Como os sabores de um sorvete napolitano (sabe, Morango, Baunilha e Chocolate - e a reflexão dos sabores de Cornetto da trilogia) é preciso saber dosar e balancear o conteúdo para que, mesmo na diferença entre cada um, ainda exista algo de gratificante em experimentá-los...
Mesmo que você não goste de todos os sabores.
Hot Fuzz (ou Chumbo Grosso, mas confesso que acho, para todos os filmes, que o nome original é melhor, mas aí é interpretação pessoal minha) é pra mim esse sabor neutro, bem baunilha mesmo, entre o sem-graça e o facilmente esquecível...
Pra mim, o filme demora demais pra engrenar num ritmo de comédia... Os primeiros atos são sérios demais e vão se alongando nessa narrativa que acaba num pastelão de comédia (que é o ponto forte do trio - Frost/Pegg/Wrigth - e principalmente do filme).
Ainda assim, existem boas cenas de ação, o roteiro é bem arrumadinho e consegue um tom bem interessante, constrói algo que eu ousaria dizer único (ao estabelecer um choque de cultura entre o convencional e estereotipado policial estadunidense truculento com o policial de uma região rural pacata do interior da Inglaterra - e que é o mais comum e real).
E esse roteiro vai caminhando para uma longa (e estúpida, daí o humor) conspiração de cidadezinha, com todo um conflito sobre a ideia de conformidade, a noção de aplacar-se com as regras e condições impostas pela sociedade para nossa segurança, e toda a questão do que isso significa.
Em parte isso até se parece com o tema de O fim do mundo (da semana passada), mas o momento em que isso se passa, é bem diferente, e é essa transição que representa a diferença, e ainda há este mesmo ponto no último filme que comentarei, mas primeiro da série - Todo mundo quase morto (Shaun of the Dead). Isso, inclusive, é grande parte do mote da trilogia - o envelhecimento durante diversos pontos de nossas vidas, e o que ele significa e as coisas que temos de abrir mão em nome dele. Enquanto Todo mundo quase morto se passa no final dos vinte (chegando aos trinta) e o conflito de amadurecimento ali se dá na questão de relacionamentos afetivos (e pessoais e profissionais), aqui em Chumbo Grosso a questão é mais no malabarismo todo que fazemos para conciliar uma vida produtiva nos diferentes âmbitos profissional e pessoal (numa crise dos trinta e poucos anos). --> Para concluir a reflexão, em O fim do mundo essa mesma reflexão se dá com (o início d)a crise de meia idade, chegando ou passando dos quarenta anos e contemplando e pesando toda uma vida pregressa, e as perspectivas do que ainda se pode esperar por vir.
Talvez revisitando o filme algum dia, eu venha a mudar de opinião, talvez até venha a achá-lo melhor do que vejo hoje... E é verdade que ele tem seus momentos, mas hoje pra mim é apenas a baunilha de uma crise intermediária - mal resolvida num primeiro momento da vida, e com toda a certeza intermediária a uma próxima, clara e evidente de meia idade...
Sem dúvida é um bom filme... Como "O Poderoso Chefão III", a continuação de um excelente, e aí fica difícil julgá-lo com menor rigor...
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