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7 de outubro de 2021

{Resenhas na minha mão é mais barato} Wanda can f*** herself

Wandavision (Disney) e Kevin can F*** himself (no Brasil, Amazon Prime) são basicamente a mesma série... Histórias sobre pessoas presas em uma realidade que não construíram (sim, sim, Sérgio Aragonés já fez essa piada, mas, quem além de Pablo Escobar esteve preso em uma prisão que construiu?).

E são sintomas de dois pontos específicos da produção de entretenimento moderna: A busca pela própria identidade E o uso de metalinguagem como muleta quando não existe um roteiro bom o suficiente.

Do primeiro, bem, muitas histórias vem lidando com o dilema existencial do ser e muitas vezes mais que isso de pertencer (sim, eu queria escrever 'pertenser' mas o erro gramatical soou ruim demais), e isso faz parte de dramas, comédias e basicamente tudo deste lado do Éden com vários graus de qualidade.

Do segundo, bem, já foi usado e abusado por diversos conteúdos e com vários graus de sucesso, ainda que eu diria que com mais fracassos que alguns eventuais sucessos. Romper a quarta margem funciona melhor quando o autor segue uma toada humorística ou propõe algum elemento de reflexão mais complexo, e, mesmo gente que realmente domina a arte consegue fracassar retumbantemente com isso (Grant Morrison fez muito uso de metalinguagem e enquanto Homem Animal é fenomenal, seu uso em outras séries, como o Multiverso ou Crise Final, bem, meh é uma palavra que descreve adequadamente).

Com Wandavision talvez a série funcione para quem nunca leu quadrinhos na vida, afinal, esse é um tipo de clichê que já foi usado à exaustão (o vilão da vez aprisiona os heróis em uma realidade alternativa e pequenas peças e elementos dão as pistas para encontrar seu caminho de volta para casa). É a trama que Kurt Busiek usa para reiniciar os Vingadores em 1998, e, francamente eu já perdi as contas de quantas histórias desse tipo eu li. E, francamente, também é um clichê para seriados e televisão (droga, até o segundo jogo do Super Mario é só um sonho).

Mas, sei lá, pra mim é justamente o fato que durante a série aparecem 'intervalos comerciais' e outras piscadelas para o público que deixa realmente claro e direto que, bem, só os episódios finais vão importar de fato. Somente quando o plano maligrino do vilão e suas motivações foram reveladas e isso apontar para o próximo grande evento e filme ou seriado (afinal, é o MCU) é que sairemos do território da encheção de linguiça para entrar de fato na história... E a história é rasa e pouco interessante que, de fato, não conluirá até que o Doutor Estranho ou o Homem Aranha salvem o multiverso ou qualquer que de fato seja o que esses filmes vão abordar.

Portanto, Wandavision é somente prólogo. E qualquer pessoa que tente argumentar pela genialidade do seriado, tente lembrar que um dos episódios traz o vencedor do Oscar Paul Bettany engasgando em um chiclete e mudando de personalidade. Hilário!

E sim, é bem melhor que a ideia de um fã que pode salvar e redimir o mundo como os Vingadores da Square Enix, mas aquilo lá é toda uma outra lata de vermes que eu não quero nem chegar perto de comentar.

Com Kevin can F*** o sentido é um tanto oposto, pois a ideia é boa e o primeiro episódio realmente interessante (e até mesmo devastador), mas a série logo cai nos clichês de narrativa mal construída, e, obviamente uma cidade de centenas de milhares de pessoas vai ter sempre as mesmas duas ou três figuras aparecendo aqui e acolá (porque obviamente nós vivemos nos trombando com pessoas o tempo todo). Até acho que o resultado é muitas vezes melhor que do seriado da Disney e a ferramenta aqui é muito mais uma condição do estado de espírito da protagonista que, bem, um plano do vilão da semana para orquestrar a próxima fase de uma franquia multibilionária, mas, ainda não é exatamente algo nem interessante ou bem executado.

A ideia é melhor que a história, inclusive o quanto mais você pensa no que se passa por 'história' (sim, o marido dela sempre apronta "altas confusões", e tudo bem que ela vislumbra uma vida melhor, mas, sério que ela passou dez anos sem olhar os extratos bancários ou conferir o saldo ao menos uma vez?), mas a atuação é sólida e, bem, o material pelo menos ousa e busca algo bem diferente do que existe por aí.

Então, Wanda can F*** herself junto com o Kevin, e a série da Amazon merece bem mais destaque e comentário, e, quem sabe, uma nova temporada com melhor roteiro para se aproveitar da mecânica que desenvolveu. 

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