E aqui vamos nós com mais uma ideia de um projeto periódico, agora para alternar com Analisando Arkham (que passa a ser 'quando-der-zenal' assim como esse), que tem um propósito bastante simples: Explicar o final de séries, livros, filmes de maneira simples e coerente.
Eu até já fiz isso com O Mágico de Oz (e o álbum Dark Side of The Moon) ou 2001: Uma odisseia no espaço, mas foram outros momentos e com outras temáticas. Aqui é mais simples e direto.
E como melhor começar que a morte de Sherlock Holmes?
Sherlock Holmes é um dos mais notórios detetives da ficção literária, criado por Arthur Conan Doyle em 1886 na novela detetivesca "Um Estudo em Vermelho", e devido ao sucesso encontraria publicações por um longo período na Strand Magazine com histórias curtas - além de mais três outros romances.
Na história 'O problema final' (1893), Holmes se depara com seu maior inimigo, o brilhante e maligno Professor Moriarty e num embate derradeiro acabam por ambos morrerem nas cataratas de Reichenbach na Suíça...
A história é retratada com bastante fidelidade na espetacular série da BBC Sherlock (2010), no episódio final da segunda temporada "The Reichenbach Fall" (2012).
Mas Sherlock (e Moriarty) sobrevive(m).
Como, caro leitor?
Bem... Vamos por partes.
A da série é um pouco mais fácil, então comecemos com ela.
Sherlock sabia de antemão que poderia ter de forjar a própria morte (esse é um ponto crucial no episódio, quando ele inclusive estende a mão em súplica para a médica legista Molly do hospital Saint Bartholomew), então ele estabeleceu um plano lógico de ação.
Teatralizar sua própria morte com alguma audiência que possa oferecer credibilidade ao ato, e é um grande espetáculo (um salto do topo de um prédio bastante público).
Porém... Não é um prédio realmente alto.
Como você pode ver aqui abaixo, são quatro andares (quatro e meio se contar que o térreo é mais alto).
Um chileno sobreviveu uma queda do DÉCIMO SÉTIMO andar esse ano, e, se você conferir esse wikihow, pode ver que existem noções bastante práticas sobre como escapar a uma queda dessa natureza. Muitas delas Sherlock pôde fazer uso (relaxar o corpo, dobrar os joelhos, cair com os pés - e posteriormente tombar para um lado, protegendo a cabeça ao quicar - e principalmente buscar socorro médico imediato, já que estava diante de um hospital onde trabalha uma legista - que forjaria o atestado de óbito - avisada previamente!!!)
A série deixa claro desde o começo que Sherlock é um gênio capaz de buscar soluções e pensar rápido (principalmente sob pressão), algo que ele vem a fazer em outros momentos como quando é alvejado na terceira temporada e raciocina rapidamente sobre a melhor maneira de tombar para evitar uma hemorragia. Não parece difícil crer que ele saiba como sobreviver uma queda de quatro andares.
Mas e Moriarty? Ele coloca um revólver na boca e puxa o gatilho... Como ele sobreviveria?
Bem, mais ou menos a mesma coisa, com bastante teatralização em um elaborado truque de mágica (como tudo que o personagem faz até então - elaborado e impossível para meros mortais).
Ele é um gênio capaz de saber todos os condicionantes sobre uma arma (que ele carregava no bolso) e como ela afetaria/agiria caso ele puxasse o gatilho (Gametheory explica bastante como um tiro de uma 9mm não é fatal).
Se ele puxou o gatilho com um revolver de verdade para disparar uma bala, ele saberia onde e como mirar para a bala atravessar limpa, no máximo o incapacitando, mas... Moriarty poderia somente fingir a própria morte (com uma bala de festim e teatro que simulasse a própria morte e forçasse Sherlock a ou mostrar sua mão ou perceber seu blefe), e de toda maneira é uma forma coerente com o andamento de seu plano para permanecer vivo e ver o resultado do que orquestrou.
Se ele puxou o gatilho com um revolver de verdade para disparar uma bala, ele saberia onde e como mirar para a bala atravessar limpa, no máximo o incapacitando, mas... Moriarty poderia somente fingir a própria morte (com uma bala de festim e teatro que simulasse a própria morte e forçasse Sherlock a ou mostrar sua mão ou perceber seu blefe), e de toda maneira é uma forma coerente com o andamento de seu plano para permanecer vivo e ver o resultado do que orquestrou.
De toda a maneira, a ação de Moriarty mostra a mão que tem (ele não cederia à pressão ou recuaria de modo algum, e, mesmo que Sherlock verificasse que ainda estava vivo, Moriarty dificilmente estaria apto a falar ou se comunicar com seus capangas) e a ineficiência do plano A de Sherlock em derrotar Moriarty em seu próprio jogo.
