Continuando os posts iniciados em Abril, a parte 3 da história do Blockbuster chega à década de 1990, aquela cujo filme mais notável, marcante e memorável veio bem nos 45 do segundo tempo e é o único que obviamente todo mundo ainda se lembra, o Matrix.
Mas verdade seja dita que a década trouxe a retomada da Disney com animações de primeira grandeza como a produtora só via quase meio século antes. A Pequena Sereia de 1989 foi um grande sucesso, mas foi com A Bela e a fera de 1991, que além de levar DOIS Oscars e a indicação do prêmio de melhor filme (sim, mesmo sendo uma animação) que o estúdio realmente se reinventou, e passou a fazer golaço após golaço.
Aladin (1992), O Rei Leão (1994), Toy Story (1995) pra focar nos enormes sucessos, além de Pocahontas (também 1995) Hércules (1997), Mulan (1998) e Tarzan (1999, também levando um Oscar de melhor canção).
Spielberg também lançou uma grande produção com o excelente Jurassic Park de 1993, enquanto, já na década de 1980 tentava encontrar uma voz cada vez maior de diretor competente e capaz de lidar com temas espinhosos e difíceis (como com A Cor Púrpura de 1985, Império do Sol de 1987, Amistad de 1997 e claro, seu grande destaque nessa área, A Lista de Schindler de 1993). De seus amigos, George Lucas estava um tanto quieto desde o fracasso de Howard, o Pato de 1986, e só voltou a dirigir em 1999 no grande lançamento do mais odiado filme da franquia Star Wars, A ameaça fantasma.
Kubrick, meio doente meio desgostoso por não conseguir financiar seu grande projeto sobre Napoleão ficou de 1987 a 1999 sem lançar nada, e o filme de 1999, De Olho bem fechados, foi seu último.
Na área dos arrasa quarteirões mesmo estavam as comédias bonachonas estreladas por Jim Carrey (Ace Ventura, Debi & Loide e o Máscara), enquanto estúdios falhavam em encontrar um equilíbrio entre pretensão e talento conforme atores de sucesso como Kevin Costner (O Guarda-Costas de 1992 e Dança com Lobos de 1990) vê fracassos com o caríssimo Waterworld: O Segredo das Águas de 1995 seguindo de outro fracasso com O Mensageiro de 1997.
Outros nomes certeiros como Arnold Schwarzenegger (que eram certeza de grandes bilheterias nos anos 80) viram fracassos inúmeros começando com O último grande herói (1993) e seguindo por quase todo o restante da década com True Lies (1994), Júnior (também 1994), Um herói de brinquedo (1996) e, obviamente, Batman e Robin (1997) e o filme em que Arnold enfrenta o diabo e impede o apocalipse (sim, é isso mesmo) Fim dos Dias (1999), enquanto isso despontava um jovem Will Smith com os Bad Boys (1995), Independence Day (1996) e MIB (1997) como uma aposta mais certa...
Até as Loucas Aventuras de James West de 1999 e Lendas da Vida no ano seguinte.
Fora isso? Bem, são vários outros filmes independentes de menor orçamento ganhando notoriedade (seguindo a linha dos filmes de terror das décadas de 1970 e 1980), com Spike Lee (começando em 1989 com Faça a Coisa Certa e seguindo com o ótimo Malcolm X de 1992), Paul Thomas Anderson (Magnólia, Jogada de Risco), Kevin Smith (O Balconista, Perdidos no Shopping), David Fincher (que começou com o terrível Alien³ mas se recuperou com Se7en e Clube da Luta) e Quentin Tarantino (acho que dispensa apresentações, né?) ganhando destaque em meio a um enorme marasmo de criatividade que foram os anos 90, enquanto os grandes estúdios apostavam mais em filmes que mirassem o sucesso nos Oscar, geralmente obras de época como o já citado Dança com Lobos de 1990, O último dos Moicanos (1992), Coração Valente (1995), O Paciente Inglês (1996), Shakespeare Apaixonado (1998) e o grande sucesso de bilheteria Titanic de 1997.
E isso se deu em grande parte em virtude de uma grande mudança de paradigma no consumo de entretenimento que, até o momento, era bem diferente: Os videocassetes em quase todas as casas. Com os videocassetes redes de aluguel de videos como a Blockbuster foram se propagando e propiciando aos espectadores assistirem no conforto de seus lares aos filmes de sua preferência, fossem filmes antigos, filmes novos ou mesmo alguns exclusivos ao consumo doméstico.
Filmes de terror como Bonecos da morte, Palhaços Assassinos do Espaço Sideral só para citar alguns exemplos (até pelo excesso de violência mais facilmente aceitos no consumo individual que quando visto por centenas de espectadores simultâneos) e mais uma leva de filmes conseguiram culto do público pela disponibilidade doméstica assim como dezenas e dezenas de filmes ao longo dos anos, mudando a perspectiva (e o cenário) nos anos que viriam.
No fim, seria a década de 1990 uma década perdida de fato, como tantos querem efetivamente dizer?
Não vejo isso dessa forma. Riscos muito maiores foram tomados nestes dez anos que nos últimos vinte, vide o fiasco de Waterworld comparado com uma nova trilogia de Guerra nas Estrelas, com uma trilogia do Hobbit e quase 20 filmes da Marvel em 10 anos.
Mais que isso, grandes cineastas que ainda hoje estão figurando com projetos espetaculares surgiram desse período, e mesmo a mudança em nossa interação com o cinema, diminuindo o status e importância das salas, poltronas e tudo mais para a experiência cinematográfica, mudou bastante na perspectiva dos estúdios e na produção de filmes como um todo (levando as produções originais da HBO e o nascimento da Netflix ambos a partir de 1997).
Sinceramente, se é pra falar de década perdida deixe-me falar sobre os quadrinhos nesse mesmo período...
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