Somente quando olhei pela primeira vez naqueles olhos foi que vi uma incomensurável dor. Era como olhar para a mais profunda tristeza e sentir aquilo inundando sua alma de uma só vez, puxando-o para o abismo para que lhe fazer companhia.
É um tipo de dor que se cultiva. Dor de anos, décadas até de sofrimento remoído e revivido.
O tipo de dor que não é apenas dor. É frustração, ódio, raiva e amargura.
Uma dor que é preciso compreender para entender.
Aquela dor era minha também.
De certa forma ele era eu.
Aquele homem sujo de sangue com um pedaço de pau nas mãos e a sensação mais profunda que o mundo estava a desabar. Ele havia matado dois adolescentes e ferido gravemente um terceiro, mas esse não era seu crime. Era um morador de rua, alvo de riquinhos entediados que resolveram fazer dele mais uma estatística.
Erraram os números, e ele se libertou ao meio da sova, pegou o primeiro objeto que conseguiu e acertou os guris com a fúria que somente quem passou anos apanhando consegue compreender.
Pro seu azar um dos moleques era filho do delegado, o outro que sobreviveu sobrinho de senador, e as ordens são para que ele sequer chegue ao DP.
Será desovado num morro ou vala qualquer, e como indigente, ninguém se importará.
Afinal, que se saberá dessa história que nunca aconteceu?
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