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5 de janeiro de 2014

Política super heróica

(Aproveitando a semaninha de férias para colocar em dia as antigas promessas:)

Super heróis com suas capas e uniformes vivem sob uma ótica militarista, unindo-se a outras figuras poderosas somente como uma estrutura bélica (vide como é normal o uso de expressões como 'guerra ao crime' - inclusive é o nome de um livro do morcegão) de controle e repressão.

Pensando em baixa escala, são ineficazes - Batman derrota toda a máfia, mas os ditos 'supercriminosos' ceifam muito mais vidas que uma guerra de gangues (e de forma geral, são criminosos que não seriam um desafio para outros defensores, como Superman, ou mesmo a Mulher Maravilha - no mesmo universo). Mais que isso, Batman prefere passar noite após noite brigando com bandidos pé-de-chinelo (imagem 1), enquanto a fortuna dos Wayne, que é gasta em armaduras, armamentos e demais equipamentos de combate - assim com demais outros de análise para seu gigantesco banco de dados e computador, auxiliando programas sociais tiraria quantos dos jovens dessas vidas de crime?
Arte de Gary Frank para o encadernado "Batman Earth One"
Mais que isso, a ideia toda de combate e repressão ao crime é uma noção no mínimo questionada - no máximo questionável e inútil. É difícil julgar de fato essa complexa situação (que requer a abrangente necessidade de questionar a necessidade de forças policiais, leis e toda outra estrutura de controle e repressão), mas os quadrinhos deixam muito claro - além da instabilidade dos agentes (como visto aqui, mas tem muitos outros exemplos disso, como o problema de alcoolismo do Homem de Ferro, o uso de anabolizantes do Capitão América ou bem... Qualquer coisa referente ao Hulk, sejam as múltiplas - e coloridas - personalidades, seja a destruição em massa, seja a irracionalidade, eu deixo você escolher).

De fato expõe as fragilidades do sistema jurídico - como o fato que, realmente, Gotham precise de um Batman para combater a máfia, uma vez que policiais e juízes são todos corruptos, além das próprias ações do crime organizado extrapolando os limites e limiares de jurisprudências nacionais (tudo isso aplicável a "O Cavaleiro das Trevas"). De maneira mais escrachada e satírica, através do britânico Juiz Dredd, servindo para espiar os pecados da sociedade moderna.

Numa escala maior - combatendo ameaças alienígenas e impedindo catástrofes - são reativos, e agem seguindo todo tipo de estrutura militarista ('ajuda' humanitária, intrusões somente quando existe noção vantajosa de um ponto de vista estratégico - como impedir que o universo seja destruído por uma raça de colonizadores intergaláticos, vê: Estratégico). Agem como se cada situação e caso se aplicasse a metodologia de guerra, e seus ranks compõem as condições de exércitos, como E de um ponto de vista maior, é igualmente ineficaz, uma vez que não cria, oferece ou fomenta soluções definitivas e preventivas (Superman combate meteoritos que pretendem se chocar com a Terra desde 1938).

Arte de Jim Cheung para Infinity 06 (2013)
Mas... Existe alguma alternativa?
Curiosamente, essa estrutura muda pouco dentro do cenário de quadrinhos de heróis (que depende de estruturas maniqueístas básicas e portanto propósitos igualmente básicos e simples de certo e errado). Por isso dependem de um vilão da semana para ser o alvo, a demonstração de todo o mal e alguém que representa tudo que há de errado, enquanto o herói deve surgir poderoso e claro para desempenhar a melhora ainda que cosmética (como um conto de fadas).

Existem na ficção diversos aventureiros, como Indiana Jones ou, mesmo no mundo dos quadrinhos, personagens como Adam Strange (não conhece? Prazer!), mas mesmo eles permeiam um conceito de superioridade anglo-saxônica-ocidental (como Jones invadindo outros países para roubar seus artefatos como pretexto de pesquisa e ciência, ainda mais somado ao caos e destruição deixado pelo caminho do paleontólogo para obtenção destas antiguidades).

E é nesse ponto de vista que surja uma alternativa sob o ponto de vista do britânico Doctor Who.
Enquanto viajante do tempo, pode ver as mudanças de suas (pequenas) ações resultam, e mensurá-las, mas há mais nas noções básicas do personagem que defende que cada vida no universo é importante (inclusive de seus adversários - que curiosamente mais comumente que não retratam estruturas de poder e controle).
Apesar de todo o poder e capacidade, o personagem respeita e suporta todo o tipo de organismo existente, e defende a todo custo a preservação da vida.
Os onze doutores
Curiosamente, inclusive, parte de seus adversários representam a estrutura de controle e repressão - principalmente do período de guerra fria, com os Daleks como uma representação da estrutura bélica norte-americana, e os Cyberman como a condição de obediência cega e robótica da estrutura comunista da USSR.

Além disso, todo o pretexto da criação do personagem para a BBC é de servir um enfoque educativo (como os programas da Cultura, Rá Tim Bum e similares para facilitar a compreensão), com a possibilidade de viagens no tempo e espaço para mostrar diversas eras e civilizações, e de uma forma mais geral ensinar a crianças (e adultos) de maneira lógica e divertida.

Mesmo que o personagem em diversas ocasiões tenha de tomar decisões difíceis - e nisso salvar o universo - o conflito raramente envolve tipo algum de armamento, inclusive raramente ocorre algum conflito (que normalmente se resolve com algum conceito pseudo-científico, ou de maneira geral com o uso de lógica).

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