Uma vez, enquanto tomava (alg)uma cerveja com amigos, me lembro que uma pequena parte do grupo discutia cinema, e falávamos de filmes ruins.
Mas filmes ruins mesmo, coisa de fazer você se perguntar porque alguém leu o roteiro, viu o teste de elenco, conferiu o orçamento e achou por algum motivo que sairia algo legal disso tudo... Sabe?
Coisas como "Plano 9 do Espaço Sideral", e coisas mais recentes como aquelas continuações desnecessárias (como Psicopata Americano II - juro que existe), ou pior ainda paródias que não entendem o que uma paródia deveria ser (juro que prefiro fazer tratamento de canal sem anestesia que assistir a algum filme dos responsáveis pelos 'Todo mundo ...' Sabe? "Todo Mundo em Pânico", "Todo Mundo HisPânico" - trocadalho genial - "Os Espartalhões" e cia).
Então um amigo que não estava na conversa foi se aproximando, e começou a falar de um dos filmes de super herói recém lançado - e que foi uma porcaria. Não me lembro se era Wolverine Origens ou Lanterna Verde, só lembro que esse amigo reclamava de Ryan Reynolds, e os dois filmes tem motivos de sobra pra serem ruins por isso.
Eventualmente, alguém tinha um ou outro argumento para defender o filme. "Ei, o ator fulano ficou legal em seu papel" (não uso o nome porque realmente não lembro qual dos filmes do parágrafo anterior, mas ambos tem excelentes atores como antagonistas), "Ei, mas a trilha sonora até é legal", "Se ajustassem só ... no roteiro, seria suficiente para ficar uns 200% melhor", e por aí vai. E o amigo que não estava na conversa no início, então começou a chamar aqueles debatendo de covardes "que só ficam falando mal de cachorro morto".
Pensei por um bocado sobre isso, e foi quando eu cheguei ao início de minha teoria sobre "A Definição Absoluta de Pior", e porque é impossível categorizá-lo.
Um dos pontos é que o pior não é simplesmente o avesso/antônio do melhor.
Eu facilmente coloco filmes de Bergman ou de Kurosawa no topo de listas de melhores, mas dizer que um filme que faça tudo completamente oposto de Bergman é ruim...? Isso faria com que Os Vingadores de Joss Whedon fosse um filme ruim (afinal é o oposto das sutilezas e teor psicológico e existencialista de um filme de Bergman)... E eu acho que é bem longe disso, afinal é um filme divertido e despretensioso.
Mais que isso, o tempo se atribui de mudar nossas percepções... Lembro que fiquei entediado com 2001 - Uma Odisseia no Espaço da primeira vez que vi, e freneticamente avançava as cenas para ver se 'aconteceria algo'. Hoje consigo ver que eu estava errado, não o filme...
E o oposto também aconteceu... Filmes que um dia achei brilhantes (quase tudo do Kevin Smith, como Dogma - mas Barrados no Shopping envelheceu ainda pior), hoje vejo com certa vergonha...
Pra definir algo como ruim, tem que ser incontestável.
Como dor de dente, como ressaca, como reunião semanal para discutir orçamento... Sabe, aqueles negócios que ninguém em sã consciência pode dizer que de fato gosta. E isso é mais difícil quando a questão é subjetiva.
O que faz com que algumas pessoas possam ao mesmo tempo achar que os filmes em negrito sejam bons - e os filmes (ou diretores) em itálico sejam ruins. Claro que isso pende a algum problema mental, mas é assunto pra outra conversa.
E esse ponto de incontestabilidade depende de um fator muito importante: REPETIÇÃO.
A vontade de fazer novamente a mesma coisa, de assistir novamente um mesmo filme, reler um livro... Mesmo que de estabelecer que você faria isso - se tivesse tempo ou a oportunidade. É o motivo pelo qual fazemos as tais listas de livros/filmes/seriados/objetos para levar a uma ilha deserta.
Quando falamos de filmes ruins, é muito fácil 'pular fora'... Parar de assistir no meio da duração do negócio e seguir com a vida. Ou, se tiver a infelicidade de assistir até o final, de ter a decência de lembrar que o negócio é ruim a ponto de não valer ser visto novamente em nenhuma circunstância.
A questão da repetição é o que me permite atribuir uma categoria ou peso a atividades que gosto (ou seja 'melhores'), mas isso é inexistente para coisas que detesto... Até porque estabelecer uma 'escada' do menos pior, chega a pontos de ser ridículo.
É verdade que o argumento pode se alastrar... (afinal existem três outros pontos que são um bocado mais técnicos - ORIGINALIDADE e INOVAÇÃO, QUALIDADE DE PERFORMANCE e CONSISTÊNCIA DO ARGUMENTO) Mas a essência da coisa é isso.
Ou talvez mais ainda naquela história sobre escrever na areia as mágoas e na pedra as coisas boas...
E é por isso que eu não faço listas de coisas ruins.
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