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2 de dezembro de 2012

Os royalties e a educação


Parte 2 de "A Educação e ignorância que andam de mãos dadas".


"O debate é pobre por falta de conhecimento, o que torna os dirigentes nacionais uns ingênuos ou irresponsáveis." - parte integrante da brilhante entrevista do Doutor Ildo Sauer, professor da USP e que disse muito mais e fatos mais importantes (alguns serão citados aqui durante o texto) e que podem ser conferidos na íntegra aqui.

Há alguns anos (2008 ou 2009), eu comecei a desenvolver meu mestrado pela USP.
Foi minha primeira tentativa de mestrado - apesar de não a primeira pós-graduação, afinal, tinha concluído recentemente uma pela UFSCAR, e confesso que estava surpreso e admirado pela qualidade dos professores de lá, talvez pela arrogância a prepotência de alguns professores que tive na UNICAMP. Então minha experiência acadêmica ainda estava bem longe de ter alguma amplitude capaz de poder julgar qualquer coisa.
Tergiversando um pouquinho por trabalhar em um banco - que administrava as contas de funcionários públicos do estado - eu tinha alguma (boa) noção de salários de professores, diretores e demais funcionários das mais diversas áreas da educação. Claro, claro, não do pessoal do alto escalão das secretarias, mas eu já conseguia estabelecer noções bastante abrangentes com os valores.
E justamente por trabalhar, eu tinha que conciliar o horário do mestrado com o de meu trabalho, então as aulas de sexta-feira das 7 ao meio dia tinham que terminar no horário certo para que eu fosse correndo trabalhar da uma às 19.

Dito isso, começo a discorrer sobre o mestrado.
Primeira semana, depois de conseguir uma folga para ir - e voltar - tranquilo, chego na USP para descobrir que o professor tinha um compromisso, e, tinha passado a um suplente um material e uma lista para que os alunos fossem avisados com antecedência em casos similares. O que não aconteceu - na segunda semana também não teve aula.
Na terceira, quando as aulas começaram, o horário não foi cumprido, e tive que sair correndo - no meio da aula, ao meio dia - para cumprir o meu horário, e o mesmo ocorreu na semana seguinte.
Na outra semana não teve aula de novo - dessa vez avisado com dois dias de antecedência.
E aí eu perdi o tesão de vez pela disciplina, e liguei o foda-se. Desisti.
Como conseqüência fiquei até 2011 sem qualquer vontade de me inscrever novamente num programa de pós-graduação stricto sensu.
***
Salta para 2012, quando um diretor da empresa internacional deveria dar uma palestra na Unicamp, para começar às 19h, e liga desesperado para os coordenadores do evento dizendo que seu voo atrasou, mas ainda assim chegaria por volta das 20h, e, com o acelerador no último (e talvez alguma multa), 20:30h sua palestra se inicia.

Talvez você me diga 'Ah, mas o diretor da empresa internacional ganha mais que o professor público'.
E eu não duvido - ao que volto a um dos parágrafos anteriores sobre trabalhar em banco e ter essas noções... A menos que seja um professor da Suíça (como ilustra a imagem abaixo).

(O salário médio de um professor na Suíça em 2010 era de $112.000,00 por ano - algo em torno de 9300,00/mês)

Mas, caro leitor, lembre-se de um detalhe: A função do professor é a aula.
A ocupação dele é essa.
Assim como o carpinteiro tem de trabalhar com madeira, ou engenheiro de software é trabalhar com linguagem de programação, um professor tem de dar aulas.
O diretor da empresa internacional não tem obrigação de avisar que seu voo atrasaria e ainda assim comparecer. Podia simplesmente dizer que estava preso no aeroporto e não faria a palestra, afinal, não recebeu valor algum pelo evento (talvez um certificado e um copo de água).

Salta para Rio de Janeiro.

Como é que um governo estadual acha que pode ancorar o futuro da sua população num excedente de petróleo que potencialmente é imprevisível, tanto pelo volume produzido quanto pelo preço, que depende da conjuntura geopolítica internacional? Isso é populismo.


200 mil pessoas se reúnem no Rio de Janeiro para 'protestar' pela divisão não-igualitária dos royalties do petróleo, encabeçados por celebridades cabeçudas, o evento só faltou responder pra toda essa gente que passeou com faixas pelas ruas da cidade maravilhosa o que de fato são os royalties do petróleo. Ou o quanto isso de fato significa na vida de cada um deles (e de nós).

Quantos desses 200 mil estavam ali sem ser por modinha - ou por ver algum show, alguma celebridade ou o que fosse?


Só que o problema aqui não é uma questão de cifras.

Não são as cifras do petróleo ou de seus royalties - que nem imaginamos quantos $$$ de fato isso resultará.
(E, como, novamente o professor Ildo Sauer destaca, graças a corrupção em países vizinhos, como México e Venezuela - que se você lembra do ranking de educação de ontem, o país dos luchadores está uma posição acima do Brasil enquanto o país das misses universo não figura em lugar algum - todo esse dinheiro do petróleo só serviu para favorecer os já muito bem favorecidos pela sociedade).
Não é uma questão do professor da universidade pública ganhar menos que o diretor da empresa internacional.
Não, meus caros. Não é uma questão de dinheiro, mas sim de valor.

Valores, aqueles tradicionais de vovó (e antes dela a vovó dela e assim sucessivamente) são coisas que não tem agregado nenhuma cifra monetária.
Honra, respeito e comprometimento são apenas condições que não revertem qualquer cifra de fato.
Porque então esperar qualquer um deles na educação?
Afinal enquanto faltar qualquer um desses - ou todos eles - nós só estaremos discutindo apenas dinheiro.
Dinheiro são apenas negócios.
Quando se trata de educação é um tanto perigoso pensar assim, uma vez que, afinal de contas... Ela não dá lucro.

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