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9 de fevereiro de 2014

EDITORIAL> A caça às bruxas.

Quick to judge, quick to anger, slow to understand...(Witch Hunt, 1980)
Essa foi uma semana estranha e atípica...
Quer dizer, atípica, exatamente não, pois as caças a bruxas sempre acontece e toma lugar de uma forma ou outra na mídia (seja perseguindo Whitney Houston nos anos 80, Michael Jackson nos 90, Britney Spears nos 2000 ou Justin Bieber agora - e nós, tolos, achando que mudou alguma coisa), mas desde o último domingo duas vertentes muito longas se transcorreram nos noticiários locais e internacionais.

Lá fora é a longa, tenebrosa e perigosa lavação de roupa suja do divórcio (é divórcio quando é só união estável? Sério, não sei...) entre Woody Allen e Mia Farrow com repercussões tenebrosas e nefastas. Resumindo a história é uma tempestade de merda na qual ninguém se salva (Robert Weide destaca por exemplo o fato que o irmão de Farrow foi preso por molestar menores, Allen em sua própria defesa alega diversas instabilidades da sra Farrow - ambos mencionam as questões das traições da atriz -- enquanto de outro lado se rebate com veemência e oferece suporte à possibilidade dos crimes e abusos - e de mesma maneira, atacam a índole tanto de Weide como de Allen), e sobre o assunto, só posso dizer uma coisa: Não me meto.
Não conheço nenhuma das partes - mas sei que são o protótipo da família disfuncional (com todos os casos extraconjugais, incluindo a suspeita de um dos filhos do casal não ser do próprio Allen, mas ainda tem o fato dele se casar com a filha adotiva de Mia), em 1992 eu tinha sete anos, e nunca pisei nos EUA. Não faço ideia do que se passou naquela casa, não imagino o que de fato aconteceu, e sem sombra de dúvidas, eu não sou capaz de confabular e teorizar sobre a possibilidade - ou não - deste crime. E digo mais: Nenhum dos que se mobiliza na internet num sentido ou outro também o é (inclusive para aqueles que eram mais velhos em 92, ou que vivem - ou viveram - nos EUA).
É um caso complicado (um vespeiro infernal que faz a Família Addams parecer uma família normal), que precisa ser julgado e analisado - e não visto e revisto aos montes de meias-verdades e falsas informações, e sem sombra de dúvidas não para ser julgado por uma massa amorfa de gente má intencionada (pois não está nem preocupada com o bem estar de Dylan Farrow como com as reações catastróficas que esse tipo de notícia e situação causa[rá] na carreira dos envolvidos - e sim, a própria Dylan Farrow, com tantas e tamanhas chagas expostas publicamente, e às quais se expõe tamanha dúvida e possibilidades).
Mais que isso, são notícias que não oferecem qualquer notícia - ou oportunidade de expiação. Ao contrário, expõem um sem fim de hipocrisias, conflitos e assuntos que obviamente não cabem ao escrutínio público até que existem informações (o que não há). Ao contrário, mostram chagas de uma sociedade que prefere focar em escândalos de celebridades que oferecer alguma substância ou conteúdo...
No Brasil, porém, apesar de menos natureza de tablóide e sensacionalismo, a caça as bruxas é igualmente perturbadora (e eu diria mais, pois expõe NOSSAS chagas publicamente - nosso racismo, nossa ignorância). Expõe igualmente a velocidade ao julgamento e raiva e a demora para o entendimento (como na letra da música acima).
Como o editorial lamentável daquela mulher que se diz 'jornalista', defendendo a selvageria contra um menor (afinal, se tiver dó, que leve pra casa!) - que o Jornal Extra deixou bem claro não foi caso isolado, como com um menor linchado por roubar comida ou outro executado em plena luz do dia.
Todos casos dessa semana.
São perigos de um jornalismo marrom sem qualquer compromisso com a verdade e quem quer 'ibagens, mostre as ibagens', que se põe como entretenimento para uma sociedade imbecilizada e sem memória (que fim deu o caso do helicóptero de um senador mineiro apreendido com quilos de cocaína do Paraguai mesmo?), e que não mede ou reflete na consequência de seus atos e mais que isso de suas palavras (pois não se faz Copa do Mundo com hospitais, e obviamente precisamos mais de uma Copa do Mundo que de hospitais - ou pelo menos de um press release bem formatadinho pela equipe de marketing).
Esse jornalismo marrom que há décadas se instaura e se vende como canal de notícias e informação, do Aqui Agora fazendo escola em coisas muito piores e mais vulgares - e que ignora, entre outras coisas, que ondas de calor, curiosamente andam junto de ondas de violência, como os anos 80 nos EUA (retratados em Robocop, ou O Cavaleiro das Trevas - de Frank Miller)
O que fica, assustadoramente claro, é uma inversão de valores de nossa sociedade, que passa a se tornar mais violenta que os próprios criminosos, que clama por seu sangue e acha que linchar pessoas, humilhá-las publicamente e executar sem direito a um julgamento justo sejam formas aceitáveis de combater a criminalidade (como pode ser visto facilmente nos comentários deste tipo de notícia, tanto do 'editorial' da supracitada pseudojornalista, quanto em reportagens como da Carta Capital).
Defende-se que 'bandido' não mereça ser tratado com humanidade e respeito - afinal ele também não te trataria assim... MAS, PORRA! É JUSTAMENTE ESSA A DIFERENÇA!
Ele, bandido, não respeita a lei. Ele justamente É bandido porque não respeita a lei (vai por mim, bandido não pede licença na prefeitura ou outro órgão para cometer crime...).
Se a sociedade por outro lado, não consegue ver o quanto é importante dar o exemplo e agir com dignidade e parcimônia, vai ser difícil que sai o Brasil da Idade Média...

É a grande confusão entre liberdade de imprensa e libertinagem da mesma.

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