Explicar o fim de Twin Peaks não é exatamente suficiente então esse espaço fica para explicar um pouco melhor o todo da série e os mistérios que a envolve.
Primeiro, é preciso entender que o diretor David Lynch não é um diretor convencional, e, seu uso excessivo de imagens desconcertantes e aberrantes tem normalmente um propósito muito mais lógico que aparente.
É como Eraserhead que é um filme sobre um homem que vivencia toda uma sorte de horrores (com um filho nascendo de um ovo com uma aparência grotesca e seu cérebro sendo usado para produzir aquelas borrachas que se grudam em lápis) servindo como uma analogia sobre a vida adulta e paternidade.
Twin Peaks tem uma condição semelhante, principalmente por ser um seriado lançado numa grande rede de televisão nos anos 90, e, com isso o show brinca com clichês televisivos para flertar com seu tema central através de distrações e analogias.
Veja, sem os demônios transdimensionais, os alienígenas gigantescos e os anões dançarinos, a trama do show que é a história de uma garota abusada pelo pai que recorreu a drogas e prostituição seria bem diferente, bem mais soturna e indigesta. Esse é um dos primeiros pontos - pois esse tipo de assunto que ainda hoje é de difícil digestão, não seria menos tabu quando Lynch lançou o seriado.
E digo isso ressaltando que Game of Thrones, da HBO, gerou enorme repercussão recentemente pelas cenas de estupro, e a HBO é um canal de tv a cabo, com maiores liberdades e controle autoral então fica mais fácil imaginar numa emissora pública a ABC (emissora de vários shows sacarina como Full House e Cheers), há vinte e cinco anos atrás a ideia de lidar com sexo abertamente não seria muito bem aceita.
E, claro, não vamos esquecer que o show traz também um dos primeiros (e talvez mais famosos) personagens trangeneros da história da televisão (Denise, interpretada por David Duchoviny), e, talvez o fato mais curioso e bizarro sobre isso é como a personagem se integra facilmente e bem à trama (a ponto de ser prontamente aceita sem muitos questionamentos, algo que nos dias de hoje ainda soa um tanto difícil).
E, claro, não vamos esquecer que o show traz também um dos primeiros (e talvez mais famosos) personagens trangeneros da história da televisão (Denise, interpretada por David Duchoviny), e, talvez o fato mais curioso e bizarro sobre isso é como a personagem se integra facilmente e bem à trama (a ponto de ser prontamente aceita sem muitos questionamentos, algo que nos dias de hoje ainda soa um tanto difícil).
Por isso é tudo bem mascarado e disfarçado como um meandro, como um disfarce.
E enquanto alguns mistérios são mais complexos (ou fazem mais ou menos sentido), a grande questão revolve sempre sobre a censura e as formas de abordar e lidar com o tabu sem endereça-lo diretamente.
Quer dizer, fica bastante claro que um dos personagens homens foi molestado quando pequeno (a construção de frases todas cheias de duplo sentido dá o tom), e que isso o jogou no rumo dos eventos da série.
E até é um dos grandes pontos que, o agente especial do FBI Cooper destaca, quando de sua absurda teoria de que um demônio de outra dimensão possuiu o assassino, ao perguntar: E no que exatamente a teoria pé no chão é melhor?
Quer dizer, coerente, claro, mas 'melhor'? Melhor mesmo seria que a garota estivesse viva (sem ser explorada por predadores sexuais, vendedores de drogas e donos de puteiros) e se formando, não é mesmo?
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