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13 de abril de 2014

Pequenos clássicos modernos - Braid


Quando falamos de arte, é muito difícil definir exatamente o que contextualiza e define o termo.
Scott Mcloud, o brilhante cartunista estadunidense fez uma fantástica análise sobre o assunto, e chegou a conclusão que arte é todo esforço humano na tentativa de fazer algo (desnecessário) a mais, seja na busca de realização pessoal, inserção social ou mesmo na hieraquirzação e sobrevivência.

Eu discordo de Mcloud, porém, ao que vejo que a arte é algo a mais, é uma meta inatingível, com o objetivo de encontrar o espaço perfeito para reproduzir ideais (e ideias) de maneira conexa, coesa e harmoniosa (mesmo que a forma se dê caótica e confusa ao forçar o espectador a ligar os pontos). Todo o restante é entretenimento.

Às vezes o entretenimento é mais barato e pobre que outras. Como ocorre ao que muita gente não considera o esforço de criadores e idealizadores de videogames como tela para sua arte (ao que faz sentido quando consideramos que é um gênero onde existem pessoas musculosas com rifles acoplados por serras elétricas ou jogos que esforçam mais tempo de programação na mecânica de movimento de seios que na contextualização de personagens e história). Mas até aí, definir os videogames por jogos voltados ao consumo rápido e acerebrado é o mesmo que definir toda a literatura pelo livro da Bruna Surfistinha (ou os do Paulo Coelho no que vale).

Ou seja, temos de analisar que sem dúvida quando existem plataformas de entretenimento populares será produzido lixo comercial para digestão e consumo rápidos, e é justamente por isso que devemos ficar mas atentos às pérolas e talentos que sabem aproveitar e fazer excelente uso das ferramentas do artifície.

Braid é um exemplo perfeito disso.

Uma análise sobre o gênero (como Fellini nos anos 50 com seu 8 1/2) moldando sua estrutura nos arquétipos de outros jogos de plataforma - a escolha de construção dos personagens, a condição dos pulos ou dos inimigos, a forma da condução da narrativa e até mesmo o argumento da 'princesa' que se encontra em outro castelo.

Desde o começo - com o primeiro capítulo sendo o último, algo que curiosamente passa batido pelo jogador no começo - e é a pesada e poderosa história que compõe um jogo que é muito mais que apenas isso. É uma análise sobre o ser humano, sobre relacionamentos e a expectativa que temos da vida e de nós mesmos.

Mais fantástico ainda que tudo isso, só a reviravolta do final, que é de cortar o coração e gelar a alma (leia por sua conta e risco: e se o protagonista fosse na verdade o vilão da história - e isso fosse uma história de seu amadurecimento para compreender isso e se tornar uma pessoa melhor?)

Há mais - é verdade, afinal, o fim também faz alusão a história da bomba atômica - mas vamos manter as coisas simples. Braid pode ser o divisor de águas para uma nova era dos videogames, o fim de macacos digitando infinitamente para produzir combinações de pixels com o fim de entretenimento e o início da produção de verdadeiras obras, de elaboradas peças explorando os meandros da alma humana (como de fato estamos vendo desde 2009, com The Last of Us, The Walking Dead e alguns poucos outros bons exemplos).

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