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19 de janeiro de 2025

{A vida após Netflix - parte 2.5} Erros de personagens

Personagens em livros, filmes, séries ou o que for, não agem de maneira realista e esse é o um elemento bastante comum e efetivo que aprendemos a aceitar na narrativa uma vez que, bem, se eles fizessem o lógico e sensível, não teríamos histórias.

Se Bruce Wayne procurasse terapia e doasse seu dinheiro para a polícia, não vejo como isso produziria um personagem com mais de oitenta anos e uma gigantesca franquia, não é mesmo? E claro, você pode citar basicamente todo episódio do Pernalonga ou Pica-pau em que, bem, se o vilão se desculpasse por suas ações, bem, se livraria de toda uma gama de problemas, ou as óbvias e repetidas situações em filmes de horror em que os protagonistas se separam enquanto o monstro espera para matá-los um a um...

Só que elas estão ali nos filmes bons também frequentemente e em boa parte dos momentos. Em Jackie Brown, o grupo confia em Melanie (mesmo que saibam que não deveriam confiar em Melanie em nada além de estragar o plano todo), o que resulta em todos os problemas com o roubo, enquanto em 2001: Uma odisséia no Espaço, toda uma missão tripulada depende de uma inteligência artificial (que não pode ser desligada ou suspensa facilmente).

A grande questão ou o ponto mais importante (afinal, de novo, os erros dos personagens movem a história) é que os roteiristas precisam entender isso e trabalhar com esses elementos. Os personagens precisam cometer erros, enquanto os roteiristas não podem.

É esse trabalho (hercúleo) de fazer com que os erros dos personagens façam sentido (mesmo se apenas dentro do contexto) que dá o tom de boa imersão, boa qualidade de roteiro e no geral de uma ótima obra, inclusive ao normalizar e estabelecer parâmetros e repetições que devemos esperar (sabe, o Pernalonga que eu citei antes).

Quando os erros de roteiro são percebidos, aí as coisas se perdem e muitas vezes com velocidade - como a segunda temporada de Round 6 que facilmente poderiam condesnar cinco episódios em um único para produzir uma temporada mais interessante - e o público percebe.

Coisas como um casal que termina porque sem isso a trama não se enrolaria por mais duas ou três temporadas em um interminável "será que...?", ou o herói escolhe salvar um vilão maníaco homicida (para que ele viva mais um dia para cometer mais atrocidades) enquanto inocentes sofrem e a lista não para aí obviamente...

Só que, e aí é onde temos que sempre lembrar, o roteiro precisa dos erros e do contexto para funcionar.

Dentro do contexto de O Extermindor do Futuro, faz sentido que as máquinas voltem no tempo para matar Sarah Connor ao invés de voltar no tempo e, sabe, eliminar toda a humanidade e iniciar seu império das máquinas no Egito Antigo em 3000 Antes da Era Comum, né? E mais importante, produz algo muito mais interessante para o público de ver um filme em que Sarah Connor enfrenta um assassino terrível e imparável do futuro nos anos 1980 (que eram o presente quando o filme foi lançado) do que vermos uma garota egipícia do anos 3000 AEC enfrentando uma máquina imparável...

Dito isso, temos que lembrar que uma história raramente acontecerá se um personagem tomar apenas atitudes coerentes e lógicas... Algo como a história de horror coerente de Abed em Community.

O que tudo isso quer dizer? Bem, que, esse monte de críticos de internet que gostam de estabelecer teorias sobre como uma história não aconteceria se determinado fato fosse mudado, estão não apenas repetindo o óbvio, mas ignorando completamente o propósito do conteúdo do qual estamos discutindo. De novo, histórias dependem de erros e decisões estúpidas dos personagens para acontecerem.

O problema se dá com roteiros ruins e decisões ruins dos redatores e isso é o que temos que destacar e apontar quando distraem os pontos de uma história.

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