Depois da morte de Pablo Escobar (que foi o pilar das duas temporadas, e, por bem ou por mal é a figura mais notável da história do tráfico colombiano), Narcos acabou em uma sinuca de bico ao tentar continuar sua história.
É como A Família Soprano sem Tony, por exemplo.
Não é que seja impossível continuar, mas, para todos os efeitos e causas é um bicho completamente diferente.
Também não é intrinsecamente bom nem ruim em sua estrutura, somente diferente, e daí depende o talento e capacidade de quem pretende contar uma boa história, e, apesar de todo e qualquer pesar, vejo um saldo positivo da terceira temporada de Narcos em aproveitar essa condição para se reinventar e fazer algo, que ainda que na mesma linha (de contar a história da guerra ao tráfico na Colômbia), mantém focos diferentes (não mais nos antagonistas, mas nos conflitos internos dos personagens).
A mudança de foco também tem sentido narrativo, afinal, a forma de agir do antagonista também é diferente.
Escobar era um sujeito emocional, e ao mesmo tempo exibido. Alguém que construiria um zoológico em sua propriedade particular e que não teria medo de cometer crimes chamativos (que alguns chamariam de atentados terroristas) enfrentando literalmente a lei e o crime ao mesmo tempo.
Ele era algo como o Coringa - sem o cabelo verde.
O Cartel de Cali, por outro lado agia de maneira mais clandestina, agindo nas entrelinhas, subornando e comprando o seu caminho (sujando o mínimo possível suas mãos) e, mais até do que isso, há uma enorme mudança na casa branca (com a chegada de Clinton nos anos 90 sendo o primeiro democrata desde Jimmy Carter no final da década de 70), que resulta numa mudança das táticas e práticas dos adidos americanos (como o DEA e a CIA) na região.
Então acaba mais sobre corrupção e investigações empresariais que qualquer outra coisa.
Mesmo que a terceira temporada não seja tão boa quanto as anteriores, e, talvez nem fosse de fato uma temporada necessária para o seriado, mas, francamente não vejo como se comprometesse.
A jornada de Peña para lidar com seus acordos no passado para derrubar Escobar é um paralelo interessante sobre toda a natureza da situação - e da interferência norteamericana na região. Quase se resume no argumento do agente da CIA sobre como a guerra às drogas estava perdida (e a ação toda era nula e inútil, apenas uma justificativa para angariar fundos). Quer dizer, no final da temporada tem uma bela reviravolta que justamente este agente da CIA vem para revelar - e que faz bastante sentido com todo o material apresentado.
Também há a jornada de Jorge Salcedo, quase claustrofóbica enquanto ele tenta fugir de sua situação cada vez mais complicada, e, no meio disso tudo estão os dois agentes novatos Feistl e Van Ness, que em partes tem de se adaptar ao cenário que lhes foi vendido sobre o que seria a guerra às drogas e o que realmente encontram com a corrupção na Colômbia.
É bom, sim, mas não tem o mesmo gás das outras temporadas, mesmo que com bons roteiros e uma excelente construção em vários dos cenários e cenas (a trama de Jorge sempre correndo para continuar no mesmo lugar é incrível, e mesmo a dualidade do Peña é sensacional).
Nota: 8,0/10
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