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1 de maio de 2013

As duas vidas de Verônica Morstan


Edgar Gillian, 67 anos, cabelos grisalhos e por algum motivo estranho um bigode escuro, pele flácida e barriga protuberante. Chama a atenção o brilhante relógio ainda no pulso, o que deixa claro que não foi um latrocínio, por mais que a carteira tenha sido levada (dificilmente ele teria mais dinheiro na carteira que seu relógio vale, de ouro maciço, material de qualidade).
O principal suspeito, no caso, a esposa Marta Gillian, 53, vista pela última vez pelos vizinhos há quatorze horas, e pelo odor do corpo, é mais ou menos o tempo em que o crime aconteceu.
Algo a acrescentar? Sim. Marta Gillian está morta há pelo menos dez anos.
Acrescente mais dois ou três e você tem o período em que Edgar Gillian deveria estar.
Então a menos que sejam malditos zumbis ou um caso de viagem no tempo, existe algo de muito errado aqui.
E não é preciso ser um detetive muito bom pra descobrir isso.
As duas vidas de Verônica Morstan
Para contextualizar melhor o que está acontecendo, acho prudente me apresentar e dizer algumas coisas sobre os dias e momentos decorrentes desta sucessão de eventos bizarros. Meu nome é Magdalene Faraday, filha de Sara e Leopoldo Faraday, sendo que meu pai faleceu quando era bastante nova, e minha mãe se casou com meu padrasto mais ou menos uns dois anos depois disso o que fez com que nossa relação que já não era nada aberta ficasse em vias de apenas o mínimo e necessário. Assim que ingressei na faculdade de Estatística me mudei para uma república, e arranjei um trabalho como contadora em uma firma de representação, para bancar meus estudos e moradia. No mesmo período, junto com uns amigos montamos uma banda de ‘quase punk’, batizada “Tempestade Radiativa”, com a qual fizemos considerável sucesso, ao ponto de gravar uma demo que rendeu o disco “Vidas Nucleares”, lançado alguns meses atrás e que vem rendendo uma micro turnê – e algum dinheiro considerável a ponto de me fazer abandonar o serviço fixo.
A turnê inclusive estava conseguindo chamar alguma atenção, ao ponto que agora no período das férias da faculdade, já com um bocado de shows confirmados ainda estaríamos embarcando para Londres nessa semana, para tocar em algumas casas com uma obscura banda de lá chamada “Mucous Membrane”, que fez um hit e vem chamando bastante atenção, mas descobrimos essa semana que nossa turnê foi pro vinagre. Os agentes londrinos cancelaram tudo depois de um transtorno no clube Casanova, e para ajudar nosso empresário resolveu começar a trabalhar nas grandes ligas com um projeto – que ele levou o baixista e o baterista – para a Broadway. Pelo que entendi é algo como “Planeta dos Macacos – O musical”, ou qualquer outra coisa do tipo que faria Andrew Lloyd Weber perder os cabelos.
Talvez tenha ficado um tanto evidente que minha vida não é exatamente comum, e, é bem verdade, nem minha família.
Minha bisavó veio da Inglaterra, para se refugiar da primeira grande guerra por solicitação de meu bisavô (um lunático explorador e aventureiro que desapareceu no evento ou pouco depois). Ela viveu poucos anos aqui no país e morreu de causas misteriosas (apesar de que alegavam ser alguma doença relacionada a contaminação alimentar do navio que a trouxe, afinal outros passageiros também morreram de forma semelhante pelo que consta nos autos), fazendo com que minha avó e sua irmã mais velha, Martha, ficassem aos cuidados da irmã de minha bisavó, que também estava no navio. Verônica Morstan cresceu como uma mulher decidida e trabalhadora, que passou boa parte de sua vida fazendo o trabalho pesado em empresas montadoras de peças e artefatos para a grande guerra para depois trabalhar na linha de montagem de automóveis, e nunca se casou, apesar de ter uma filha – o que causou certa comoção e transtorno na época, mas ela sequer se abalou. Cuidou de minha mãe como a mulher batalhadora que era, e deu uma educação digna e uma formação ética como muita gente não recebe.
