Pesquisar este blog

4 de setembro de 2013

Ato 2 - A crise de identidade (parte 5)


A verdade é que não existem finais perfeitos, as coisas continuam, e existe algo que, quanto mais nós seres humanos do sexo masculino consumimos de álcool, mais nos falta: Bom senso.
Quando a festividade se aproxima do final, Dennis e Fausto se aproximam e, conseguem me dissuadir de voltar para casa para seguir para a segunda parte da despedida, e, explico brevemente para Marina que é algo que eu precisava fazer, que o pessoal contava comigo para isso, e mais um monte de chavões e coisas que, honestamente, não sei a quem eu estava tentando convencer, se a ela ou a mim. Talvez quisesse ficar longe de casa depois de tudo que aconteceu, ou seja algo mais simples, eu apenas queira passar um tempo maior com esse pessoal, aproveitar essa última oportunidade de ver a todos eles, tantos funcionários e amigos de carreira no banco, e tanta gente que eu provavelmente nunca mais verei.
Saímos do restaurante para um barzinho. Eu só desvio rapidamente para deixar Marina no apartamento. Ela pede que eu maneire um pouco, que já estava bêbado, que já estava gastando muito (apesar de boa parte das despesas do almoço seriam devolvidas por Fausto, contabilizadas em gastos da instituição), que ela já tivera muitos sustos com nossa filha, para ou ter mais um comigo, ou pior, ver essa criança órfã.
Essa genuína preocupação quase escapa de minha percepção, mas quando lembro desse dia, vejo o quanto fui idiota, e poderia ter evitado tanta coisa depois.
O barzinho estava bem lotado, e, cerveja após cerveja seguimos animados e empolgados.
Decidimos ir para um segundo bar, desta vez, sob os conselhos de um antigo gerente, é um bordel que ele considera da melhor qualidade, e de ‘extremo bom gosto’. Confesso que não entendo o que se diz por bom gosto quando se fala em bordéis, muito menos porque diabos eu resolvi seguir com a turma, e a única resposta que me passa pela cabeça é a falta de capacidade de formular e seguir linhas coerentes de pensamento, com o álcool dominando não só minha corrente sangüínea mas todo o sistema neuronal.
Só então noto que o estagiário estava ali, quando ele ao tentar entrar no local é barrado. Rimos um pouco, deixando o guri ali, parado por quase vinte minutos, enquanto cada um de nós vai ao banheiro e dá uma olhada na casa. Quando eu faço isso, me deparo com algo que, particularmente não compreendo.
Há uma espécie de palco, com direito a um palanque e microfone, no centro da casa, e, no interior do local, diversas pessoas sentadas, calmamente. Neste palanque, momentos após uma mulher começa a discursar e falar nervosamente sobre o proletariado e as divergências no sistema capitalista, em verdade que sem a parte superior de seu vestuário, mas longe de algo estimulante. O segundo ato com poesia interpretativa não ajuda muito mais.
E é o momento que metade do grupo dispersa, com Dennis, Fausto, o estagiário e eu partindo para algum outro lugar. Dennis quer ir para outro bordel, desta feita com bem menos bom gosto e bem mais sacanagem. Fausto, igualmente empolgado sugere alguns lugares, mas o estagiário recomenda um bar da moda, onde facilmente encontraríamos mulheres dispostas. E, sem ouvir a voz da razão, sigo o estagiário juntamente dos outros dois.
Logo que chegamos neste novo barzinho, começo a passar mal, tendo meu estômago revirando, e preciso sair até uma farmácia, comprar algum remédio para aliviar minha azia. De volta ao boteco, peço um café forte e um refrigerante para começar a cortar o efeito de minha bebedeira.
Noto que na mesa onde estávamos, não há mais ninguém – apesar de existir traços de que os três ainda estavam por ali. Fico sentado, aguardando mais um pouco, bebo outro refrigerante e vou sentindo a volta de meus sentidos. Uma moça se aproxima, senta-se, e começa a puxar conversa.
Cansado e com mal estar, quase não reparo nela, vendo então meus companheiros, na mesa de onde a moça veio. Eles, cada qual acompanhado, olham para mim e brindam. Eu sorrio de canto de lábio, e sinto meus olhos se fechando pesadamente.
Ouço uma voz cada vez mais distante, tentando puxar conversa.
E com isso uma noite se passa, e abro a porta do apartamento às quatro da manhã, somente para ver uma furiosa Marina que me aguardava.
Sou interrogado fervorosamente, por mais de vinte minutos, e, ainda sonolento respondo sem muita preocupação. Tudo que quero é escovar meus dentes, jogar uma água no corpo e cochilar por uma meia hora antes de seguir para meu primeiro dia de expediente na nova empresa.
Marina, ainda assim continua discutindo. Ela se sente mal com tudo isso, mesmo que eu explique não haver motivo algum para preocupação.
Ela então me ignora, e parte para o quarto, trancando a porta.
Durmo no sofá, perco hora e me atraso.
A dor de cabeça da ressaca é forte demais para o café, e o pescoço ajuda com um torcicolo da má posição que fiquei. Meus olhos estão vermelhos, e minhas olheiras quase cobrem o rosto. Disfarçadas somente pelos óculos escuros, e o cabelo desarrumado. Que belo primeiro dia em uma nova instituição... Que bom que o (ainda e então) presidente, meu amigo, chega bem mais atrasado, e em condições ainda mais deploráveis.
Ele passa por minha sala, conta algumas histórias do que aconteceu depois que parti, e rimos, gargalhamos de nosso infortúnio e ressaca.
Pulo o almoço para cochilar em minha sala (que deixo trancada), e, depois do almoço passo por um bom tempo conversando com Fausto, expondo alguns projetos e trabalhando alguns conceitos.
O dia passa rápido, graças aos céus.
E logo estou de volta em casa. E imagino que precisaria concertar algumas coisas com Marina, explicar o que acontece, pedir desculpas e, por tal motivo, passo em uma floricultura antes, compro também alguns outros mimos...
Sou surpreendido por uma casa vazia, e ela fica assim pelos próximos dois dias.
Marina foi para a casa da mãe, disse que precisava pensar um pouco, que estava cansada, que queria saber se estávamos fazendo a coisa certa e tudo mais. Sem saber o que dizer, somente me ofereço para sair, e deixo a casa à sua disposição.
Junto o máximo de roupas que consigo colocar em uma mala, e saio, sem um adeus.
Com toda a certeza sabia que voltaria para casa em breve, que só precisávamos esfriar um pouco a cabeça.

Nenhum comentário:

Postar um comentário