O Cavaleiro das Trevas, o Cruzado Encapuçado, o Protetor de Gotham, o Terror do Submundo, o Maior Detetive do Mundo, o Bilionário Psicótico que combate o crime fantasiado... Os subtítulos acumulados nesses 75 anos são muitos.
E os motivos também.
O personagem representa uma junção catártica da noção de vingança (pais assassinados = vingança abnegada ao crime) com aquela noção distorcida do sistema judiciário norte-americano de 'justiça' (o criminoso que apodreça na cadeia e, se, for condenado à pena de morte que seja por um crime que cometeu - digo isso graças a graphic novel "Advogado do Diabo", em que o Coringa é sentenciado à cadeira elétrica mas o morcegão impede que seja executado por não ser autor do crime em questão) e isso somado a aventura, noções detetivescas (o gênero mais popular e explorado não obstante).
O personagem mudou bastante durante as sete décadas e meia, adaptando-se aos períodos e mudanças, algumas impostas, como o Comic Code que exigiu uma mudança de tom do personagem violento criado por Bob Kane - aquele com a luva roxa - que não se importava em matar, ou deixar o criminoso morrer. Ganhou um parceiro mirim nos anos 40, lutou na segunda guerra como todo norte-americano... Com uma baixa nos anos 50 (o Mccartismo e o início de recessão econômica entre a segunda guerra e o início da Guerra Fria).
Com o início da Era Marvel e Stan Lee trazendo mais atenção aos quadrinhos nos anos 60, o Homem Morcego também ganhou notoriedade com um estilo mais camp (sim, de Adam West), e com a atenção voltada ao personagem motivou a melhor qualidade editorial nas linhas do personagem - e aproveitando para trazer atenção para o universo de personagens com parcerias na série 'The Brave and the bold'.
Denny O'Neil, Neal Adams, Jim Aparo, Dick Giordano, Len Wein e companhia mudariam o foco das histórias para uma perspectiva mais aventureira - e os vilões começaram a ganhar o tom mais ameaçador, fazendo com que as ameaças fossem mais coerentes. Sumiam os 'bat-sprays-que-resolvem-tudo' e o personagem tinha maior propensão para falhar e esses erros tinham invariáveis conseqüências.
Nesse período, inclusive, há uma mudança de perspectiva na estrutura de combate ao crime do personagem (que vinha com um longo relacionamento com a personagem Silver St Cloud ) tornando-se um senador (sério), tentando mudar as políticas públicas e estruturar uma Gotham melhor.
Nos anos 80, após uma extensa revisão editorial para tornar o universo mais coeso, o personagem passa pelas mais drásticas mudanças de tom, assumindo uma perspectiva ainda mais séria e dramática (aproximando o foco numa perspectiva de 'mundo real'), colocando o personagem com problemas mais mundanos - que incluem o Homem Morcego ter as rodas de seu carro roubadas. Essa mudança de perspectiva traz histórias mais densas, vilões mais cruéis (A Piada Mortal com o Coringa aleijando Bárbara Gordon, ou Uma Morte na Família com o mesmo personagem matando violentamente o Robin com um pé de cabra), e se estende até a enérgica mudança de tom no início dos anos 90, com a Queda do Morcego, onde Bruce Wayne é substituído por quase um ano inteiro por um novo Batman (Jean Paul Valley, também conhecido com Azrael, e aquele Batman de armadura) que é mais violento, com uma visão mais direitista de que 'bandido bom é bandido morto' (e que a polícia não deveria atrapalhar sua visão de como o trabalho deve ser feito.
Esse é o período em que Tim Burton inicia a franquia de filmes (que acabaria nas mãos de Joel Schumacher) e uma adaptação muito melhor sai na forma da ultra-premiada série de televisão de Paul Dini e Bruce Timm, que revitalizou a galeria de vilões, e aumentando a percepção do público sobre as histórias do personagem, com um visual mais sombrio e um tom menos colorido (ei, era um desenho pra crianças, mas mesmo assim tem um tom sério e inteligente - e sim, TEM, no presente).
Com isso o personagem se tornou o forte para geração de franquias e séries derivadas com personagens secundários (coisa feita a exaustão durante os anos 90, quando o personagem tinha quatro séries mensais - Batman, Detective Comics, Shadow of the Bat, Lengends of the Dark Knight - enquanto gerava títulos como Mulher Gato, Robin, Asa Noturna - o antigo Robin - e, Azrael).
Após a revitalização do personagem em 85 com o Ano Um de Frank Miller, a intenção que se seguiu foi de estabelecer o personagem como uma força irrefreável (que não se abala com um terremoto que destrói sua cidade, ou com a falta de ajuda e suporte que receba quando lhe são negados os recursos para reconstruir a cidade), e ao mesmo tempo obcecado e consumido por sua missão e jornada.
O personagem teve mais algumas adaptações cinematográficas (a trilogia de Christopher Nolan) agora nos anos 2000, e surgiu uma franquia de jogos de video game (os jogos 'Arkham') que reproduzem exatamente isso.
Ele combate e luta e insiste até o final, não importando com as conseqüências.
E isso é parte de seu charme e apelo com o público.
Enquanto o personagem tem falhas, ele também é capaz e auto-suficiente. É um homem, sem poderes, sem anabolizantes, sem aranhas radioativas ou anéis mágicos, e ainda assim se impõe perante os vilões mais poderosos assim como seus aliados (muito mais poderosos).
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