Antes de começar, eu entendo os dois lados desse problema.
E isso é o que torna a situação ainda pior.
O Governo de fato está correto na necessidade por maior quantidade - e não obstante qualidade - no serviço e atendimento médico no país. Temos condições precárias em praticamente todas as regiões do país, mas algumas regiões são ainda piores... E é a VEJA que está apontando esses números (17,6 médicos para 10.000 habitantes em algumas regiões, números menores que o Vietnam ou Guatemala)!
Os médicos estão corretos na defesa de seu direito de manter um trabalho e condições de vida estabelecidas (a mensalidade de um curso de medicina na PUC beira os dez mil/mês, porque esse médico formado deve trabalhar no SUS por bem menos desse valor de mensalidade?). A manutenção dos direitos do trabalhador gostando ou não é um assunto delicado e de difícil solução - e não pode ser resolvida por passe de mágica. Mas uma coisa é manifestação, questionamento e debate...
Outra é essa patifaria que virou vergonha internacional, e não consegue a simpatia de ninguém.
Outra é essa patifaria que virou vergonha internacional, e não consegue a simpatia de ninguém.
E é verdade que existem outros problemas...
Que inclui a falta de credibilidade do próprio governo (é só ver o caso do amigo da Marta de pouco mais de uma semana atrás), e toda a questão de infraestrutura do país que é péssima.
E é nisso que faço uma breve volta para o assunto do saneamento.
Quase 50% da população brasileira não tem esgotamento sanitário! 0,4% das 5565 cidades estudadas (ou seja, mais de vinte e duas cidades inteiras, o que significa no mínimo 445.000 habitantes) não tem sequer o provimento de serviços de abastecimento de água.
E não pára aí, pois essa falta de condições no saneamento representa problemas justamente na área médica.
O gráfico abaixo (parte do livro Brasil em Números do IBGE - link no final do texto), apresenta que aproximadamente 325 habitantes a cada grupo de 100.000 acaba INTERNADO em um hospital devido a precariedade dos serviços de saneamento.
Isso significa que para a população da cidade de São Paulo com uma população de 11,32 milhões (IBGE, 2011), quase três mil e quinhentas pessoas estão internadas. O que é mais de duas vezes a capacidade do Hospital de Clínicas do ABC.
Para a população brasileira (que bateu os 200 milhões, dados do IBGE), temos 615.000 habitantes!
Isso mesmo: Toda a população de Ribeirão Preto, SP (ou de umas duas ou três cidades menores ou dois terços da população de Campinas, SP).
E não é curioso que NO MÍNIMO (ênfase em mínimo já que estou usando as atribuições mínimas de população por município) 445.000 habitantes não tenham condições mínimas de saneamento e 615.000 habitantes sejam internados anualmente por doenças relacionadas a condições precárias de saneamento?
E não é curioso que NO MÍNIMO (ênfase em mínimo já que estou usando as atribuições mínimas de população por município) 445.000 habitantes não tenham condições mínimas de saneamento e 615.000 habitantes sejam internados anualmente por doenças relacionadas a condições precárias de saneamento?
De novo, somente INTERNAÇÕES, não incluem consultas, atendimentos médicos, farmacêuticos ou (e principalmente) doenças que sequer passaram por qualquer tipo de acompanhamento.
Mas isso ainda é só a ponta do iceberg.
As condições de laboratórios das Estações de Tratamento de Água, também estão longe do ideal (ou necessário, se preferir), que ainda brigam para a realização de testes da Portaria 518 de 2004 (se você precisa de uma referência, nove anos, ou duas edições dos jogos olímpicos pra trás)... Imagine os testes ecotoxicológicos propostos em 2011 (que estes mesmos laboratórios teriam dois anos para se adaptar)?
(Desculpem o momento técnico...)
E tenha certeza, há muito mais - e muitos outros - problemas.
Problemas que não vai adiantar varrer pra baixo do tapete indefinidamente (como se fez por tanto tempo com a área médica, se faz com a educação, se faz com a segurança pública...) e jogar a batata quente para a próxima gestão.
Tiago Salviatti é formado em Controle Ambiental pela Universidade de Campinas (também é pós-graduado e já trabalhou em mais de dez aniversários de criança em papéis que incluem mágico, palhaço e por algum motivo Dick Vigarista), e sofre bullying em empresas que acham que técnicos de qualidade (profissionais de ensino médio) servem plenamente como profissionais da área ambiental.
Brasil em números 2013 - IBGE: http://www.ibge.gov.br/biblioteca/visualizacao/periodicos/2/bn_2013_v21.pdf
Relatório da Agência Nacional das Águas: http://atlas.ana.gov.br/Atlas/downloads/atlas/Resumo%20Executivo/Atlas%20Brasil%20-%20Volume%201%20-%20Panorama%20Nacional.pdf

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