Vovó recebeu algum dinheiro de herança, já quando tinha mais idade – minha mãe mesmo tinha uns dez ou doze anos, e me contou a história, da carta chegada de Northampton contando dos motivos e valores que ela teria por direito de receber, e, isso trouxe a ela mais conforto, e melhorou as condições de minha mãe, que assim pôde fazer uma faculdade e foi onde conheceu meu pai, mas não impediu a vovó de continuar a pegar no batente mesmo depois de se aposentar.
Com parte do dinheiro pôde comprar um pequeno sítio na área rural da cidade – não mais que vinte quilômetros do centro – onde passava boa parte de seu tempo cuidando do lugar, arando a terra, carpindo e campinando tudo, subindo em árvores para buscar frutos e até fazendo um poço...
Por muito tempo este sítio foi o local onde nossa família se reunia para os finais de semana, com chá às cinco com biscoitos, que era o máximo da tradição britânica que mantivemos. E a pontualidade, é claro. Fora isso os almoços de domingo seguiam uma tradição quase italiana da massa da semana e de uma grande quantidade de gente reunida ao redor da mesa. Cortesia da família de minha tia avó Martha, casada com um imigrante italiano com a qual montou um restaurante, ou como chamavam, uma rotisserie, regada a vinhos e massas típicas.
Não mais que um ou dos anos depois da morte de papai, vovó veio a falecer, devido ao seu coração já debilitado com a idade somado aos repetidos esforços desnecessários que ela insistia em fazer, numa manhã ela teve um derrame enquanto fazia a rotina na plantação, e só foi encontrada pela irmã algumas horas mais tarde.
O sítio nunca foi vendido, mais devido ao fato de valor sentimental, como um monumento à memória da vovó. Ela tinha um bocado de bens e uma considerável soma de valor que foi distribuída entre mamãe o tia avó.
Com a morte dela, a família também deixou de ter toda aquela confraternização, e eram raras e mínimas as ocasiões em que passaríamos a nos encontrar e nos ver, acredito que a última vez que fizemos algo nesse sentido foi minha festa de formatura do colégio, quando quase toda a família esteve reunida.
Semana passada, depois que do fiasco de meus planos para o recesso da faculdade, e sem um emprego fixo ou lugar para morar – o contrato da república tinha vencido, e como deveria estar na estrada pelos próximos meses, não me preocupei em renová-lo, sendo que sem aulas, os preços de aluguel acabam aumentando por não haver outra pessoa com quem dividir os valores – acabei voltando a morar com mamãe e seu novo marido, pelo menos por enquanto, e, já foi o suficiente para ela começar uma atitude passivo-agressiva julgando minhas atitudes e decisões. E é verdade que o marido dela até tenta ser um cara bacana, só que tudo que consegue é mostrar que é um grande babaca. O suficiente para eu repensar minha decisão de ficar ali, mas infelizmente, também o suficiente para ver que não haviam outras opções melhores disponíveis. Meu namorado estava participando de um programa de intercâmbio durante o verão, e havia a possibilidade de não voltar para o próximo semestre, trancando a matrícula pelo período. O pessoal da república estava cada qual em sua casa ou viajando, e, bem, outros parentes não seriam tão receptivos, tanto do lado do papai quanto da mamãe.
Resolvi numa tarde desocupada para fugir da tensão domiciliar, que eu decidi visitar o sítio da vovó, e foi o que fiz. Estava com um mato alto, uma condição de quase abandonado, e tinha inclusive alguma acumulação de lixo próximo às cercas, trabalho dos vizinhos simpáticos.
A casa parecia ter uns dois dedos de poeira acumulada. Como quase não haviam ali mais coisas – apenas um armário ou outro que estavam grudados às paredes – então por sorte não parecia também existir animais peçonhentos. Ainda assim parecia que o carteiro não se preocupou em conferir qualquer destes detalhes, ao ponto que a caixa de correio estava cheia.
