A
verdade é que não existem finais perfeitos, as coisas continuam, e existe algo
que, quanto mais nós seres humanos do sexo masculino consumimos de álcool, mais
nos falta: Bom senso.
Quando
a festividade se aproxima do final, Dennis e Fausto se aproximam e, conseguem
me dissuadir de voltar para casa para seguir para a segunda parte da despedida,
e, explico brevemente para Marina que é algo que eu precisava fazer, que o
pessoal contava comigo para isso, e mais um monte de chavões e coisas que,
honestamente, não sei a quem eu estava tentando convencer, se a ela ou a mim.
Talvez quisesse ficar longe de casa depois de tudo que aconteceu, ou seja algo
mais simples, eu apenas queira passar um tempo maior com esse pessoal,
aproveitar essa última oportunidade de ver a todos eles, tantos funcionários e
amigos de carreira no banco, e tanta gente que eu provavelmente nunca mais
verei.
Saímos
do restaurante para um barzinho. Eu só desvio rapidamente para deixar Marina no
apartamento. Ela pede que eu maneire um pouco, que já estava bêbado, que já
estava gastando muito (apesar de boa parte das despesas do almoço seriam
devolvidas por Fausto, contabilizadas em gastos da instituição), que ela já
tivera muitos sustos com nossa filha, para ou ter mais um comigo, ou pior, ver essa
criança órfã.
Essa
genuína preocupação quase escapa de minha percepção, mas quando lembro desse
dia, vejo o quanto fui idiota, e poderia ter evitado tanta coisa depois.
O
barzinho estava bem lotado, e, cerveja após cerveja seguimos animados e
empolgados.
Decidimos
ir para um segundo bar, desta vez, sob os conselhos de um antigo gerente, é um
bordel que ele considera da melhor qualidade, e de ‘extremo bom gosto’.
Confesso que não entendo o que se diz por bom gosto quando se fala em bordéis,
muito menos porque diabos eu resolvi seguir com a turma, e a única resposta que
me passa pela cabeça é a falta de capacidade de formular e seguir linhas
coerentes de pensamento, com o álcool dominando não só minha corrente sangüínea
mas todo o sistema neuronal.
Só
então noto que o estagiário estava ali, quando ele ao tentar entrar no local é
barrado. Rimos um pouco, deixando o guri ali, parado por quase vinte minutos,
enquanto cada um de nós vai ao banheiro e dá uma olhada na casa. Quando eu faço
isso, me deparo com algo que, particularmente não compreendo.
Há
uma espécie de palco, com direito a um palanque e microfone, no centro da casa,
e, no interior do local, diversas pessoas sentadas, calmamente. Neste palanque,
momentos após uma mulher começa a discursar e falar nervosamente sobre o
proletariado e as divergências no sistema capitalista, em verdade que sem a
parte superior de seu vestuário, mas longe de algo estimulante. O segundo ato
com poesia interpretativa não ajuda muito mais.
E
é o momento que metade do grupo dispersa, com Dennis, Fausto, o estagiário e eu
partindo para algum outro lugar. Dennis quer ir para outro bordel, desta feita
com bem menos bom gosto e bem mais sacanagem. Fausto, igualmente empolgado
sugere alguns lugares, mas o estagiário recomenda um bar da moda, onde
facilmente encontraríamos mulheres dispostas. E, sem ouvir a voz da razão, sigo
o estagiário juntamente dos outros dois.
Logo
que chegamos neste novo barzinho, começo a passar mal, tendo meu estômago
revirando, e preciso sair até uma farmácia, comprar algum remédio para aliviar
minha azia. De volta ao boteco, peço um café forte e um refrigerante para
começar a cortar o efeito de minha bebedeira.
Noto
que na mesa onde estávamos, não há mais ninguém – apesar de existir traços de
que os três ainda estavam por ali. Fico sentado, aguardando mais um pouco, bebo
outro refrigerante e vou sentindo a volta de meus sentidos. Uma moça se
aproxima, senta-se, e começa a puxar conversa.
Cansado
e com mal estar, quase não reparo nela, vendo então meus companheiros, na mesa
de onde a moça veio. Eles, cada qual acompanhado, olham para mim e brindam. Eu
sorrio de canto de lábio, e sinto meus olhos se fechando pesadamente.
Ouço
uma voz cada vez mais distante, tentando puxar conversa.
E
com isso uma noite se passa, e abro a porta do apartamento às quatro da manhã,
somente para ver uma furiosa Marina que me aguardava.
Sou
interrogado fervorosamente, por mais de vinte minutos, e, ainda sonolento
respondo sem muita preocupação. Tudo que quero é escovar meus dentes, jogar uma
água no corpo e cochilar por uma meia hora antes de seguir para meu primeiro
dia de expediente na nova empresa.
Marina,
ainda assim continua discutindo. Ela se sente mal com tudo isso, mesmo que eu
explique não haver motivo algum para preocupação.
Ela
então me ignora, e parte para o quarto, trancando a porta.
Durmo
no sofá, perco hora e me atraso.
A
dor de cabeça da ressaca é forte demais para o café, e o pescoço ajuda com um
torcicolo da má posição que fiquei. Meus olhos estão vermelhos, e minhas
olheiras quase cobrem o rosto. Disfarçadas somente pelos óculos escuros, e o
cabelo desarrumado. Que belo primeiro dia em uma nova instituição... Que bom
que o (ainda e então) presidente, meu amigo, chega bem mais atrasado, e em
condições ainda mais deploráveis.
Ele
passa por minha sala, conta algumas histórias do que aconteceu depois que
parti, e rimos, gargalhamos de nosso infortúnio e ressaca.
Pulo
o almoço para cochilar em minha sala (que deixo trancada), e, depois do almoço
passo por um bom tempo conversando com Fausto, expondo alguns projetos e
trabalhando alguns conceitos.
O
dia passa rápido, graças aos céus.
E
logo estou de volta em casa. E imagino que precisaria concertar algumas coisas
com Marina, explicar o que acontece, pedir desculpas e, por tal motivo, passo
em uma floricultura antes, compro também alguns outros mimos...
Sou
surpreendido por uma casa vazia, e ela fica assim pelos próximos dois dias.
Marina
foi para a casa da mãe, disse que precisava pensar um pouco, que estava
cansada, que queria saber se estávamos fazendo a coisa certa e tudo mais. Sem
saber o que dizer, somente me ofereço para sair, e deixo a casa à sua
disposição.
Junto
o máximo de roupas que consigo colocar em uma mala, e saio, sem um adeus.
Com
toda a certeza sabia que voltaria para casa em breve, que só precisávamos
esfriar um pouco a cabeça.
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