando eu pousava em Brasília e esta música surgia no modo de reprodução aleatória de meu tocador de mp3), mas principalmente sobre o que Dylan quis dizer, e o que ele significa para a música.
Existe algo fascinante neste trabalho de Dylan.
Quer dizer, todo o trabalho dele merece uma conferida, mas All Along The Watchtower é aquela faixa isolada que chama a atenção mesmo de quem possa ter o mau gosto de achar a voz de Dylan estridente demais ou um excesso no tom das gaitas e outros instrumentos. Até porque é um trabalho que ganhou dimensões próprias e cresceu e se reproduziu como bem entendeu, quando (o inspirado) Hendrix abriu a caixa de pandora e fez as notas soarem como se toda a música do universo devesse ser condensada em uma única faixa de quase quatro minutos.
E aí foi o pontapé para todo pretenso músico se colocar a regravar, adicionar acordes, mudar o tom, buscar uma nova forma de expressar o que quer que Dylan buscara com a reunião na torre de vígila... Até porque como nunca, Dylan é acessível e coeso. Highway 61 revisited, Blonde on Blonde, Infidels e Blood on the tracks são albuns muito mais densos e complexos, com letras difíceis, e que muitas vezes parecem desconexas e pouco coesas (como a poesia de Jokerman), com arranjos cada vez mais sofisticados e canções em que ele trata de buscar uma complexidade - dentre músicas de protesto e canções existenciais. Mesmo nas tramas do álbum com a canção, o John Wesley Harding de 1968, cujas outras 11 canções não trazem o mesmo tom facilmente identificável.
"Prepare a mesa, faze a vigília, coma, beba: levante-se príncipe e prepare o escudo/
Porque aquele que é Senhor disse para mim: Vá buscar um vigilante, peça-o para declarar o que viste/
E ele viu uma carruagem com um grupo de cavaleiros, uma carruagem de asnos, e uma carruagem de camelos; e ele obedeceu diligentemente com muita consideração/
...E, observe, eis que surge a carroça de homens, com um grupo de cavaleiros. E ele respondeu e disse, a Babilônia tombou, e todas aquelas graves imagens de seus deuses que hão caído ao chão"
,o que em si já faz um tema mais abrangente (a Bíblia é um livro encontrado em qualquer canto do mundo, e que tem o propósito de ser temática comum a qualquer ser humano - mesmo que muita gente não entenda de que diabos ela está falando) é a canção que logo chama a atenção para um tom mais roqueiro do cantor que até então era tradicionalmente folk.
É o ponto de ruptura, onde ele parte a buscar algo além, algo que mescle poesia e literatura tradicional a seu próprio riscado, pouco após o ponto em que ele decidira buscar uma guitarra elétrica - causando reações adversas de sua platéia. Ao que pergunto: Como mais uma única canção poderia ser tão grandiosa?
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