Entediada e sem um pingo de vontade de fazer a limpeza braçal – até porque não levei nenhum instrumento de limpeza comigo – conferi que tipo de documentos ainda estavam sendo entregues ali.
Logo no primeiro fui aturdida com um choque.
“(...) Em decorrência no atraso no pagamento da segunda fatura consecutiva do cartão de crédito, o Banco Cosette vem por meio desta, comunicar à senhora VERONICA MORSTAN não havendo regularização no prazo de 15 dias a contar desta data, o nome da senhora será encaminhado a serviços de proteção de crédito (...)”.
Parecia um erro, ao primeiro olhar, é verdade, mas existiam muitas daquelas cartas. De outros bancos, de instituições e lojas... Muita gente cobrando da vovó algum dinheiro recente, que obviamente ela não podia estar devendo (afinal, estava morta há um bom tempo).
Faria daquilo meu pequeno projeto, e, como primeira providência passei em casa para pegar a documentação do óbito dela para então comparecer ao banco para uma pequena conversa.
_ Bom dia, em que posso ajudar – disse um rapaz novo e já desiludido. Seus olhos transpareciam o tédio e a frustração do trabalho, e algo me dizia que a mulher gorda e de aparência mitológica que não parava de usar sua desagradável voz ao fundo era, ao menos, um dos motivos de sua frustração. Até porque ele revirava diversas vezes os olhos ao ouvir aquela megera vomitando ordens a torto e direito. Eu procurava colocar minha documentação em ordem enquanto explicava o caso, transpondo os fatos de que a cobrança não fazia sentido em vista que vovó havia falecido há uma boa década já, e ele se pôs a buscar no sistema. O rapaz foi atencioso, entendeu a situação e viu que realmente não fazia sentido o que estava acontecendo, ao que, a massa volumosa de mulher (ou criatura do sexo feminino, que parece mais apropriado) aproximou-se da mesa e se meteu no assunto.
_ Como assim é falha do sistema e do banco? Olha, sinto muito mas se essa pendência é da sua avó e ela morreu, a sua família vai ter de assumir a dívida! – e enquanto emendava bravatas e idiotices, eu simplesmente peguei meus documentos, me levantei calma e delicadamente com o extrato que o rapaz me imprimira de algumas das despesas realizadas e sai, dizendo apenas delicadamente aos ouvidos da senhora gerente em questão: “Prove”.
Ela embranqueceu, e começou a gaguejar e tremer, mas não esperei para ver até onde iria. Só ajeitei as coisas e sai, com um sorriso pretensioso nos lábios e a clara certeza de que às vezes as palavras certas são as coisas mais perigosas do mundo... E olha que eu sempre fui muito melhor com números. E estes só ficariam mais confusos.
Minha avó, além dos valores diretos que ela devia, tinha os juros e parcelas em aberto que totalizavam quase quinze mil. O cartão de crédito, que por algum motivo tinha quase cinco de limite – utilizado e ultrapassado – tinha principalmente saques, e algumas compras em lojas. Nenhuma por perto da cidade.
Uma era numa loja virtual, e, eu consegui entrar em contato com o serviço de atendimento ao cliente, que me passou informações mínimas, pouco educadas e, novamente apenas me cobraram sobre os valores. Sem outras perspectivas busquei ajuda competente, um amigo hacker, e, em algum tempo conseguimos rastrear o e-mail criado para fazer a compra, obter os dados do mesmo, e descobrimos uma conta inativa, e apenas o mínimo de informações. O endereço era uma delas, que pretendia usar em última instância.
Além disso a conta possuía o uso de outros cartões, de outras duas pessoas ao menos.
Edgar e Marta Gillian, moravam em uma cidade vizinha, numa área rural. Como descobri, porém, os atestados de óbito dos dois foram emitidos aqui na cidade também, anos antes de minha avó.
