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20 de dezembro de 2014

EDITORIAL> A ofensa e a censura

No agora aparentemente tão longínquo ano de 1999, um filme chegou aos cinemas com uma cena trazendo o tirano Sadam Hussein fazendo sexo com o senhor das trevas Satanás.
Isso, como se deve imaginar, não era tudo num filme chamado 'Maior, melhor e sem cortes', da animação "South Park", cujo episódio de estréia em 97 trouxe um garoto com um equipamento alienígena inserido em seu ânus (sem brincadeiras, é inclusive o nome do episódio).

Desde 1999, South Park mudou da MTV para o Comedy Central e provocou muito mais os limites do aceitável no humor. Caçoaram de recém falecidos, negros, portadores do vírus da Aids, cristãos e religiosos em geral, e até do profeta Maomé (num episódio censurado do programa, por motivos óbvios, ainda que, a situação fosse outra quando os 'Super Melhores Amigos' apareceram pela primeira vez em 2001).

South Park desafiou - e muito - os limites do que é ofensivo, meramente gratuito e escatológico e o que é verdadeiramente humorístico. Em seu jogo de videogame 'The Stick of Truth' lançado esse ano, eles foram censurados em diversos países do mundo por cenas como a de um aborto, de estupro realizado por alienígenas (de novo) e mais alguns absurdos contidos no material. Os criadores da animação fizeram joça com a situação ao substituir as cenas censuradas por imagens - caçoando os países onde essa censura aconteceu, como um coala na Austrália, ou o símbolo do Euro na União Europeia (como você pode ver, muito 'criativamente'), e um texto descrevendo os eventos da cena censurada. Esse material foi compilado pelo site de games IGN (no link), mas como o crítico de games australiano Yahtzee do Zero Punctuation destaca "(...)Depois da quarta ou quinta vez que a cena (do coala) aparece, isso me soa como bastante estúpido e eu meio que agradeço fui poupado de passar por isso".

É discutível e muito o que se define e vê como artístico em diversos fatores e expectativas, ao que pode ser defendido a integridade artística e o comprometimento da cena em fator da arte (como em 'A Serbian Film', ou 'Saló, 120 dias em Sodoma', que são chocantes e ultrajantes para nos forçar um questionamento sobre isso).

Entre os acertos e erros, South Park consegue boa média, e, mais que isso, quando acerta realmente é uma vitória estrondosa (o fantástico episódio de estreia da sétima temporada 'Cancelados' ou 'Faça Amor, não Warcraft') de forma que, mesmo que cometam indiscrições e erros vergonhosos, ao menos vale a pena ouvir seu argumento para entender a situação.

Dito isso, não parece o caso da 'comédia' de Seth Rogen e James Franco 'A Entrevista', cujo enredo gira em torno de um plano para assassinar o ditador norte coreano, com 'violência típica de filmes de horror' (como diz um executivo holandês reclamando da limitação de potencial do filme devido a restrição de faixa etária), No link ao lado, os executivos também questionam, desde antes da divulgação do ataque hacker, que a Sony tinha sérias dúvidas sobre o potencial e perspectiva de lucro do filme - em partes pelo excesso desproporcional de violência e em partes por James Franco ter a personalidade de alguém cujo rosto demanda constantes socos.
O filme passou por baixo do radar de todo mundo (talvez nem Rogen ou Franco se lembrassem que estavam nele, se nada disso tivesse acontecido), e raramente teve qualquer tipo de notícia, informação, trailer ou o que fosse. A Sony sabia que tinha um belo abacaxi nas mãos e um filme bem mais difícil de vender que o fraquíssimo 'É o fim' ou 'Segurando as Pontas'.

Claro, o ataque virtual sofrido pela empresa japonesa É preocupante (afinal, abre precedentes para todo tipo de ação de fãs loucos...), precisa ser muito bem investigado e analisado por se tratar de um incidente de proporções internacionais (de extrema delicadeza, ainda mais se tratando da região das Coreias, onde perdura um longo conflito desde a segunda guerra, praticamente), e sem precedentes. Mas essa história da invasão virtual à Sony é outra completamente diferente.
Verdade seja dita, o filme ganhou muito mais repercussão com isso que teria se passasse pelos cinemas (com as poucas salas em que estrearia), e o College Humor tira sarro do ditador norte coreano já há um boooom tempo com o 'The Adventures of Kim Jong Un'), ao que me leva a perguntar... Afinal, será que a distribuidora vetaria ou limitaria o lançamento de um grande blockbuster (como Homem Aranha, que, caso não se lembrem em 2001, após os ataques de 11 de setembro passou por refilmagens, uma vez que, inclusive no trailer do filme estavam as emblemáticas torres que vieram a baixo) cujos direitos cinematográficos são deles) sobre o mesmo tipo de ameaça, ou só aproveitou a repercussão para abafar um filme que potencialmente seria uma (nova) bomba da dupla Rogen e Franco?

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