"O inverno chega em Manhattan como um parente indesejável. Chega sem avisar e sem dar sinais que vá embora". É com essas linhas que vemos o início de A queda de Murdock, saga que merece grande destaque e um pouco de análise.
Essa é a primeira série de quadrinhos de super herói que eu sempre menciono, mas sem dúvida é algo palpável ao ver a arte de David Mazzuchelli (Asterios Polyp - ganhador dos prêmios Harvey e Eisner de 2010) e o roteiro impecável de Frank Miller - quando este ainda sabia escrever, principalmente evidenciada na saga 'A Queda de Murdock' (no original "Born Again", que faz mais sentido ao apelar pela questão religiosa, principalmente dos anos 80, do 'cristão renascido', brincando com o passado católico do personagem e o contexto de cada capítulo que segue - Apocalipse, Purgatório, Pária, Nascido de novo, Salvo, Deus e a pátria e Armaggedom).
Publicada inicialmente na série mensal Daredevil 227 a 233, a saga servia para caracterizar duas coisas espetaculares: O aniversário de 25 anos do personagem e o retorno de Miller - o maior nome na história do personagem - depois de sua fase a frente do título (Daredevil 158 como artista, 168 como artista E roteirista e até a edição 191), e promover uma mudança no status quo.
No caso, uma tremenda mudança no status quo - a eterna namorada (a ex-secretária, boa moça e dedicada Karen Page), agora lidando com um sério problema de dependência química de entorpecentes (ao ponto de se prostituir por uma próxima dose), acaba vendendo a identidade do antigo namorado para seu maior inimigo.
E esse é apenas o estopim para justificar o começo da ação que se desenrola, que combina perfeitamente com o título em português, que carrega a queda do personagem após perder tudo (a identidade, o escritório onde trabalha como advogado, os recursos), e chegar ao fundo do poço morando como indigente, completamente perdido e indefeso - algo particularmente nada comum no universo de personagens super-poderosos que acham por melhor estratégia de combater o crime a de acertar-lhe um belo soco nas fuças.
Isso é um dos grandes pontos que diferenciam o personagem dos demais, e é o que motiva a criação de tantas e demais fases memoráveis.
Ao que falar somente desta saga seria um tremendo desrespeito a toda a dimensão de trabalhos brilhantes realizados com o personagem
Na verdade ele foi uma grande fábrica de novos nomes e talentos pros quadrinhos. Devido a sua boa popularidade e baixo grau de comprometimento (não era um estandarte da companhia como Capitão América e Homem Aranha, por exemplo), o laboratório estava escancarado para qualquer experimentação possível... E muitos dos resultados foram positivissimos, como a estréia de Kevin Smith (diretor de "O Balconista" e "Dogma", entre outros filmes), o dilema espiritual através das histórias de Ann Nocenti e John Romita Jr - que colocam o Demolidor em conflito com o próprio demônio, assim como a brilhante fase de Brian Michael Bendis e Alex Maleev - seguida por Ed Brubaker e Michael Lark...
E agora Mark Waid traz o personagem de novo, depois de um tempo difícil (que eu confesso que passei longe, ao saber apenas que ele acaba louco e maníaco liderando um grupo de assassinos - inclusive ordenando o assassinato de seu inimigo, o Mercenário, mas juro que é tudo que eu sei da fase de Andy Diggle), completamente recria a imagem do personagem com um tom muito mais ameno (que puxa até pela arte mais colorida de Paolo Rivera, Cris Samnee e cia), falando mais de aventura e ação que um estilo semi-noir, e crime do volume anterior, mas não menos contundente.
Waid faz um trabalho brilhante, e, como muitos dos nomes aqui citados (inclusive pela série) foi reconhecido pelo prêmio Eisner, que não é nenhum estranho da série - duas vezes como série desde 1988, e SEIS vezes com o melhor autor, além de dois prêmios Harvey...
Pra quem não gosta muito do padrãozão de heróis, é um bom começo.
Pra quem gosta de boas histórias... Bem, sem dúvida é um ótimo começo - em qualquer ponto de entrada dos autores citados nesse texto (exceto, obviamente, Andy Diggle).
Pra quem gosta de boas histórias... Bem, sem dúvida é um ótimo começo - em qualquer ponto de entrada dos autores citados nesse texto (exceto, obviamente, Andy Diggle).
Galeria:
David Mazzucheli (Também autor da imagem em que o Demolidor está saindo das chamas).
Paolo Rivera (brincando com onomatopeias para compor seus quadros e imagens - destacando a forma que o cego herói 'enxerga' o mundo).
Chris Samnee
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