Claro que pode ser algo mais estúpido também (irmão gêmeo maligno, ator ou algo que o valha)...
E isso tudo justifica o hiato de três anos dado pela série entre a 'morte' e o retorno de Sherlock (buscando todo e qualquer indício do fim das operações criminosas de Moriarty - e do próprio).
Agora falta a parte dos livros, e, como eu falei antes ela é um pouco mais complicada...
Prepare-se:
1) É importante destacar que o motivo da morte de Holmes nos livros se deve por um motivo bem mais simples que qualquer outro: o autor estava cansado de escrever suas histórias e por isso matou o personagem.
Puro e simples.
Sem Holmes sem novas histórias, certo?
Bem... Digamos que os fãs não aceitaram exatamente tão bem assim e as vendas da Strand Magazine despencaram, ao que o autor resolveu que teria de 'desfazer' a morte do consultor detetive, então toda 'explicação' será obviamente rocambolesca pois ele de fato morreu se considerarmos o contexto, mas como o autor resolveu que é possível sobreviver uma queda numa cachoeira, bem, porque não...?
2) Aqui também é importante destacar as "Sociedades Sherlockianas" (grupos de fãs devotados à série literária e que formulam teorias para explicar os lapsos, falhas e toda e qualquer condição do cânone). Considerando as interpolações desses fãs, todas as narrativas dos livros foram contadas por Watson (bem, admite-se que algumas não foram, mas isso é história para outro dia), assinando como Doyle.
Sim, isso mesmo: O personagem fictício usa o nom de plume da figura real (de novo, sim, é um pouco mais complicado que isso, porque algumas sociedades definem que Watson contava as histórias para Doyle ao invés de assinar como o autor).
Dentro disso, existem duas perspectivas importantes.
A primeira, mais simples, que no momento da ação na cachoeira suíça, é que Watson estava longe do foco de ação, e pode ter concluído mais coisas que de fato viu, inclusive, como é de teoria de sociedade sherlockiana, exagerando relatos do passamento do detetive para este pudesse terminar o trabalho das investigações para desbaratar a organização do professor Moriarty.
A segunda é um tanto mais realista. Watson é um médico com uma vida basicamente suburbana e tediosa e para escapar um pouco desse tédio cria histórias fantásticas sobre pessoas que não existem.
De um amigo detetive consultor que soluciona crimes fascinantes com seu poder dedutivo - e pode muito bem fazer tudo sozinho, mas ainda assim aprecia a companhia do médico.
Watson se enche das histórias em dado momento e 'mata' Holmes, para depois ver que sua vida suburbana se torna um tédio e resolve dizer que Holmes de fato não morreu...
3) Mas, e, se ele e Moriarty de fato caíssem na cachoeira de Reichenbach... Como eles poderiam sobreviver?
Primeiro, veja a cachoeira:
Ainda que a região tenha mais de uma cachoeira, e seja possível considerar uma gama de possibilidade para queda d'água, a verdade é uma só, no contexto da obra original (ou seja, em 1893 sem um hospital ou pronto socorro por perto), claro que é possível sobreviver a queda de uma cachoeira... Exemplos são fáceis de achar (como esse de uma senhora de 56 anos que escapou de uma queda d'água de 30 metros), só que só existe uma resposta para o 'problema final' em questão.
A resposta simples, só com muita sorte.
A velocidade da água acelera a queda que adicionando pressão contra as pedras facilmente quebraria ossos (e pior), e a água também complica a condição de proporcionar algo no que se agarrar para abafar um pouco a queda. Mesmo considerando que ambos estivessem no auge de sua destreza física ou que pudessem preparar algum recurso para facilitar a sobrevivência dadas as circunstâncias, além de mágica e sorte não existe uma explicação para que qualquer um dos dois chegue vivo ao ponto mais baixo da queda. E não vamos esquecer da hipotermia...
Portanto a dedução mais coerente é de que forjaram a própria morte (sabendo que as pedras desfigurariam um cadáver, trocaram de roupas com algum dos capangas de Moriarty ou algo que o valha)...
4) A resposta propriamente dita está em uma das aventuras posteriores ao evento, quando o próprio Holmes explica como sobreviveu, e, com o retorno de Moriarty, o próprio também explica sua sobrevivência, portanto o 'enigma' sobre a reposta do final da segunda temporada de Sherlock é um pouco maior (pois continua - e provavelmente continuará - sem uma resposta oficial).
Nenhum comentário:
Postar um comentário