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23 de fevereiro de 2014

EDITORIAL> Quem mudou, o cinema ou o público?

Semana passada, com o reboot de Robocop, saiu algumas matérias sobre o filme (novo), e, por curiosidade acabei resolvendo que a melhor coisa era assistir o filme original (de 1987).
Paul Verhoeven faz um filme denso, cheio de violência - e que distila críticas sociais a quase cada dez segundos - apesar da ideia estúpida (afinal é um policial assassinado que é trazido de volta como um robô).
E é como uma daquelas fábulas chinesas (ou mesmo de Ésopo) que usam de absurdos como o contexto de uma análise mais abrangente. Um reflexo terrível da sociedade e de nós mesmos.
São os 'noticiários de três minutos' - que mostram uma sociedade com baixíssimo déficit de atenção - os carros e armas cada vez maiores (como compensação fálica, se você não entendeu pelo filme) e todo um outro contexto de uma sociedade voraz e violenta (que não se importa com a obliteração de um posto de gasolina ou a revolta de populares durante uma greve da polícia)...
Ainda assim, como algo típico dos anos 80, temos os executivos yuppies obsessivos a crescer a qualquer custo (mesmo que um oficial júnior faleça no processo) e o medo do avanço tecnológico, principalmente na parte da mecanização (essa é a temática geral do filme, inclusive).
Existe mais (como a analogia de Robocop como o salvador da sociedade yuppie dos anos 80 - com os paralelos religiosos a Jesus, inclusive com o protagonista andando sobre a água), mas vamos nos manter a isso por enquanto.
E o ponto é que o filme é ruim - um filme ruim dos anos 80, com todos os vícios, cabeleiras, ombreiras, gomas de mascar e efeitos especiais precários.

Nessa mesma semana, a Marvel anunciou o primeiro trailer do novo filme os "Guardiões da Galáxia", que tem como intenção ser uma espécie de comédia de ação, e, bem... Veja o trailer:


Agora comparemos com outra 'comédia de ação' - no mesmo contexto de Robocop, dos anos 80, "Caça-Fantasmas":


A diferença é visível, certo? Palpável, até.
Ambos tem uma temática de comédia, ambos deixam bem claro pelo trailer que são filmes com uma forte pegada de humor... Só que no trailer dos anos 80, o tom é diferente (reforçando a ação, e até parte de horror devido ao tom sobrenatural), as piadas são mais sutis...
Eu particularmente achei as piadas do trailer de 2014 ruins, inclusive, mal construídas e executadas, mas deixemos isso para outra discussão - de preferência depois do filme estrear.
O ponto mesmo é esse humor demasiado para um filme que pressuposto é de ação.
O voice-over de John C Reilly para apresentar os personagens - sem explicar nada do elemento do roteiro, enquanto há uma sucessão de piadas de gosto duvidoso (a primeira, inclusive, que muita gente da geração mais nova não vai entender, que é referência ao filme de Indiana Jones, de 1981).

Claro que são filmes diferentes... Caça-Fantasmas é um filme que reuniu alguns dos mais aclamados nomes da comédia do período (Bill Murray, Dan Aykroyd, Harold Ramis e Rick Moranis), enquanto o outro é o filme de super-heróis (que em geral são filmes de ação com pitadas de humor... Como, novamente, Indiana Jones).

Então eu pergunto, repetindo o título do post, quem mudou, o cinema ou seu público?
Nas piadas que faltam sutileza... Nos filmes que filosofam a violência enquanto a glorificam - sem utilizar a perspectiva sarcástica de uma critica ácida à sociedade (vide o remake de Robocop de Padilha, pra voltar aos parágrafos iniciais do texto)...
Será que pra atrair um público maior o cinema se imbecilizou, ou foi a sociedade que o fez e a indústria de entretenimento só teve de acompanhar?

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