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27 de junho de 2012

Como me tornei um um mentiroso compulsivo - e outras histórias autobriográficas (uma tentativa de estabelecer o maior título para um texto)

Minha primeira autobiografia nasceu durante a quarta série, e não foi de propósito.
Recentemente voltava de férias, como todos meus colegas quando minha professora nos premiou com a tarefa de redigir um pequeno trabalho (um pouco mais de duas, não mais que quatro páginas)... Mas foi a mais assustadora tarefa de toda minha vida - juro, tanto que me lembro dela até hoje, uma vez que a idéia ainda me aterroriza: Como comprimir a história de uma vida (mesmo que uma breve vida de apenas dez anos) em um confinado semblante de linhas...?
Imagine se eu descobrisse o que era a seção de necrologia nos jornais naquela época...

Anos mais tarde eu realmente pensei eu compilar histórias sobre minha vida, histórias peculiares e interessantes que poderiam render alguns contos e crônicas. Com vinte anos eu tinha uma boa coletânea de talvez vinte ou trinta dessas histórias, que resolvi batizar de "Quase a verdade", e perdi todos os documentos numa formatação de emergência do computador. Mas "Quase a verdade" não morreu ali, pois, de memória comecei a redigir novamente os textos, e, dessa vez tinha mais firmeza na qualidade e nos possíveis resultados. Dessa vez perdi tudo porque eu esqueci a senha usada para criptografar o arquivo.
E foi aí que "Quase a verdade" morreu.

Bem, não só aí. Teve também o documentário sobre o Monty Python com o mesmo nome (Almost the truth), que me fez abandonar o título, e sem o título, a coisa toda deixou de fazer sentido. Quer dizer... Minha noção de biografias foi sempre se adaptando e mudando com o passar dos anos, mas sempre me manteve uma constante: Que os escritores não devem nem podem ser honestos demais.

Por mais honesto e verdadeiro que possa ser dizer que matei dia de serviço pra ficar bundando em casa com atestado médico falso, e que deixei de ir a uma festa de casamento para não ver uma ex (cuja foto ficou me fazendo companhia solitária na minha maratona de auto-piedade e masturbação e álcool - apesar que a foto não participou muito em nenhum dos três), são histórias desagradáveis e chatas. Claro, claro, pessoas vão querer ler sobre isso (para se sentir melhor, e ridicularizar o outro companheiro ser humano, como minhas maiores especulações sobre o motivo) mas elas não são verdadeiras.

Viu o que eu fiz? Criei uma falsa expectativa de uma história triste e deprimente que tem uma temática levemente casual e coerente. Qualquer um poderia passar por uma situação dessas, e essa(s) história(s) praticamente se escreve(m). É só adicionar uma pitada de drama e idiotice e ta-dah!
Por isso eu trabalhei com a idéia de quase verdade nas histórias - que persiste no novo título, que eu desafio os senhores do Monty Python a roubarem de mim desta vez - com crônicas, contos e histórias curtas sobre a vida de forma a mesclar realidade e ficção, e, se a alguém interessar, servir como minha 'biografia'.

Afinal, como aprendi com o tempo (e com Jorge Luis Borges), não existe algo mais deprimente que uma história verdadeira.
Os mitos são muito mais divertidos.

Meu nome é Tiago Salviatti, venho desenvolvendo meus textos de maneira independente, trabalhando para publicar meus manuscritos de um romance já concluído (Ilhas), e uma coletânea de contos (A Invenção da realidade), enquanto trabalho em meu primeiro livro policial (O Teatro das Sombras - nome provisório).
Minha peça "Dom Casmurro 2 - Comi muito a senhora sua mãe" deve ficar na geladeira até que alguma boa alma apareça para me ajudar a tornar o projeto viável, assim como o não terminado "O Julgamento de William Shakespeare". Simultaneamente a tudo isso, venho labutando pra conseguir meu mestrado - não porque eu ache que vá mudar nada na minha vida, mas porque acho que vai ser legal pedir que me chamem de mestre...

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