(Acho que já trouxe isso aqui, mas teve uma pequena revisão, tiveram algumas correções e acho que agora está mais perto da versão final).
“Maldito ar condicionado”,
pensava Harry ao entrar na loja de conveniência onde iniciava seu ritual
matinal. Café com um gole de leite desnatado e uma fatia de pão com manteiga,
enquanto lia o jornal, que só pagaria se houvesse alguma notícia por lhe
interessar (o que nunca acontecia).
“Dia lindo como magnólias, Harry?”,
pergunta Carlos, o cubano dono do estabelecimento, de trás do balcão,
trabalhando como um louco ao lado de sua esposa Lucia, os únicos funcionários
do estabelecimento durante as longas dezoito horas que ele ficava aberto.
Harry jamais entendeu o fascínio
de Carlos com as magnólias, ou o que isso de fato significava. Era de sua
opinião que o cubano apenas debochasse de seu mau humor matutino. Havia algo
que o sorrisinho malicioso de Carlos todos os dias ao dizer isso nos últimos
três anos indicavam a existência de algo maior por trás disso... Lucy dividia o
mesmo sorriso malicioso com Carlos, quase todos os dias.
E por falar no diabo.
“Bom dia, Carlos. Lucia.”. Lucy
era a ex-namorada de Harry, e morava há não mais que três quadras dali, quase a
mesma distância de Harry – só que em outro sentido. Eles ficaram juntos por, quatro, talvez cinco
anos, e apesar de toda a direta e indireta implicância, não havia de fato
animosidade entre os dois. “Bobão”. Quase nenhuma.
Ele balança a cabeça
respeitosamente, fingindo prestar mais atenção ao jornal que a presença dela,
enquanto reclamava secretamente do ar condicionado, e contava os segundos para
a chegada do Senhor Raio de Sol.
“Harry, meu querido!”. Thomas
vinha de longe, com seus braços de nadador esticados como que pretendendo
engolfar todo o universo abaixo deles. Como Harry odiava aquele cara! Todo dia
era a mesma conversinha, a qual ele somente respondia com grunhidos inomináveis
e meneios de cabeça. Quando necessário usava o jornal como escudo para algum possível
abraço, que parecia uma necessidade de Thomas, sabe-se lá porque. “Há quanto tempo não te vejo! Pode deixar que
seu café da manhã é por minha conta!”.
Harry odiava muito aquele cara.
E não era apenas por ele ser o
homem mais simpático e amável do planeta.
“Bom dia minha flor! Dormiu
bem?”.
“Você sabe que sim, querido”,
respondia Lucy, todos os dias com um carinhoso beijo nos lábios de Thomas.
Era a deixa para Harry sair e
fumar seu cigarro.
Dependendo do dia, seria o
terceiro ou quarto. Hoje era o primeiro, e foi com certo espanto que Harry
percebeu isso, enquanto terminava o café e se preparava para sair.
“Maldito dia”.
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