O machado desce suavemente contra a
madeira, sem falhas, sem a necessidade de repetidos golpes, algo que somente
com anos repetindo esse processo para tornar o hábito mais eficiente, nessa que
era sua última tarefa diária antes do regresso ao lar. As noites de inverno
eram sempre incrivelmente longas, e vinham sendo sem lua, o que faria dela mais
escura e fria.
Nem pouca madeira, nem demais. Apenas o
suficiente para manter a casa aquecida durante a noite, e manter a lareira
funcionando. Pouco do que sobrara como carvão da noite anterior, e que
ajudariam o fogo a pegar mais rápido, apesar de aquela madeira seca não precisar
de incentivo.
Pequeno casebre, dez por dez metros,
apenas quatro cômodos (a sala com lareira, o quarto, a cozinha e o banheiro),
numa região afastada das cidades, no alto de uma pequena colina, cercada de
bordos, carvalhos e outras árvores verdejantes e altas. Pela altitude, já era
normalmente frio à noite, fosse inverno ou não, e a estrutura da construção não
permitia grande isolamento térmico. E por questões de segurança, para que não
acordasse sufocado por fumaça e o fogo que tomara toda a construção de madeira,
ele adaptara parte da construção, mantendo próximos de sua lareira um tapete
improvisado com revestimento de Kevlar, assim como a porta corta fogo que
montara para o quarto. Mesmo que esta não impedira por completo a propagação da
brasa, poderia ganhar os segundos suficientes para fugir pela janela ou
esconder-se no abrigo subterrâneo, este inteiro feito de alvenaria e revestido
de isolamento antitérmico, e ele chamava de ‘treino para viver num caixão’,
fazia até questão de esquecer que existia tal recinto na casa, até porque não
gostava de lembrar dos anos que passara ali com sua esposa e os dois filhos se
escondendo naquele porão.
Tentava não pensar, na verdade. Somente
como uma manutenção para os eventos, para o que estava a fazer, para não perder
um dedo cometendo um erro ou coisa do tipo, não costumava refletir mais, pensar
ou lembrar das coisas. Lembranças são coisas perigosas, ele sempre dizia, e
naquele momento foi pego de surpresa, vendo o sol poente, lembrou de sua
falecida esposa. Uma lágrima quase imediata surgiu, assim como o pensamento de
sua filha, seus irmãos...
“Droga, Marta”, ele dizia em um sussurro
baixinho enquanto suas lágrimas corriam, e ele sentia que os doze a quinze
pedaços de madeira que carregava pareciam ganhar toneladas, e ele finalmente
teve de parar por um instante. Colocou as mãos sobre o rosto, e conversou
reservadamente com sua esposa por mais alguns instantes antes de voltar a seu
trajeto. A respiração estava um pouco mais pesada, e os olhos avermelhados
davam o tom da dor que ele carregava.
Antes de entrar na casa, como sempre
fazia, guardava o machado em segurança em sua dispensa junto com outros
equipamentos, principalmente uma vasta caixa de ferramentas, uma motosserra
elétrica (que usava muito pouco, talvez há mais de três anos sequer tocara
nela), e equipamento geral de jardinagem, como podões e vassouras de folhas.
Também era ali que ficavam o gerador elétrico e a geladeira que ele mantinha
funcionando, mantendo o diesel que alimentava este dínamo guardado em sua cova,
e pelas suas projeções, manteria funcionando o equipamento por mais dois ou
três dias antes de precisar de mais combustível.
Sua geladeira apesar de não ser nova,
gastava pouco, e era sempre mantida para o mínimo de consumo, para garantir o
funcionamento pelo máximo de tempo, mantendo os perecíveis, em sua maioria
carnes, e algumas garrafas de bebida que ele guardava, mais pelo hábito da
coisa que por qualquer outro motivo. Fazia tempo que não bebia. Seu organismo
não estava mais acostumado, seu paladar já perdera a sensibilidade.
Naquele momento, porém, a única coisa que
queria era uma dose forte.
Por isso pegou o whisky doze anos que
guardava já há mais uns doze.
Desceu queimando, e a memória de sua
mulher já ficava um pouco mais nublada.
Voltou para a casa, trancou todas as
portas e janelas, seguindo seu protocolo de segurança.
Já estava bastante escuro pelo horário,
e dentro da casa ele usava apenas um lampião de querosene.
Nessa noite não acendeu a lareira. Resolveu
descer ao subsolo, e ficou ali olhando velhas fotografias do álbum da família.
Estava cansado do que sua vida se tornara... Tinha saudades de todas as coisas
que perdera, todos os amigos, todos os parentes...
