A UTOPIA (não o livro, e sim o termo) se refere a um ideal incomparável, uma sociedade perfeita e aparentemente bem resolvida e funcional. Na condição de teoria e prática isso dificilmente existirá em qualquer momento da história. De formas gerais, a DISTOPIA seria o exato oposto disso, mas parece abrangente demais (e nulo demais para se considerar). Então me parece mais lógico que a parte 'funcional' seja a palavra chave para definir a distopia.
Há algo muito errado que inclusive IMPEDE as coisas de funcionarem apropriadamente.
Pois bem, de dezembro a janeiro é uma época em que eu costumo revisar as coisas em casa - olhar roupas que eu não uso mais e que podem servir para doação, e as que precisam ir pro lixo prontamente - assim com meus livros, quadrinhos e revistas (afinal, o espaço é limitado, mas a quantidade de material só aumenta).
Há algo muito errado que inclusive IMPEDE as coisas de funcionarem apropriadamente.
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Uma panorâmica de Washington em Fallout 3 |
Também faço a lista de livros que quero reler durante o ano, e foi logo após a mostra de Kubrick no MIS que finalmente li "Laranja Mecânica", e no embalo puxei "Admirável Mundo Novo" e "1984" para as prioridades na lista de releituras (1984 inclusive já foi). Adicionei mais algumas coisas como "Batman - O Cavaleiro das Trevas" de Frank Miller, além de "Metrópolis" de Fritz Lang (de 1927) e "Blade Runner" de Ridley Scott (de 1982).
No começo foi meio coincidente a noção de distopia, mas o assunto foi surgindo algumas vezes mais, fosse quando me apresentaram os tais 'Jogos Vorazes' (nhé), além de filmes antigos que acabei assistindo como "Meninos do Brasil" (não é muito uma distopia, mas a ideia de que Menguelli conseguiria com sucesso clonar um exército de Hitlers nessas terras tupiniquins) e "Fahrenheit 451" (que curiosamente eu nunca achei o livro, o máximo foi uma adaptação em quadrinhos, muito bem feita por sinal).
E obviamente, se sobrar tempo, buscarei mais coisas, como talvez Mad Max (nunca assisti), ou quem sabe reler The Walking Dead desde o começo... Enfim, aqui é a na coluna 'se', não tem muito como planejar...
E obviamente, se sobrar tempo, buscarei mais coisas, como talvez Mad Max (nunca assisti), ou quem sabe reler The Walking Dead desde o começo... Enfim, aqui é a na coluna 'se', não tem muito como planejar...
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Mad Max 2: The Road Warrior (1981) |
Seja o monitoramento contínuo de governo e corporações sobre nossas mensagens na internet (expostas por Edward Snowden em 2013) ou a IKEA ainda pior no caso do uso inapropriado (como se houvesse um uso 'apropriado') de câmeras de vigilância para flagrar casais nas ruas... Coisas que George Orwell jamais conseguiria imaginar.
Ou ainda coitado de Ray Bradburry imaginando que queimar livros - para acabar com o conhecimento e cultura - seria necessário para nossa sociedade, quando tudo o que era necessário eram emissoras de televisão distribuindo horas de conteúdo vazio com gente vazia (que fatura muito mais para ser vazia que o melhor salário inicial após anos de faculdade - imagem abaixo)...
E não só com reality shows estúpidos, ainda existem as dezenas de programas de variedades e entrevistas (até o Sérgio Mallandro tem um - e ele é um 'comediante' que faz a mesma piada desde antes de eu nascer!)
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Faça um doutorado para uma expectativa de salário mensal de US$6500,00 enquanto alguém sem talento rebola e dança por R$120.000,00 por show... |
E o que faz o nosso o pior das combinações de mundos distópicos (que é o título do post)?
Em primeiro lugar se trata de uma combinação simultânea de quase toda ideia sobre como seria uma sociedade ruim. Além disso, a realidade oferece uma condição muito mais triste e deprimente que qualquer condição literária (sempre há um vilão/inimigo, mas e em nosso mundo? Quem podemos culpar... Senão nós mesmos?).
Mas o pior, sem dúvida é que falta aquela possibilidade de aventura e transformação que há de fascinante nessas histórias - e na realidade é apenas depressiva.
Acho que tudo se resume muito bem em algo que eu vi nessa semana, enquanto tinha que pegar um protocolo na prefeitura, e fui caminhando, alguns metros de distância de uma funcionária municipal dessas que fazem a fiscalização de focos de mosquito da dengue.
Lembro que reparei que a moça havia parado em dado momento, e estava um tanto contemplativa, observando algo e refletindo o que fazer (mesmo com alguma distância era possível perceber que ela tinha parado porque vira algo que chamara sua atenção).
Já mais perto, vi o objeto de sua atenção: Um desses copinhos de plástico de sorvete, jogado no chão.
A solução oferecida? Inverter o copinho para que não ficasse com a boca virada para cima (e nisso retivesse água parada de chuva).
Imagino que, após o tempo que a moça ficou refletindo - para chegar a essa solução - ela tenha ficado levemente orgulhosa de encontrar uma forma de resolver aquele micro-problema que lhe fora apresentado espontaneamente.
Mas é uma solução, no mínimo, preguiçosa. Numa observação mais abrangente, é claro que não chega a ser uma solução (como disse, qualquer pessoa, ou o próprio vento, seria capaz de desfazer a solução proposta).
Agora... Longe de querer culpar a moça - que se deparou com um problema e pensou numa solução - será que não devemos ver que o verdadeiro problema está no exato fato que aquele copinho de plástico não deveria estar ali?
E não só ele, como os diversos jornais de ofertas de mercados, papéis de bala, bitucas de cigarro e mais diversos outros tantos tipos de coisas que vemos pelas ruas (ignorarei as fezes de animais e folhas de árvore por motivos práticos)...
E eu acho que essa história expressa bem a situação de nosso mundo distópico - uma vez que problemas aparentemente inócuos geram problemas maiores, mais imprevisíveis e incontroláveis, como esse lixo nas ruas que vai impedir o escoamento devido da água de chuva pelas galerias...
Tudo isso porque o ser humano é preguiçoso e egoísta - algo que foge da mente mais criativa dos fantásticos mundos literários propostos.
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