Começando as resenhas dos livros das Crônicas de Gelo e Fogo (que provavelmente não terminarão antes da última temporada do show da HBO), aqui vão minhas impressões do primeiro livro da série lançado em 1996.
Acho curioso como alguns anos antes em 1993 o polonês Andrzej Sapkowski lançava sua própria grande saga de capa e espada, e até alguns dos temas de traições, conspirações e mais uma alta dose de temas sejam compartilhados - ainda que não sejam de todo avessos ao gênero da fantasia. Mas o crédito onde lhe é devido: Martin consegue construir um mundo mais interessante.
Ainda que o mundo de Sapkowski tenha desde o primeiro livro figuras míticas em abundância (de gênios milagrosos, feiticeiras, lobisomens e tudo mais que se imagine) compartilhando aqui e acolá o espaço do protagonista Geralt com fábulas como a Branca de Neve e similares em visões revisionistas e pós-modernas de seus contos, Martin constrói um mundo bastante sóbrio que calha de existir num cenário medieval.
Ainda que dragões e monstros venham a fazer grande parte do teatro que se arma, nesse primeiro fascículo são somente homens, mulheres e crianças que surgem por todos os cantos e tem suas histórias contadas. Verdade seja dita que nem todas as jornadas são interessantes (como a de Bran do começo ao final) ainda assim o autor consegue dar voz a cada personagem em seus capítulos particulares.
Cada capítulo que tem como título o nome do protagonista (como Arya, Tyrion, Jon ou Daenerys por exemplo) soa único e com a voz de cada um desses protagonistas mesmo que as histórias se cruzem e entrelacem e isso constrói uma rica e poderosa narrativa, mesmo com a massiva quantidade de personagens e páginas.
Ainda assim cada capítulo além de único consegue trazer algo de interessante e relevante. Cada passeio no bosque apresenta perigos e cada reunião pode terminar com alguém morto ou ferido... E isso funciona por mais ou menos uns 70% do livro, perdendo bastante força no terceiro ato.
Quer dizer, o livro começa como malabarismo com duas bolinhas de tênis rodopiando pelo ar, em breve são quinze e quando se tem em conta existem cinco pessoas atirando entre si objetos e um departamento de contabilidade para analisar se tudo está fluindo corretamente...
No terceiro ato tem uma guerra acontecendo enquanto um dos protagonistas está preso e em dois extremos dois outros protagonistas enfrentam problemas bastante peculiares (mas que de nada impactam quaisquer das outras tramas). E além disso ainda tem todos os demais personagens, inclusive os que são relevantes mas são apenas citados na história (como o irmão do Rei que está somente tramando sem aparecer em nenhum momento no livro todo)...
Dava pra reduzir o escopo e manter mais foco nos eventos relevantes, cortar todas as lições de história irrelevantes (esse é o local onde aprendeu a pescar o sor Janus de Uranus, primeiro de seu nome, vassalo de ...) porque a história é muito boa e muito bem contada.
Como disse, cada capítulo tem a voz de seu protagonista, cada personagem parece distinto e soa como um indivíduo... Mas ainda assim não impede o livro de se perder em si próprio (eu tenho quase certeza que o livro diz com todas as letras que um personagem morreu e que trazem a cabeça dele para ele aparecer todo feliz e faceiro em outro capítulo - e nem é um daqueles nomes irrelevantes e notas de rodapé que seria fácil de se perder) e acabar enrolando muito mais que o necessário para chegar onde quer.
Se for pra comparar com o seriado, bem, vale a pena ver ao menos alguma coisa para facilitar a associação de nomes com rostos (afinal são MUITOS nomes), pelo menos dos protagonistas, mas acaba estragando mais cedo ou mais tarde pontos chave do livro, e o livro é bem melhor na forma de seguir a narrativa... Mesmo que alguns capítulos pareçam (e sejam) desnecessários.
Nota: 8,0/10
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