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28 de novembro de 2012

Capítulo 2 - O Monge Elétrico

(Sem assunto ou capacidade de escrever de fato, segue o texto de ontem).


Capítulo 2.
Acima de uma promontória rochosa sentava-se um Monge Elétrico sobre um cavalo entediado. Sob seu áspero capuz o Monge vislumbrava sem piscar abaixo o que parecia outro vale, com o qual ele estava tendo um problema.
Era um dia quente, o sol parado em um céu vazio e bombardeando as pedras cinzentas e a grama seca. Nada se movia, nem mesmo o Monge. O rabo do cavalo se mexia levemente, balançando um pouco para movimentar o ar, e isso era tudo. De outra forma, nada se movia.
O Monge Elétrico era um aparelho para diminuição de trabalho, como uma lavadora de pratos ou um videocassete. Lavadoras de pratos lavam tediosos pratos para você, poupando o incômodo de ter de lavá-los você mesmo, videocassetes assistiam a televisão tediosamente, desta forma poupando você de ter de assisti-la; O Monge Elétrico acreditava em coisas para você, poupando assim o que estava cada vez mais se tornando uma onerosa tarefa, que era acreditar em todas as coisas que era esperado que se acreditasse.
Lamentavelmente este Monge Elétrico possuía uma falha, e passava a acreditar em todo tipo de coisas, mais ou menos ao acaso. Estava até acreditando em coisas que era difícil de se acreditar em Salt Lake City. Claro que ele mesmo nunca tinha ouvido falar de Salt Lake City. Nem ao menos tivera ouvido falar de um quinggilhão, que era aproximadamente a distância em milhas entre aquele vale e a Salt Lake City em Utah.
O problema daquele vale era justamente esse. O Monge atualmente acreditava que o vale e tudo no vale e em seus arredores, incluindo o próprio Monge e seu cavalo, eram apenas uma única palheta de rosa. Isso dificultava bastante a distinção entre qualquer coisa individual de outra coisa, e portanto tornava qualquer ação ou mesmo locomoção virtualmente impossível, ou pelo menos difícil e perigosa. Daí a imobilidade do Monge e o tédio do cavalo, que, já tivera de suportar com muitas tolices em sua vida mas secretamente acreditava que aquela era a mais tola.
Quanto tempo faz que o monge acredita nessas coisas?
Bem, do que ele sabe, desde sempre.  A fé que move montanhas, ou acredita que elas fossem rosas apesar de todas as evidências em contrário, era uma sólida e devota fé, uma grande rocha contra a qual o mundo podia revolver o que quisesse, e ainda assim não se abalaria. Na prática, o cavalo sabia, que normalmente não passava de umas vinte e quatro horas.
Então o que havia com esse cavalo, que possuía uma opinião, e era cético sobre coisas? Comportamento incomum para um cavalo, não é mesmo? Um cavalo incomum talvez?
Não. Embora ele fosse de fato um exemplar belíssimo e bem encorpado, era nada mais que um cavalo perfeitamente ordinário, como a evolução convergente vem produzindo em diversos locais onde sua espécie venha a ser encontrada. Eles sempre compreenderam uma quantidade muito maior de coisas que eles deixam transparecer. É muito difícil ser sentado por todo o dia, todo dia, por alguma criatura, sem forma uma opinião sobre ela.
Ao contrário, era perfeitamente possível ficar sentado o dia todo, todo dia, sobre outra criatura sem pensar minimamente nela.
Quando os primeiros modelos destes monges foram feitos, parecia importante que eles instantaneamente fossem reconhecidos como objetos artificiais. Não poderia haver qualquer risco deles parecerem com pessoas de verdade. Ninguém gostaria que seu videocassete se sentasse no sofá o dia todo enquanto assiste TV, com o dedo no nariz, bebendo cerveja e pedindo pizzas.
Por isso os monges eram construídos com um olho devido a originalidade do desenho e também para cavalgar mais habilmente. Isso era importante. Pessoas, e de fato coisas, pareciam mais sinceras sobre um cavalo. Então duas pernas pareciam mais convenientes e baratas que os primeiros modelos com dezessete, dezenove ou vinte e três; a pele que lhes era dada era rosada no lugar do roxo, macia e suave ao invés do crenulado. Também a eles se restringia apenas uma boca e nariz e recebiam um olho adicional, que totalizava a grande soma de dois.  Uma criatura excêntrica de fato. Mas realmente excelente em acreditar nas mais absurdas sandices.
Esse monge tivera seu primeiro defeito quando recebeu coisas demais para crer em um dia. Fora, por engano, conectado a um videocassete que estava gravando onze canais de TV simultâneos, e isso causou irreparável estrago no banco dos circuitos ilógicos. O videocassete só tinha de assistir tudo isso, é claro, não precisava acreditar em tudo também. Por isso manuais de instrução são tão importantes.
Desta feita depois de uma estranha semana acreditando que a guerra era paz, que o bom era mau, que a lua era feita de queijo azul, e que Deus precisava de muito dinheiro enviado para uma determinada caixa postal, o Monge começou a acreditar que 35% de todas as mesas eram hermafroditas, e então quebrou. O rapaz da loja de monges disse que ele precisaria de uma nova placa-mãe, destacando que os novos modelos como o Monge Plus eram duas vezes mais poderosos, com uma nova função de multi-tarefas de Capacidade Negativa que os permitia acreditar em até dezesseis diferentes e contraditórios assuntos simultaneamente sem gerar qualquer irritante erro de sistema, eram duas vezes mais rápidos e no mínimo três vezes mais superficial, e você poderia comprar um novo por menos que o custo de substituir a placa-mãe do modelo antigo.
Era isso. Pronto.
O monge defeituoso fora jogado no deserto onde ele poderia acreditar no que quisesse, incluindo a idéia de que tivera se lascado. Pudera manter seu cavalo, uma vez que cavalos eram muito baratos de se fazer.
Por um bom número de dias e noites, que ele variavelmente acreditava serem três, quarenta e três ou quinhentas e noventa e oito mil setecentas e três, ele perambulou pelo deserto, mantendo sua simples confiança elétrica nas rochas, nuvens, nos pássaros e os não existentes aspargos-elefantes, até que ele chegasse aqui, nessa rocha alta, olhando sobre um vale que não era, apesar das fervorosas crenças do monge, rosa. Nem um pouco.
O tempo passou.

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