Voltando ao contexto da primeira parte, é preciso entender que a editora DC comics no ano de 1985 fez uma vasta revisão em seu cenário editorial com uma reestruturação enorme que faria com que décadas de histórias malucas e convolutas fossem condensadas e resetadas.
Basicamente, um evento grandioso chamado 'Crise nas infinitas terras' possibilitou que toda a cronologia voltasse ao zero e, com isso, as origens de ...
Sempre existiu algo bastante interessante na dualidade do personagem - seus dois egos conflitantes, seja pelo amor da mocinha, seja pela postura passiva de Clark Kent perante a figura imponente do Superman - mas há uma condição bastante peculiar que surge, principalmente com a nova onda de roteiristas e quadrinhos mais adultos e voltados a um público mais adulto.
A possibilidade da divisão das personas em condições empíricas de arquétipos clássicos numa dicotomia mais clara. Clark Kent é o forasteiro, o estrangeiro. Alienígena e alienado pela sociedade vivendo às margens, nessa figura de repórter perfeito (sempre no local da ação, nunca o centro dela), tal como uma visão quixotesca.
Kent é o jovem destinado a mudar o mundo com sua caneta e derrubar os moinhos de vento.
Superman, por outro lado, é o potencial máximo da humanidade. Ele é o salvador, o messias (e a figura de Kent volta a baila aqui, uma vez que todo messias precisou deixar registradas suas histórias e contos através de escrituras sagradas, e o que antes eram escrituras hoje são reportagens).
Ele foi enviado por seus pais (nos céus) que sabiam que ele salvaria a humanidade, e levaria essa coletânea de humanos patéticos a um nível maior de civilização e quiçá civilidade. Droga, ele morreria pela humanidade também se isso fosse necessário.
Pra resumir as comparações de Superman com Cristo, a imagem fica clara através dos paralelos entre "A paixão de Cristo" e "Homem de Aço" apontadas pelo CouchTomato.
Como dito o evento de reestruturação da Crise nas Infinitas Terras tinha como intento de reaproximar leitores dos grandes mitos e clássicos da editora, e inclusive de uma visão mais ampla e global, ao que fica claro que a visão do novo testamento (difundido pelo catolicismo) é mais disseminado pelo globo que o judaísmo. Para evitar repetição, uma vez que aqui as histórias são todas paralelas as de Cristo, eu não terminarei todo parágrafo ou comparação com 'como no Novo testamento' ou 'como com Jesus', mas perceba que de uma forma ou outra essas palavras estarão subentendidas por praticamente todos os próximos parágrafos.
Nisso John Byrne foi chamado para reestruturar e definir o Superman para o século 21, e assim os detalhes foram se ajustando e mudando. As figuras paternas terrestres ganham mais valor e destaque (em contraste com a versão pré-Crise em que ambos só são figuras relevantes enquanto Superman cresce), mas ainda assim toda uma fase da vida do personagem deixa de ser relevante.
De algumas passagens enquanto adolescente passamos a acompanhar somente as histórias de Superman como adulto.
E são histórias na qual um homem simples se defronta com um gigantesco e corrupto império (as empresas de Lex Luthor, a LexCorp que controla toda Metrópolis), onde ele é desafiado pelo anjo caído (sim, Batman, o 'Cavaleiro das Trevas' que após a Crise das Infinitas Terras é menos Adam West e mais Christian Bale, com uma postura atormentada e que por mais vezes que não está a questionar e desafiar o Homem de Aço, se tornando um polar oposto do personagem) e em seu momento mais notório irá morrer de maneira bastante pública, gráfica e violenta para expurgar os pecados do passado na batalha contra o monstro Apocalipse.
Obviamente ele ressuscita e volta para difundir ainda mais sua mensagem de verdade e justiça - e o que acontece após essa ressurreição não é assim tão memorável ou importante, a não ser pelo juízo final (do livro do Apocalipse que não tem a presença de Jesus - e no caso do Homem de Aço é a Crise Final escrita por Grant Morrison em que o mundo é devastado, conquistado pelo mal supremo de Darkseid).
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