Ao contrário do banco e da loja virtual, o pessoal do cartório foi bastante útil.
Mal cheguei e já fui atendida.
A funcionária estava confusa, e realmente se surpreendeu com a história toda.
Logo que conferiu os dados, ela chamou um supervisor, e o supervisor ficou ainda mais perplexo. E logo chamaram a polícia para notificar o caso.
Passei horas na delegacia em interrogatório, e por algum motivo parecia que os policiais acreditavam que eu tinha culpa no caso. Claro, todos os manuais policiais trazem a informação que os culpados SEMPRE procuram as autoridades competentes para esclarecer um caso confuso. Parece coerente E lógico.
Conversas desconexas e gente que decidiu arquivar o caso antes mesmo de chegarem aos fins dos depoimentos e apurações. Cheguei a conclusão de que eu sou uma detetive muito melhor sem pagamento que o departamento inteiro. E o caso estava apenas começando.
Alguém estava execrando a memória de minha avó, e o mínimo que eu poderia fazer é descobrir que tipo de criatura seria capaz disso.
O endereço falso provavelmente seria um bom começo.
Apesar de todo o tempo que passei fora, não houve qualquer falatório em casa. Nada além do habitual, quer dizer. Fui e me tranquei em meu quarto o mais rápido que consegui. A noite passa rapidamente, repleta de pesadelos que me atormentam pela manhã. Tão logo o sol nasceu eu estava descendo as escadas correndo e saindo para mais um dia de buscas.
Passei em uma padaria próxima de minha casa e comprei dois croassaints e um cafézinho para servirem como café da manhã e almoço e duas garrafas de água de 500mL para me manterem durante minha vigília nas proximidades do endereço das compras de minha ‘avó’.
Cabe uma pausa para algo que eu talvez não tenha mencionado até então, achando que não fosse necessário, desde muito pequena meu veículo de locomoção era uma bicicleta, e, sempre fui para cima e baixo com a ‘magrela’, correndo a cidade toda e cumprindo qualquer tarefa que tivesse de desempenhar. Com o tempo, as distâncias aumentaram, e o tempo para se chegar de um lugar para o outro tinha de ser cada vez menor – para não perder prazos, provas ou o que fosse. Por isso comprei uma moto, cento e vinte cilindradas, que a pobrezinha já precisava de uma aposentadoria compulsória depois de tantos tombos e buracos que já nos metemos. A pobrezinha tremia cada vez que eu sentava em seu banco e partia para o mundo. E por mais discreta e ágil que uma moto possa ser no trânsito, ela pouco ajuda numa tocaia.
Logo que cheguei ao endereço indicado, comecei minhas constatações, observando o estado da construção e, pelas indicações correntes – as janelas abertas com cortinas, dois vasos bem cuidados, nenhuma indicação de panfletos ou correspondência entregue e não recebida – que deduzi que alguém morava de fato ali, mesmo que não fosse a pessoa que procurava sequer cúmplice de qualquer sorte.
Não demorou muito para as pessoas que passavam olharem desconfiadas para mim. Algumas falavam alto o suficiente para que eu ouvisse (ou não percebiam o quão alto realmente falavam) “Nossa, aquela moto está parada ali há quanto tempo?” e coisas do tipo.
Tive de procurar algum lugar calmo e reservado para me esconder e continuar a vigília à distância. Um orelhão que mesmo quebrado estava sempre tocando, foi a primeira opção.
Quando alguém passava, eu dizia esperar uma ligação, e, vez por outra fingia ligar ou atender algum telefonema no local. Próxima o suficiente da casa para que não pudesse ver, e, dali já conseguia ver outros pontos para alternar minha vigilância caso precisasse mais dias ou outras condições. O correio veio às duas, com poucos documentos para entregar, e, minha primeira garrafa d’água estava acabando.
