Antes de começar, é preciso confessar uma coisa: Eu tenho medo mortal de Mary Poppins.
Não sei exatamente o motivo que me faz preferir assistir a 'O Exorcista' durante uma tempestade com apenas uma vela acesa em toda a casa (e barulhos estranhos pela casa) do que ver assistir ao filme da governanta que voa com guarda chuva, mas eu fujo deste filme como o diabo foge da cruz. É a minha esquisitice e eu passei boa parte da vida ignorando isso (até porque não é o defeito mais perigoso do mundo).
Recentemente vi passando num desses canais de filmes o filme 'Walt nos bastidores de Mary Poppins' (Saving Mr Banks, 2013) e enquanto a performance de Emma Thompson seja efetivamente incrível - e não apenas ela - toda cena em que Tom Hanks aparecia eu não conseguia pensar em nada além de uma piada do filme dos Simpsons, com o mesmo Tom Hanks ("O governo americano não tem mais nenhuma credibilidade então resolveu emprestar um pouco da minha"), Longe do trabalho de Hanks nesse filme ser ruim, por favor, só parece tão magistralmente arquitetado e construído para que ele, que demonstra ser uma pessoa incrível fora das câmeras, seja o Papa sob esteroides.
Pesa muito que é um filme dos estúdios Disney, e ainda mais o quanto o filme se esforça para a construção de uma persona desagradável da autora Pamela Lyndon Travers, inclusive, que acaba contrastando toda a situação e fazendo Walt Disney parecer ainda mais adorável sob a figura de Hanks.
O filme é fantástico nisso. Assistindo é fácil ver um homem gentil, bondoso e que se importa realmente com direitos autorais e o bem estar de outros - e bem mais como um CEO progressista com a boa quantidade de mulheres nos escritórios trabalhando de igual para igual, além de uma imagem de diretor boa praça e acessível.
Só que essa imagem de bom homem cai por terra com grande facilidade com qualquer pesquisa sobre o homem. Não, não é preciso ler 'Para ler Pato Donald' ou pesquisar sobre o relacionamento de Disney com o nazismo, é só ver esse brilhante vídeo do pessoal do Cracked.com sobre a figura, resumindo suas ações para garantir o padrão de qualidade da empresa através de denúncias à polícia de seus empregados grevistas (questionando as longas horas de trabalho por salários irrisórios) como comunistas, o impedimento da contratação de negros como animadores ou sequer empregados de seus parques e as cartas de rejeição à mulheres que pretendessem trabalhar para a empresa do camundongo (o vídeo mostra uma das cartas).
O vídeo que parodia os "TED Talks" utilizando grandes figuras históricas que são reverenciadas e destrinchando seus podres, foca em Walt Disney e passa por um pouco de tudo da empresa, valores e o impacto do trabalho do homem, bem além dos parques temáticos e empresa multimídia (como o fato que o McDonalds se inspirou no modelo de negócios de Disney para baixa remuneração).
Não podemos ignorar, porém, a grande mente criativa nos anos inciais da animação, Ub Iwerks (o verdadeiro criador do design e autor do primeiro sucesso de animação de Mickey), ainda que seu nome seja tão pouco lembrando pelos anais da história, como pouco mais que uma sombra ou nota de rodapé do majestoso mundo de Walt.
Posterior a esse conhecimento, ver o filme com Emma Thompson é impossível ignorar a quantia enorme de masturbação existente no material, e mais que isso, é asqueroso de ver o quanto tanto anos após a morte dele que a empresa ainda pareça achar válido esse tipo de conteúdo.
Chega a parecer que há uma ilusão coletiva necessária, semelhante ao comportamento de seitas, para fazer parte do grupo.
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