Eu tive uma conversa com uma amiga psicóloga um tempo atrás sobre processos seletivos de RH (principalmente sobre como as perguntas não pareciam coerentes ou seguindo um caminho comum que vá terminar em uma decisão sobre contratar ou não uma pessoa). Inspirado por uma história de James Robinson (autor de Starman), eu sugeri a pergunta que me parece a mais prudente para determinar caráter e capacidade de um possível candidato a uma vaga de emprego: Qual seu filme favorito de Woody Allen?
Parece bobo numa primeira vista, mas a resposta diz muito mais que é possível imaginar sobre o entrevistado, afinal, alguém fazendo filmes semi-anuais desde 1969 sobre as manias nossas de cada dia - refletindo de maneira mais abrangente sobre cada uma em particular em cada filme.
Elas servem como a análise de perspectiva sobre sociedade, e mais que isso, sobre nossa própria visão e conjectura sobre vida, amor, sucesso, felicidade e, porque não a própria sociedade, porque por mais que seja possível ignorar e achar pedantes e chatos muitos dos filmes do diretor (Como Meia noite em Paris, com Owen Wilson fazendo sua melhor imitação de Woody Allen - ainda que seja um filme tecnicamente muito bonito, com uma fotografia impecável), sempre vai ter algum detalhe, algum ponto, alguma vírgula que ressoa mais forte com a particularidade de cada espectador.
"Hannah e suas irmãs", retratando família (com todos os problemas atrelados a essa complexa condição de nossas vidas), "Noivo neurótico, noiva nervosa", retratando relacionamentos, "Interiores" o isolamento e depressão (numa homenagem aos filmes de Ingmar Bergman - que não seria a única ou última) e mais uma dezena de filmes, alguns melhores, outros piores, retratando ego (Desconstruindo Harry), complexo de Édipo (na antologia New York Stories), paranoia (Scoop, o grande furo) entre tantos outros temas (como hipocondria, impotência sexual e psicopatia).
Mesmo com os altos e baixos, me parece muito pouco nítida uma distinção na qualidade dos trabalhos de Allen, uma vez que são todos muito diferentes entre si, com focos diferentes, e propósitos diferentes. Bananas (de 1971) é uma comédia escrachada enquanto Maridos e esposas (de 1992) é um drama.
E ainda que com temas muito diferentes entre si, ainda que mesmo a direção mude o tom (como Match Point de 2005, que mal parece um filme de Allen), é virtualmente impossível não ter um filme favorito do neurótico diretor baixinho, careca e de óculos. A menos que você seja a Mia Farrow (ou da família dela), mas aí é outra conversa...
Pra mim, Hollywood Ending, ou Dirigindo no escuro, é o grande filme de Allen.
Não que seja o melhor produzido, o mais bonito, com roteiro mais elegante ou alguma coisa do tipo...
Mas eu vejo o filme como um divisor de águas na carreira do diretor, como um grande 'foda-se' para a crítica e público depois da reação negativa de alguns filmes anteriores, e até um 'foda-se' para o próprio Woddy Allen pregresso a esse filme (sabe, aquela caricatura de homem agitado, nervoso, hipocondríaco, inseguro e de voz anasalada?), e nos filmes seguintes, Allen faz cada vez menos aparições, e, quando faz, nem de longe é esse pastiche dele mesmo.
Depois desse filme ele não tenta mais imitar Bergman ou Truffaut ou Godard... É possível ver uma segurança maior, e filmes mais ousados, que inclusive pouco se parecem com filmes 'de Woody Allen' (como Vicky Cristina Barcelona ou O Sonho de Cassandra).
E há uma mistura de egocentrismo e crítica como poucas vezes é possível de ver, uma vez que a 'cegueira psicológica' serve para muitos propósitos... Pode ser vista pura e simplesmente como o medo do fracasso mas me parece muito mais como uma certa arrogância ou afronta.Mas eu vejo o filme como um divisor de águas na carreira do diretor, como um grande 'foda-se' para a crítica e público depois da reação negativa de alguns filmes anteriores, e até um 'foda-se' para o próprio Woddy Allen pregresso a esse filme (sabe, aquela caricatura de homem agitado, nervoso, hipocondríaco, inseguro e de voz anasalada?), e nos filmes seguintes, Allen faz cada vez menos aparições, e, quando faz, nem de longe é esse pastiche dele mesmo.
Depois desse filme ele não tenta mais imitar Bergman ou Truffaut ou Godard... É possível ver uma segurança maior, e filmes mais ousados, que inclusive pouco se parecem com filmes 'de Woody Allen' (como Vicky Cristina Barcelona ou O Sonho de Cassandra).
Como um "sim, eu faço isso até de olhos vendados".
E eu vejo como a crítica ao público e críticos.
Com o julgamento 'cegado' por uma ansiedade de ver o maior filme de todos os tempos a cada próximo ingresso que compre, e que acaba incapaz de enxergar o filme que está diante de seus olhos.
É essa a mensagem que eu tiro do filme, que faz pra mim o melhor filme de Woody Allen.
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