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30 de setembro de 2012

O humor em tiras

Como um pequeno experimento, essa semana eu li todos os dias as tirinhas da Folha, e, confesso que sou um grande fã do gênero. Schulz e seus Peanuts, Waterson e seu Calvin e Haroldo, Quino com sua Mafalda e sem desmerecer os nacionais Laerte, Angeli, Glauco, Fernando Gonsales (Níquel Náusea) e tantos outros gênios dos poucos quadrinhos.

Mas tenho de confessar... De tudo que vi na semana, me parece que os brasileiros numa onda cabeçuda esqueceram como se faz humor (exemplifico/sintetizo na imagem 1, tira do Angeli de quinta-feira):


Imagens aleatórias fazem piada? É essa a questão ou graça? Eu confesso que não saquei, nem mesmo um sentido maior - e filosófico - que o Laerte tenta fazer (e pra mim só é chato). E, nem duvido que exista algum contexto ou algo maior... Só acho que é (muito) difícil disso se traduzir ao grande público.

Num outro contexto temos Garfield (de hoje, domingo) e Garfield menos Garfield - uma exercício cada vez mais obrigatório e viciante depois que descobri a segunda. É incrível como você transforma um negócio sem graça em algo deprimente e quase perturbador.



Confesso que sempre achei fascinante todo o esquema de tirinhas, que seguem a clássica do humor (situação, preparação e arremate da piada - ou punchline) com todo o minimalismo vaudevilliano possível, e isso é o que faz com que personagens simples em situações típicas (exageradas para fins humorísticos) venham a gerar boas situações.
O artista de tirinhas não precisa ter grande talento como contador de histórias (é tudo bastante curto e direto), não precisa saber desenhar fenomenalmente bem (traços quanto mais discretos são melhores, Malvados de Andre Dahmer exemplifica muito bem isso)... É importante aproveitar o espaço cedido...

E como o brilhante Sérgio Aragonés faz sem até hoje me desapontar... Pirar.

23 de setembro de 2012

O mago que ri

(Pequeno trecho retirado de meu trabalho em progresso, o livro batizado "O Mago que Ri", que conta a história de um homem australiano vivo há 600 anos e que conhece os segredos do universo ou simplesmente é um morador de rua com uma insolação que acha que os cachorros de fato estão se comunicando com ele).

_ Então... Resumindo você está me dizendo que não houve um meteoro e que a extinção dos dinossauros se deve a queda de uma nave extraterrestre no planeta... Um mero acidente?

_ Não, isso é parte do que estou dizendo.

_ Claro, desculpe. Eu ignorei parte do conteúdo. Também tem o fato que eles carregavam animais de estimação que acabaram ficando para trás quando sua nave voltou a funcionar e eles partiram de volta ao espaço - algumas centenas, talvez milhares de anos depois de uma era glacial ou o que se fez necessário para resfriar seu motores, certo?

_ Bingo.

_ Mas... Estes seres superiores não se abalariam por causar a extinção de formas de vida... Ou então de deixar para trás alguns deles que viriam a se tornar a raça humana?

_ Opa, opa, opa... Você entendeu errado. A raça humana faz parte dos animais de estimação que ficaram para trás...

8 de setembro de 2012

EDITORIAL> Van Gogh e a prostituta

O pintor pós-impressionista Vincent Van Gogh que pintou mais de 2.000 quadros (e uma de suas obras é a mais cara já vendida na história das artes) viveu boa parte de sua vida entre os caminhos da pobreza e miséria.

Pra propósitos mais românticos eu poderia citar as mentiras que dizem de que ele vendeu apenas um quadro durante toda sua vida (o que é um absurdo considerando todos os retratos que produziu sob encomenda, assim como o fato que parte de seu sustento durante a vida se deu através aulas de pintura que ministrou), ou as histórias um tanto fantasiosas sobre os motivos sobre sua doença mental e de cortar sua própria orelha por amor ou vingança a uma mulher... Mas o que eu realmente gostaria de citar é o fato do gênio, destacar que esse homem brilhante, ainda influente e sem dúvida alguma com trabalhos esquecidos que são mais capazes que de muitos aspirantes a artista que estão circulando nas galerias por aí, e esse que como tantos gênios de outros tempos e momentos, perambulou por uma vida de miséria e dificuldades financeiras.

Recentemente, uma mulher se mudou numa casa não muito distante à minha, e, até aí nada seria novidade ou marcante, afinal, vivemos em tempos em que a mudança é uma constante. O fato que chamou a atenção, principalmente de vizinhos e de gente que adora discutir a vida alheia é que a mulher é uma garota de programa.

A princípio achei um tanto peculiar a informação, principalmente quando encontrei com essa pessoa na rua, que foi o que mais me chamou a atenção... Longe de ser uma mulher bonita, jovem ou com qualquer característica marcante e acentuada sobre seu corpo e forma. É apenas uma mulher que vende seu corpo (e sim, eu entendo o quanto essa frase é estranha)... E isso foi o que me fez pensar um pouco...

