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9 de dezembro de 2014

Especial Comic Con: O mito super heróico parte 3 (Expandindo fronteiras)

Enquanto a palavra Super herói seja e esteja contida no contexto estadunidense (ao ponto que inclusive ela é uma palavra patenteada --> http://www.blastr.com/2013-2-1/marvel-and-dc-sue-small-publisher-over-using-word-superhero ), a verdade é que em muito pouco se diferenciam as estruturas dos heróis que usam a cueca pra cima da calça daqueles que tem olhos gigantescos e cabelos esquisitos com doses cavalares de gel.

Como Campbell defende na estrutura do monomito (Jornada do Herói, vide parte 1), a transição das lendas e mitos trazendo o melhor (e pior) que há em nós para servir como inspiração, e não menos importante nos ensinar.

Ainda que, por mais continentes, países e estruturas de quadrinhos que se busque (considere os mangás, a banda desenhada, o fumetti ou o que for), as estruturas pouco ou nada variam dos limites das estruturas mitológicas clássicas tal qual a DC (como os Cavaleiros do Zodíaco ou Ásterix) ou um a glorificação da identidade nacional tal qual a Marvel (como com o Astronauta de Maurício de Souza ) tal qual a contrapartida de mesma mesura (como o Lobo Solitário ou Hellblazer). Mudam-se as ferramentas, continuam as histórias.

Seja lendo de outra forma, seja a diferença nos poderes (que são mais místicos, até espiritual com a manipulação do chi ou dos chakras) ou mesmo nas histórias mais descontraídas e menos preocupadas com explicações coerentes e coesas (como a força da Mônica ou o apetite de Goku). Invariavelmente essas outras histórias seguem outros costumes, e, muitas vezes em sua forma seguem grandes modificações.
Os quadrinhos europeus são verdadeiros livros.
Cada história é fechada e centrada em si mesma sem grandes ramificações ou necessárias continuações (ler Tintin no país dos Sovietes ou Tintin e o Segredo do Licorne primeiro, pouco mudará o divertimento e entendimento do personagem). Claro que existem histórias continuadas, como o Incal, que mesmo assim tem sua estrutura definida para um limite de volumes.
Outras histórias iniciam novos volumes (igualmente limitados, ainda que dentro do mesmo universo, como no caso de Incal, a Casta dos Metabarões).

No caso dos quadrinhos japoneses, há um pouco mais de semelhança na estrutura (história continuada por diversos fascículos periódicos), mas tal qual o modelo europeu, as histórias tem data de expiração. Começam e terminam em estruturas e ciclos. Os personagens crescem, amadurecem e se desenvolvem (tem filhos, vêem esses filhos crescerem e eventualmente encontram a própria morte para que seus herdeiros sejam os protagonistas de novos volumes ou fascículos).

O caso brasileiro é talvez o mais próximo do modelo norte americano. Os personagens pouco ou nada mudam de sua estrutura básica (Mônica era baixinha, dentuça e com cabeço de banana 50 anos atrás e tal o é ainda hoje, assim como o Capitão dos Piratas do Tietê e muitos outros famosos personagens do quadrinho nacional). Mesmo personagens com um fundo mais dramático (o supracitado Astronauta que vive dramas similares ao Surfista Prateado da Marvel - abrindo mão de seus parentes, amigos e amores pela solidão do espaço), há um tom constantemente mais leve, um tanto mais debochado e invariavelmente menos preocupado com o realismo.
Existe uma contracultura do quadrinho nacional, com projetos mais ousados, inclusive da própria Maurício de Sousa produções (com dois álbuns do Astronauta que são melhores que Interestelar e Gravidade juntos), ou os Dez Pãezinhos de Moon e Bá, mas estes seguem moldes europeus.

As histórias são contadas e estruturadas com mesmo moldes e modelos, e ainda que respeitem regionalismos e variem nesses contextos, e ainda que fujam dos temas e do lugar comum. ainda será uma história de heróis.
Seja Odisseu, Batman, Itto Ogami ou John Difool, o herói sempre carregará características comuns e traços condizentes com o título. Mesmo que relutante, ele fará a coisa certa. Mesmo que seus métodos sejam diferenciados ou no limiar ético, ele agirá pelo bem comum.

O herói serve para discutir filosofia (os fins justificam os meios? é a pergunta que nos faz o Justiceiro ou John Constantine, enquanto o Monstro do Pântano pergunta "Onde estará o mal em toda a mata?"), para expandir horizontes (vendo subestruturas atômicas, outros universos e realidades) e para refletir o que é ou deveria ser, humano. 

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