Equador de Miguel Sousa Tavares publicado originalmente em 2003 e lançado pela Cia das Letras em 2011 sobre a colônia portuguesa de São Tomé e Príncipe, sua exploração de cacau e a noção de trabalho no início do século XX. E antes de falar qualquer coisa de negativa sobre o livro (e sim, eu invariavelmente terei de fazê-lo) eu preciso frisar de maneira inequívoca e irremediável que esse livro é brilhante e você deve ler.
(Mas não, ao contrário do meu surto com o livro de Jô Soares por ter uma revisão bibliográfica, aqui pareceu beeem mais natural, ainda que desnecessário afinal é uma obra de ficção)
(Mas não, ao contrário do meu surto com o livro de Jô Soares por ter uma revisão bibliográfica, aqui pareceu beeem mais natural, ainda que desnecessário afinal é uma obra de ficção)
E comprar uma cópia para a sua mãe, o seu vizinho, seu tio racista que aparece no jantar de Natal para contar aquela piada ridícula que perdeu a graça quatro Natais passados e quem mais você puder se lembrar. Droga, eu mesmo iniciaria uma petição para que esse livro se tornasse leitura obrigatória para o vestibular da Fuvest (se eu soubesse ao menos o primeiro passo para submeter algum livro ao crivo dessa avaliação).
Talvez, mas aí é mais da minha opinião particular, seja interessante acompanhar em conjunto os ótimos livro de Mia Couto sobre a outra colônia portuguesa, Moçambique, na ótima trilogia As Areias do Imperador para conhecer um pouco mais dessa conturbada história e seus atores (o ilustre Mouzinho de Albuquerque, o Tenente Ayres de Ornellas e por aí vai).
Então, sim, ele é um livro não apenas bom, não apenas excelente como algo que precisa ser lido, discutido e repensado sobre o que sabemos (seja da história da colonização e exploração colonial na África, seja da história portuguesa que tão raramente nos é discutida, e principalmente a história das condições de trabalho no início do século XX).
Ok? Ok.
Então eu preciso dizer com todas as palavras necessárias e imagináveis que eu abriria mão de umas cento e tantas, quase duzentas páginas do livro sem muita preocupação. Ou esforço.
Tudo bem que talvez seja o tipo de coisa que agrade a alguns leitores, mas todo o papo sobre os casos e romances e idas e vindas de relacionamentos, ainda que muito bem escritos, que coerentes com a história e o contexto, ao meu ver poderiam ser limados sem prejuízo algum à obra (pelo contrário, aumentando a fluidez e enfatizando a história que realmente importa), pois vejo na mensagem sobre a discussão da situação política das colônias, sobre a terrível condição de trabalhadores e todos os subterfúgios adotados para parecer que tudo estava normal (e o quanto isso tudo se parece mais e mais com o que temos no mundo de hoje com as empresas da indústria de moda utilizando trabalho escravo e jogando denúncias para debaixo do tapete como se de nada valessem).
E eu entendo - e não discuto - que faz sentido que o livro foque na vida e caráter dos personagens para torná-los mais tridimensionais e oferecer maior contexto para suas ações e decisões como, inclusive, contraste ao debate complexo que os cerca, e, de novo, destaco que mesmo que eu editaria com força um bocado desse material (inclusive o nulo e sem a menor importância prefacio), ele é bela e brilhantemente escrito.
Mas olhando em retrospecto, observando o conteúdo e o contexto, chega a parecer como duas coisas completamente diferentes ainda que no mesmo local... Meio que como clara e gema, se você precisa de uma ilustração - e enquanto eu entendo quem diga que um não existe sem o outro, eu ainda discuto que existe uma boa razão pela qual ambos são distintos e não uma coisa apenas.
Repito, é um livro excelente, e, se você só ler um único livro esse ano, que seja esse. Ainda assim, continuo desconfortável com o fato que destas quinhentas e tantas páginas, daria para tirar um bocado delas com os tórridos romances sem perder a história que vale a pena ser lida.
Nota: 8,5/10.
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