Pouco movimento até por volta das seis quando vi uma pessoa entrando na casa, e não saindo mais, até as nove quando fiquei por ali. Achei que já fosse tarde demais para continuar por um bairro afastado como aquele com iluminação longe do adequado e, entre outras coisas, um grupinho de jovens a fumar pedras não menos que dois quarteirões de onde estava.
O dia seguinte foi mais proveitoso, quando o correio chegou, e, pude ver o carteiro com um grande pacote perguntando por ‘Vera Morstan’, sendo corrigido por uma senhora que saiu de dentro da residência. “É Verônica, senhor, e sou eu”.
Meu plano funcionava melhor que esperava, e de minha posição estava perto o suficiente para observar bem o rosto da falsária, e, o que me despertou um baque de imediato foi o fato de ser uma mulher de idade, talvez a mesma idade que minha avó teria caso estivesse viva, e, ela tinha uma expressão pacífica até.
Ela era uma pessoa que, caso encontrasse na rua eu jamais duvidaria de sua índole, mesmo quando corrigia o carteiro, sua convicção e serenidade ao dizer o nome de outra pessoa como se fosse o seu era embasbacante.
Não demorou muito depois da saída do correio para que ela então partisse.
E eu a segui.
Ela andava calmamente, cumprimentando pessoas, acenando para vizinhos e parecia uma pessoa querida por todos por ali. Por um momento eu quase me arrependi do que tinha em mente por fazer.
Apenas por um momento.
Ela colocou um envelope no correio, passou num mercadinho e continuou a andar no sentido oposto de sua casa com a sacola de compras.
Tão cedo ela estava sozinha, em um parque público alguns blocos de sua casa, ela se sentou em um banco para alimentar pombos, e eu me aproximei.
Parei a moto e observei aquela mulher sentada, alimentando pombos com migalhas e miolos de pão (ao que me perguntei que tipo de pessoa faz isso?), e esperei por mais algum instante imaginando se estava esperando alguém. Então me aproximei e a abordei. “Sra Marston?”.
Ela se virou, levemente confusa e assustada, mas não saiu do personagem “Sim, minha filha, posso ajudar?”.
“Na verdade é neta, e, até onde sei a senhora está morta... Já fazem uns treze anos...”, havia ódio em meu olhar e eu sentia conforme meu sangue enrubescia o rosto com um pulsar fervoroso. Meus punhos cerravam-se tremendo de ódio como se eu fosse acertar aquela pobre senhora com um ataque ensandecido. Ela se encolheu em choque derrubando a sacola de compras. A mandíbula balançava freneticamente para cima e para baixo enquanto ela tinha a expressão de quem via um fantasma diante de si. Sua máscara despedaçava-se no chão em milhões de pedacinhos, e ela sabia disso.
Inicialmente eu achava que ela estava fingindo um ataque cardíaco enquanto se aproximava de mim e agarrava meu braço com força, mas ao que vi, tentava agarrar a vida que lhe escapava. Mesmo quando percebi que não era encenação, parte de mim queria que ela morresse de fato, que aquele era o final apropriado para aquela vagabunda. Outra parte sabia que era errado, e pior ainda, ilegal.
Chamei uma ambulância o mais rápido que pude o que ainda não foi rápido o suficiente, de fato minha parte que torcia para que ela morresse ali estava satisfeita, fosse o sabor amargo e difícil de engolir como fosse, agora a memória de minha avó estava preservada.
Um único pensamento passou pela minha mente... “Tomara que descanse em paz dessa vez”.
Só que eu sabia que não era o fim daquela história toda.
Ainda restavam Edgar e Marta Gillian e provavelmente muitos outros, restavam outras perguntas e outras dúvidas que não me seriam sanadas.
Tinha medo de que tudo isso fosse um esquema de alguma organização perigosa e que eu corresse algum risco de vida.
A única conclusão que cheguei é a de que fantasmas estavam andando pelas ruas se passando por gente que um dia viveu, e o caso, como a polícia fez questão de catalogar, com incrível ironia, foi parar no arquivo morto, e lá permaneceria.

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