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8 de dezembro de 2014

Especial Comic Con: O mito super heroico parte 2

Continuando o post de ontem, é hora de falar da Marvel, mas a história da editora começa antes dela ser Marvel.
Mais precisamente, durante o período pouco antes ou durante a segunda Guerra Mundial, quando a editora na época chamada 'Timely', lançava histórias de personagens como o Tocha Humana (não o do Quarteto Fantástico, e sim um androide, e sim, ele tinha um parceiro mirim chamado 'Centelha', mas duvido que isso chegue aos cinemas por qualquer motivo) e o Capitão América.


Surgindo em 1941, o personagem é a grande marca da época e aparece como uma ideia do mito moderno, a representação (maniqueísta) do ideal e melhor do povo da terra de Tio Sam, e esse é o grande mito que reverbera por praticamente tudo o que existe ainda hoje no universo ficcional da Marvel: O homem que constrói a si mesmo (ou self-made man).


Não é o acaso que coloca Steve Rogers no programa de Super Soldados. Não é o destino que faz do Homem Aranha um grande herói. Não é a hereditariedade genética que faz de Wolverine um ícone.

Essas são meras ferramentas no instrumento de formação do caráter destes personagens. É sua firmeza de caráter e perseverança que fazem conquistar as vitórias e serem o que são.

Ainda que existam quase tantos acidentes dando super poderes aqui quanto na Distinta Concorrente, a Marvel trabalha com muito maior freqüência com a ideia, por mais idiota que seja, do personagem que apenas com sua engenhosidade supera as adversidades. Isso vale inclusive para os vilões - que constroem seus ridículos trajes como o Metaloide, que inicia uma carreira criminosa com base na ideia de usar pernas de pau para dificultar sua captura (juro).

Essa ideia de que todo mundo é igual, tem as mesmas oportunidades e chances e que só depende de seus esforços para garantir seu sucesso se perpetua em todos os quadrinhos da editora (muitas vezes, como no caso dos X-men, beirando o absurdo - se pessoas tivessem habilidades de manipular a temperatura livremente ou de destruir montanhas com mero abrir de olhos, elas devem ser registradas e monitoradas...), e existem exemplos bem extremos dessa situação, como o Demolidor (o herói cego, que luta e se esforça para conseguir ser o maior advogado de NY) ou o Doutor Druida (um sujeito praticamente sem poderes, gordo, careca e de idade avançada, mas que por algum motivo se junta aos Vingadores numa das fases mais clássicas do grupo). Mas não faltam outros (o mutante Cifra - cujo poder é, bem, ser Rain Man sem o autismo - ou bem, que exemplo mais claro que o Gavião Arqueiro - ele é só um cara que atira flechas muito bem, porque ele está entre os heróis mais poderosos da Terra mesmo?), mas tudo isso se sintetiza em um exemplo claro de uma história escrita por Kurt Busiek para o reinício da série em 1998.
Durante uma sessão de treino, o grupo de Vingadores se divide, e, um dos personagens reclama que o outro grupo está mais fortalecido, pois conta com Thor (sabe, com em UM DEUS COM PODERES PRATICAMENTE ILIMITADOS!) e o Capitão América o repreende: Não importa se o outro grupo é mais poderoso contanto que se tenha uma estratégia melhor.

A editora reforça (e muito) essa ideia de que todos são iguais, não importa o quanto sejam diferentes.
Mutantes? Alienígenas super poderosos? Soldados com doses cavalares de anabolizantes? Todo mundo é igual - ainda que alguns sejam mais iguais que os outros.

Essa noção que Arthur Miller discute em sua peça 'A morte do Caixeiro Viajante' reflete bastante a noção que se repete bastante na editora da queda e constante decadência dos personagens.
O alcoolismo de Tony Stark, os problemas conjugais de Hank Pym (ainda que não seja o único a bater na esposa...), a falência (repetidas vezes) do Quarteto Fantástico, sendo expulso do Edifício Baxter... Ainda assim, a editora mantém uma postura muito mais otimista, deixando claro que o espírito americano é tão forte que, ainda que tenham de pegar um ônibus para impedir que um vilão destrua o universo, o grupo seguirá em frente e perseverará!


Nem tudo são flores, obviamente.
Os personagens Marvel estão muito mais acostumados a constantes - e humilhantes - derrotas, e é isso que faz de suas histórias uma frequente montanha russa com seus altos e baixos e curvas e viradas.
Mais distante da visão mitológica, da grandiloquência e ideia de que são gigantes caminhando sob a Terra, os mitos Marvel são gente comum, que tem talvez mais problemas para pagar as contas que para derrotar vilões poderosos com terríveis planos para destruir o mundo.

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