Quer dizer, não só isso. Todo esse cenário previamente apresentado é só um prólogo da coisa toda.
Eu não me julgo nenhum Van Gogh (ainda assim desde já aviso que volto puxar o pé do empresário e marketeiro que usar meu nome pra qualquer coisa após minha desencarnação), mas vejo esse cenário e essa realidade se repetindo mais e mais comumente, de pessoas brilhantes, inteligentes e com grande perspectivas e talentos reais que são solapadas e deixadas pra trás - muitas vezes tendo algum reconhecimento somente póstumo, por conta de urubus oportunistas vendendo e buscando escaravunchar por material de qualidade que terá custo menor (afinal, não precisam pagar a parte do autor), vão ficando pra baixo enquanto outros que nem tem realmente algo para oferecer (além da cara-de-pau e uma incrível disposição para se vender), e acaba sendo um panorama de que mesmo que eles estejam vendendo a preços baixos coisas que não tem valor (como a dignidade ou labor e valor no caso de minha vizinha prostituta)...


OBS: A imagem do Manara não é de uma prostituta e nem de longe parece com minha vizinha... É só que eu precisava de uma imagem de mulher fogosa para ilustrar essa parte do texto...

4 de setembro de 2012

Como destruir uma música em três atos

Pra quem nunca viu (e pra quem já viu e não acha com facilidade):


William Shatner (o eterno Capitão Kirk - e pra mim e as novas gerações Denny Crane) interpretando - e eu uso o termo vagamente aqui - a canção Rocket Man do Elton John.

E se você (herege) não conhece Rocket Man, aqui vai um pequeno refresco.


Minha dúvida sempre foi se é mais ridículo o Shatner fazendo cara de sério no começo (fumando um cigarro  em um banquinho, pois nada é mais sério E cool e descolado ao mesmo tempo) a dancinha por volta dos quatro minutos (em que ele abre a gravata borboleta e mexe os braços como todo aspirante a tiozão de fim de formatura faria) ou o visual do Elton John com os óculos com as lentes que depois viriam a ser usadas para fazer o Hubble... Deveria propor uma enquete?

2 de setembro de 2012

A diferença de 'maduro' e 'adulto'

Durante muitos anos - e com muitas pessoas diferentes, em ocasiões diferentes, em contextos diferentes - um dilema parecia surgir acerca de questões fundamentais da natureza humana, no que tange a classificação etária de produtos de entretenimento e, o que em alguns casos - e debates acalorados - acaba sendo cotado como censura.

Eu confesso que sempre foi um debate que me interessou, mas que sempre teve uma grande dificuldade para tecer exemplos factíveis. Claro, claro, 'O pequeno príncipe' (de Antoine Saint-Exupéry) apesar de ser vendido e conhecido como filme infantil é mais maduro que qualquer livro do Paulo Coelho... E qualquer filme pornô - que é considerado adulto devido a seu teor, nudez e cenas explícitas - mas que possui normal e notavelmente um conteúdo menos cabeça que texto de parede de banheiro público.

Mas faltava AQUELE exemplo, sabe? Que trata do exato mesmo assunto, de formas diferentes - uma adulta e outra madura - e fosse claro e demonstrável pra qualquer um.
E eu procurei... Ah, eu procurei! Livros, filmes, seriados...

Dias e noites e dias e noites...

E graças ao cinema brasileiro - e por favor, eu não tenho nada contra o cinema brasileiro, as poltronas são muito boas e confortáveis... Os filmes, por outro lado - eis que surge, "Paraísos Artificiais".
O filme é ruim (maçante, cansativo, fraco...), mas até aí não há nenhuma surpresa. O que acontece é que ele é raso como um pires, e tenta construir alguma força num tipo de choque em explicitamente mostrar orgias de drogas e... Bem, nenhum conteúdo, zero de empatia com os personagens (ou entre eles), e, eu até admito que num espectro mais otimista, era exatamente a intenção do diretor para expor as vidas vazias daqueles envolvidos (só falta o talento pra traduzir isso).

Que filme faz o contrário, me perguntaria alguém neste exato momento? Eu vou dar mais uma pista:

Sim, "Alice no país da Maravilhas", aquele desenho 'inofensivo' da Disney de 1951 retrata uma bad trip de drogas (em uma orgia de drogas, se você preferir) com lagartas que fumam ópio, mesas de LSD e diversos momentos com cogumelos e outras tantas substâncias psicoativas.
E é um filme infantil. Com todo o teor e substância da palavra - até com a lição do nunca confiar em estranhos e tudo mais. Um conteúdo maduro, retratado de forma acessível.

O que falta dizer? Ah, sim, que uma animação de 1951 da Disney consegue ser mais atual e contundente que um filme brasileiro de 2012 sobre o mesmo assunto...