(Faz tempo que não faço um desses!)
Ontem, caminhando pela cidade eu vi um senhor fazendo um serviço de pintura, utilizando uma daquelas bombas de pressão para dispersar a tinta mais fácil sobre a superfície. Ao pintar uma cerca, cobria-se com plástico os vãos entre o cercado e de jornal o chão para que a tinta ou não sujasse as superfícies ou sujasse alguém conforme se espalha no ar.
No entanto o senhor não usava o equipamento de proteção individual (aquela pequena máscara plástica para cobrir as narinas e a boca e impedir a inalação de material particulado - nesse caso a tinta - conforme trabalha). E sim, eu tive a curiosidade de questionar o porque: Ele trabalha por obra, e o acréscimo dessa pequena peça de plástico afetaria seu lucro.
MAIS> Por trabalhar há quase vinte anos fazendo isso - e nunca ter achado necessário o uso da máscara - porque começar agora?
Essa é uma de tantas histórias de Brasil (como o vigilante que não usava colete a prova de balas porque 'esquentava', ou a senhora que não 'sabe' usar um grampeador - qualquer dia eu conto alguma dessas, apesar do final já estar estragado), e que expõe a grande diferença deste país de proporções continentais sobre outros.
A desinformação no Brasil é muito típica e comum, nas mais diversas áreas, mas o pior reside justamente na disseminação de informações erradas - mesmo depois d'eu falar ao pintor que ele poderia contrair um câncer pela prorrogada inalação de tinta, ele responde 'todo mundo morre um dia, não?' - o que são coisas que refletem numa "curtura" de produção de baixo custo, que invariavelmente significa baixas remunerações (e teoricamente uma menor escolaridade/qualidade do ensino).
É contrário a uma cultura chinesa, por exemplo, em que o viés da educação surge como alternativa a essa cultura de baixo custo - afinal, a quantidade e qualidade dos papers publicados pelo país asiático é absurda, e é só ver a primeira página do Science Direct em qualquer assunto (cito a China já que é conhecido e notório suas subcondições salariais, o que justificam o preço mais baixo dos produtos Apple, do que se fossem produzidos em países com legislações trabalhistas mais rigorosas).
E digo que é contrário pela fundamentação de que um jogador de futebol fatura meados de R$9,5 milhões por mês enquanto um engenheiro tem salário mínimo estipulado pelo CREA de R$6100,00 (sendo que muitos tem de aceitar salários iniciais menores para entrar no mercado de emprego - e que o supracitado jogador sequer tem idade pra ter terminado uma faculdade de engenharia, nem das mais bostas).
Porque então disse eu no título da 'Teoria Ayrton Senna'?
Numa noção pura de 'talento x qualidade técnica' para o esporte, é de se supor que qualquer pessoa que se enquadre num condicionante e possa, portanto, almejar um lugar no platô dos grandes nomes da categoria.
Na realidade, existem fatores externos limitantes - como no caso do automobilismo, de onde vem o nome da teoria, em que o dinheiro para patrocinar o início da carreira mesmo do mais talentoso e técnico corredor é muito alto - e mesmo nos potenciais nomes em esportes menos dispendiosos, há a limitação financeira em virtude de potencial de marca agregada (afinal, quase todo jogador hoje faz no mínimo uns cinco comerciais e participações em novelas e seriados da Globo - exceto o Jô, mas isso não deve ter nada a ver com racismo).
Desta feita, esse investimento se torna um limitante tão grande e importante que altera totalmente a equação, que se torna '(talento x qualidade técnica)/ patrocínio ou investimento', que é o grande ponto - e um ponto visível na(s) Copa(s) do Mundo, inclusive.
E isso levanta a grande pergunta: Se somente talento e capacidade fossem julgados, quantos outros Ayrton Senna existiriam por aí, ou será que de fato seu brilho ainda seria único?
No trabalho, porém, o talento é um fator menos rigoroso, uma vez que há a necessidade de conhecimentos técnicos e práticos (que se exponenciam pelo tempo e empenho destes esforços, divididos pela qualidade operacional)...
Em nenhum dos casos isso garante resultados.
Mas só no primeiro a recompensa financeira.
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