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19 de agosto de 2015

{EDITORIAL} Qual o pior livro que já li?

Essa é uma pergunta bastante comum que todo mundo ouve um dia ou outro, e, não se restringe a um meio (filme, seriado, quadrinho, jogo de rugby do campeonato australiano de 1929)... E essa é aquela pergunta que ao mesmo tempo é divertida (pois permite discutir coisas ridículas e absurdas) também é elucidativa (joga luz sobre a visão de mundo que nós temos) mas um tanto polêmica e talvez preocupante (pois como é elucidativa pode expor uma visão meio crítica que gostaríamos de esconder, como uma visão racista e/ou preconceituosa).

Eu particularmente acho difícil responder essa pergunta por uma série de motivos, e, até por isso o editorial. Por exemplo, eu já li muita merda na minha vida (e quando eu digo muita, é MUUUITA mesmo), e, eu confesso que me diverti bastante com uma cambada dessas bobagens, em parte porque não me levava tanto a sério e acho que esse material também não.
Claro, nos quadrinhos eu vi muito mais porcaria que em livros (Sim, Homem Aranha vendendo o casamento pro diabo para tirar uma bala da Tia May ou um vilão dos X-men que é um irmão gêmeo maligno do futuro que volta no tempo para incriminar o irmão... Ou o Batman investigando qual Beatle está morto a partir das capas dos discos) e livros infanto-juvenis tem a comum tendência de, por serem voltados a um público menos crítico serem menos rebuscados (A Coleção Vaga-Lume é um exemplo perfeito).

Mas, verdade seja dita, muita coisa ruim que eu li não me incomodou, e acho que esse é o meu divisor de águas para definir o que eu acho realmente ruim.
Sim, a semi-biografia da Bruna Surfistinha (é, eu li) é uma merda, sem nenhum valor literário ou qualidade narrativa ou qualquer outro insulto sem imaginação que já foi feito ad infinito. Mas me incomoda? Não. O que eu esperava do livro de uma garota de programa que se batiza 'Surfistinha'?
Sério, alguém imaginava ou esperava um material digno de Nobel de literatura? De Academia Brasileira de Letras? Qualé...
Existem alguns piores que são 'consenso' sobre como são ruins e blá-blá-blá (Crepúsculo ou 50 tons de Cinza), mas que eu particularmente não vejo motivos para tanto. Verdade, eu não li, mas EU NÃO SOU O PÚBLICO ALVO DELES!
Claro que qualquer um pode ver os aspectos técnicos (se eu ler um artigo de Oncologia, sou capaz de julgar se está bem escrito ou não...), mas e o conteúdo (... ao passo que não faço ideia se os termos usados são coerentes)?

Ao mesmo tempo, os livros de George R R Martin me incomodam, e, eu nem os acho de fato ruins (com exceção do quinto, ainda que o quarto não tenha passado de ruminação masturbativa), que, quero deixar claro, o primeiro É excelente, muito bem conduzido e escrito...
Aí ele caga em toda a intriga política e conspirações com um demônio feito de sombras (que é conjurado/produzido por uma das personagens) enquanto dragões e zumbis de gelo vão surgindo nos extremos da história. E ele até se recupera com o excelente Casamento Vermelho do terceiro livro...
E caga de novo com o acovardamento NO MESMO LIVRO do 'Casamento Púrpura' (e, como já mencionei, o fato que os livros não acabam ali). E isso me incomoda porque seria uma série tão mais fascinante se mais contida (três livros seriam de excelente tamanho - sem a necessidade de dragões, monstros, demônios ou o que fosse POIS JÁ EXISTEM COISAS INTERESSANTES SUFICIENTES!!!).
Droga, a personagem Arya Stark de quem os fãs tanto gostam perde completamente seu propósito após o terceiro livro (90% de quem ela quer se vingar morreu!)...

Livros de auto ajuda ou biografias, ao mesmo tempo são uma área da qual eu detesto tanto que, inerentemente poderia dizer que sequer são literatura (e realmente não considero como sendo).
Auto ajuda DEVEM ser técnicos e estruturados em práticas.
Biografias DEVEM ser jornalismo e estruturados em fatos.
E ainda que 99,999999% não sejam assim, eu passo longe deles ao que vejo que não sou público alvo disso pois sei que vai me irritar.
Enfim, acho que isso deixa bem claro o quão tenebrosa a discussão sobre 'pior', e, mais que tudo, que ela depende demais da subjetividade (estão restritos ao espectro de leitura de quem faz o julgamento e ao corpo de critérios estabelecidos por esta pessoa).

Isso quer dizer que eu vou fugir da pergunta?
Claro que não! Só que ela não é um único livro...
É 90% da obra do Stephen King, o 'mestre' do horror.
E não é porque ele traz uma cena de orgia entre adolescentes de 11 anos em It - A Coisa (e o livro tem quase 1000 páginas de uma absurda e sem graça história), não é porque ele reclama que Stanley Kubrick adaptou "O iluminado" removendo as bobagens (como cercas vivas que andam à noite), nem porque eu não consegui passar da página vinte de 'A torre negra' sem achar uma merda.
É por um único livro que, se eu tivesse que revisar algum dia na vida, ele ganharia a nota -1, pois ele não só é ruim como ele me faz perder a fé na humanidade a cada página, pois é impossível que alguém se safe escrevendo tanta merda...

Que livro é esse? "Os Justiceiros" (The Regulators, 1996).

Eu sei, eu sei, "pior que o livro da Bruna Surfistinha?", e eu respondo: Sim.
Não como um filme com Chevy Chase é pior que um filme de Stanley Kubrick, mas, pior como um canal em relação a uma cárie. Se você puder evitar os dois...
É algo tão bizarro e desconexo que acho que a melhor forma de descrevê-lo é com a seguinte analogia: É como se Adam Sandler tentasse explicar com mímica o plot de Twin Peaks.
A história é estúpida (um garoto autista com super poderes que faz com que os brinquedos dele ganhem 'vida' e passem a matar a população da cidade), a forma como ela é narrada é estúpida (sabe quanto tempo você vai demorar para chegar a plot do último parêntesis?), os personagens não tem a menor empatia (ao ponto que conforme vão morrendo é difícil se importar minimamente) e a conclusão é tão babaca, previsível e ridícula como se poderia imaginar.
Nada tem um propósito claro, e fica ainda pior quando as (tênues) explicações começam a surgir... Como de onde vem os poderes do garoto autista (é um demônio transdimensional chamado 'Tak').
E no fim ficam muito mais dúvidas sobre o que de fato era o ponto desse livro, sobre qual era o argumento ou a crítica (seria a exposição de conteúdo violento para crianças? De um autor de conteúdo violento - que acaba chegando para crianças...?)
São tantas hipocrisias, são tamanhos absurdos é tudo tão bizarro que se PELO MENOS fosse divertido, se PELO MENOS não se levasse a sério, eu conseguiria relevar e entender que é uma enorme ironia e pantomima.
Mas é como Randy Marsh de South Park com seu Sarcastibol confuso se ele está sendo sarcástico ou sincero depois de tanto tempo em cima desse muro...

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