Algumas vezes a história parece praticar na fina arte da ironia de maneira que me faz crer que de fato esta é a arte favorita dos deuses e elevadas criaturas dos planos superiores (que eu não acredito existirem - ta-dah).
Quando um jovem italiano adaptou (sem exatamente os direitos autorais) um filme de samurai para se passar no período da corrida do ouro norte-americana ("Yojimbo" tornaria-se "Per un pugno di dollari" -- para ler é preciso fechar a mão direita em formato de pera e balançar para cima e para baixo enfatizando as sílabas com a cadência do movimento do punho --, ou "Por um punhado de dólares" em bom português), ao que deu início a outras tantas 'adaptações' para o cinema ocidental que incluiriam versões espaciais (substituindo as espadas samurais por sabres, mas isso é outra história), mas talvez o nome mais notório envolvido nessas adaptações seja do emblemático multifacetado Clint Eastwood.
Excelente ator com uma invejável (e francamente impecável carreira), ele se aventurou pela carreira de diretor e, em 1992 lança um de seus mais emblemáticos filmes até hoje: "Os imperdoáveis".
Entre outras coisas, o filme serve como um velado funeral para o personagem que fizera Eastwood famoso - justamente removendo todo a acentuada glamourização sobre a violência com armas assim como da faceta durona e implacável dos heróis do Oeste.
O filme reforça uma noção que esses 'heróis' não eram nada mais que bêbados valentões com armas, questionando esta violência e seu papel na formação dos valores de nossa sociedade, e, se podemos de fato um dia deixar tudo isso para trás.
Completando o ciclo, de maneira inusitada porém, em 2013 o Japão imitando o que acontecera anos antes faz agora o contrário - convertendo o filme de cowboys para um de samurais - e sai o remake "Yurusarezaru mono", com alguns nomes famosos do cinema oriental, e, como no original belíssimas panorâmicas.
Só fica um porém ao remake: O filme perde muito do impacto do original na (re)tradução.
Ao contrário dos cowboys que eram sempre os heróis - fosse combatendo os monstruosos índios, os asquerosos mexicanos, ladrões de gado ou todas as alternativas - e que tinham uma postura clara de uma inabalável boa índole e natureza (o maior ícone dos western, o sr John Wayne que o diga fazendo sua carreira a partir dessa imagem), os samurais mesmo para seus filmes não eram exatamente heróis.
Yojimbo mesmo traz um homem que é ardiloso em fomentar uma guerra entre duas organizações criminosas para lucrar mais, mas são as obras maiores de Kurosawa, como Rashomon ou Ran que a natureza muito menos nobre dos mercenários com espadas se mostra. Não obstante, nos quadrinhos japoneses temos o emblemático Itto Ogami de Lobo Solitário, que expõe muito da corrupção dos valores do período assim como destes supracitados guerreiros.
Mesmo o folclore japonês é repleto de histórias que fazem o filme de Eastwood pálido em comparação.
Ainda que um filme tecnicamente muito bonito, com uma soma de excelentes atuações e um grande roteiro, falta ao remake japonês a única coisa que faz do filme americano importante: O impacto.
Mas isso é virtualmente impossível num remake (até contra intuitivo).
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