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20 de dezembro de 2013

Grandes Clássicos dos Quadrinhos: O fim de uma era

Crise de identidade, publicada em 2004 como série mensal, traz algo que dificilmente vemos em histórias em quadrinhos... Ou filmes... Ou séries... Ou mesmo na literatura: A quebra de preconceitos de forma brutal e deliberada. Quase cruel.

É impossível não simpatizar com o protagonista e sua dor, cuidadosamente construída (contando no primeiro capítulo os detalhes de como conheceu a esposa e de seu relacionamento com ela), até a dolorosa cena em que ele descobre que ela fora covardemente assassinada em sua casa. Mas não é o mistério, não é o tom de investigação - do tradicional Who dunnit? (Quem fez isso, numa tradução livre) - que de fato prende a atenção.

Claro, isso faz parte, e Brad Meltzer trabalha de maneira magistral esse aspecto do roteiro. Estamos falando de um mundo onde assassinos podem se teleportar, carregar carros por sobre suas cabeças ou controlar mentalmente um exército de aparentemente inofensivos animais - ou insetos... Mas é o lado humano que caracteriza o desenvolvimento da relação destes que tão comumente são vistos combatendo monstros interplanetários e deuses conquistadores de outra(s) dimensão(ões), e nunca foram tão vulneráveis quanto nestas páginas, porque afinal, a dor é um sentimento universal.

E dificilmente alguém seria capaz de descrever ou capturar dor de forma mais poderosa que Rags Morales, como a cena em que Ralph Dibny encontra sua esposa (a primeira à esquerda) ou a angústia de Timothy Drake (o Robin) tem de ouvir os momentos finais de seu pai ao telefone enquanto a casa é invadida - e impotente em voltar pra casa à tempo.

Ainda há todo um pano de fundo de traição, hipocrisia e decisões difíceis para qualquer um - quanto mais para aqueles que deveriam ser um compasso moral para a sociedade... Lembrando muito de Watchmen de Alan Moore e Dave Gibbons com uma diferença marcante: Empatia.
Os personagens da obra de Moore, sem dúvidas são concebidos com uma análise psicológica elaborada - e ultra realista... Só que invariavelmente TODOS são canalhas, cretinos ou psicóticos em níveis perturbadores. Meltzer, por outro lado, trabalha com seres humanos facilmente identificáveis, com sentimentos de culpa, remorso e dor que são palpáveis (quase chegam a romper a quarta margem), e facilmente além de fazer o leitor pensar, também o fará sentir.

Coisas que a primeira imagem (sim, a do porta-retrato, apesar que essa do Ralph Dibny também é fantástica) retrata de maneira sutil e com um brilhantismo em todo o simbolismo que ela carrega que eu conseguiria falar por horas só sobre ela.

Mas é a citação final de Arthur Miller - "Podemos dizer que uma era chega ao fim quando suas ilusões básicas foram exauridas" (An era can be said to end when its basic illusions are exhausted) que expõe de forma visceral todo o tom deste trabalho que sem dúvidas merece uma - e possivelmente muita - (re)leitura.

Rags Morales esbanjando talento

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