Na última semana os Estados Unidos começou a revelar números perturbadores sobre um surto de sarampo. Nem tanto perturbadores pelo fato de que o sarampo é uma daquelas doenças para a qual somos todos imunizados antes mesmo de sermos desmamados, e isso seria alvo de uma longa discussão científica se de fato estivéssemos diante de um super-sarampo (sarampo 2.0 ou sarampo 2 - a missão). O que não acontece.
O fato é que na terra do Tio Sam, um grupo, cuja porta voz é a atr... A model... A loira-que-faz-pontas-como-mulher-objeto-e-posa-pra-Playboy Jenny McCarthy iniciou uma extensiva (e poderosa) campanha anti-vacina que percorreu o circuito de talk shows e programas similares (como a sumidade televisiva Oprah) divulgando ideias absurdas e ridículas sobre a conexão da imunização infantil com o autismo.
Não há respaldo, não há dado científico, não há absolutamente nenhuma forma de verificação dos dados propostos pelo insano grupo - com exceção da verificação do saldo e da compensação de seus cheques para aparecerem na tv.
Mas mesmo que existisse, eu posso resumir em uma frase de para-choque de caminhão: Melhor viver com autismo que morrer de sarampo.
Posso resumir ainda mais no melhor estilo Tarzan: Vivo - bom, morto - mau...
Acho que já é suficiente para explicar a imagem geral da situação, não?
Bem... Não.
Quer dizer, DESSA história em geral, a situação está completa. Recusar a vacinação é absurdo e ainda mais absurdo quando sua opinião sobre o assunto advém ou está em consonância a de um grupo que não tem qualquer respaldo médico e utiliza como figura pública uma capa da Playboy.
Só que, para o bom conspirador, quando se trata de vacinação, o Tio Sam sempre tem alguma maneira de sacanear o contribuinte, e tudo se deve ao completamente antiético estudo conduzido entre PASMEM 1932 e 1972 (sim, SETENTA) chamado Tuskegee Syphilis Study (Estudo de Sífilis em Tuskegee - cidade do Alabama).
Do que se trata o estudo? Bem, de forma bastante simplória, ele serviu para infectar negros - sob falsos pretextos - com sífilis para analisar a longo termo os efeitos da doença.
O grotesco experimento que é uma enorme violação dos direitos civis é um prato cheio para todo tipo de conspiração, algumas das quais ganharam notoriedade graças a ficção (como os Arquivos X em que o governo utilizava vacina contra a varíola para combinar DNA alienígena ao humano).
Ainda que seja uma desculpa padrão, não deixa de ser verdade.
Eram outros tempos: De 1932 a 1972 a internet não existia, mesmo as comunicações de massa eram restritas e controladas, os cidadãos negros eram considerados uma sub-classe com respaldo legal - ao ponto que nos EUA haviam bebedouros separados, vagões específicos em trens e diversas outras condições segregativas - e mesmo as ciências pendiam mais para um campo casimístico que somente os escolados poderiam navegar e discutir.
Hoje qualquer babaca com uma conexão à internet em cinco minutos de google consegue verificar as informações de um texto. Droga, você até verifica se o texto é plagiado ao copiar e colar o material todo na pesquisa!
Sem dúvida se faz necessária uma ressalva que nem toda informação na internet é verdadeira (vide as informações do segundo parágrafo desse mesmo texto que você pode encontrar em sites, programas televisivos e outras mídias de sua preferência), e cabe aos filtros pessoais e intelectuais a capacidade de separar o joio do trigo.
Mas entre os pop ups, as pílulas para disfunção erétil, as teorias conspiratórias e as informações sobre celebridades (sem ignorar toda a pornografia, afinal, na internet há toneladas e toneladas de pornografia), em algum lugar entre tudo isso, está a verdade.
Pelo menos é o que eu quero acreditar.
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