Bebia para afogar as lágrimas, e um
sorriso surgia com a nostalgia. Todos os bons sentimentos solapados por anos de
dor e sofrimento, brotavam novamente, enchiam seu coração de esperança.
Os fortes ventos faziam as portas
baterem mesmo trancadas. Do subsolo dificilmente algo que ouviria.
Não teve fome durante a noite. Era
verdade que vinha comendo cada vez menos, racionando cada vez mais a comida, mas
o álcool afastava a vontade de se alimentar.
Encontrou por acaso um rádio antigo,
funcionando com um dínamo manual que eles compraram décadas atrás para
acampamentos. Sabia que não haveria mais freqüências funcionando, há muito
tempo já não emitiam sinais. Ainda haviam discos, fitas e cds.
Colocou uma coletânea de Paul Simon, e
passou uma longa noite com uma garrafa a menos, e uma grande ressaca no dia
seguinte.
Quando acordou, com a maior dor de
cabeça que sentira nas últimas décadas, ele subiu até seu quarto, e deixou suas
funções diárias para mais tarde, quem sabe o dia seguinte.
Assim que acordou preparou um belo naco
de carne. Passara muito tempo racionando comida, que até sentia uma pitada de
culpa com sua gulodice. Era um dia diferente aquele, mesmo que não lembrasse
mais o seu verdadeiro significado. Sua memória já não era mais a mesma, e era
fácil esquecer alguns detalhes.
No dia seguinte, pegou sua bicicleta,
que ficava guardada para poucas ocasiões, e, como há muito tempo não fazia, foi
para a cidade. Era um lugar estranho, cheio de fantasmas e pesadelos, uma
lembrança de tempos mais simples, um vislumbre do grande fracasso da
humanidade.
Sua cabana não era tão distante da
cidade. Algo entre dez a quinze quilômetros por uma estrada simples e direta,
que tinha como maior obstáculo o caminho de sua propriedade até a região
pavimentada. Pista de terra, de má qualidade, e com alguns obstáculos para
afastar inconvenientes. Com chuva, era
impossível trafegar pelo lamaçal que se formava, fosse caminhando, fosse numa
bicicleta ou como mais se pensasse em trafegar.
Para ele, era algo vantajoso. Estava
mais seguro assim.
Só não ajudava muito em dias como hoje.
Adiar ou esperar que a chuva passasse só
complicaria ainda mais as coisas, e por sorte o barro ainda não estava preocupante.
A volta seria um pouco mais complicada, porém.
Existem três entradas principais com
acessos para os pontos mais importantes do distrito, das quais apenas uma ele
evitava a todo custo, que infelizmente era a primeira, mais curta e mais
próxima e, por algum motivo naquela tarde, sua mente ignorou os avisos e seguiu
justamente por ela.
Este caminho apresentava a área mais
abandonada da cidade, a área que ficou para trás mais rapidamente... Na região
da universidade, com uma imensa biblioteca e um teatro não muito distante, não
havia sinal de vivalma.
Antigamente se sugeriu que a humanidade
destruiria todos seus livros, que os líderes, compelidos em manter e fazer com
que as pessoas fossem mais ignorantes e facilmente manipuláveis, todo o
conhecimento seria minado e eliminado... Porém algo muito mais horripilante
aconteceu... A apatia fez com que ninguém se importasse.
Livros deixaram de ser relevantes, e
passaram a ser ignorados.
Idéias deixaram de ser debatidas,
discutidas e até mesmo pensadas.
Um processo involutivo, regredindo a um
estado cada vez mais primal, cada vez mais rápido, segregando e dividindo a
sociedade em grupos estruturados sobre essa diferença básica (as facções
animalescas e aqueles que ainda mantém um mínimo de capacidade intelectual).
Durante várias décadas, os dois grupos
coexistiram pacificamente, até mesmo sem saber das diferenças existentes entre
eles. Com o tempo, porém, a hostilidade cada vez mais crescente do grupo
animalesco forçou movimentos migratórios e a formação de sociedades nômades do
segundo grupo, e tentando manter uma estrutura de sociedade ainda pacífica.
Não funcionou.
Conflitos se iniciavam a todo momento,
por qualquer motivo.
Crises energéticas, recursos,
esportes... Tudo era um motivo para o início da próxima matança. E foram muitas
e cada vez mais com o passar dos anos.
***
O ar era denso e conturbado na cidade.
Havia fumaça em todos os cantos e fogueiras improvisadas. Mesmo assim, nenhum
sinal de sobreviventes.
Ao menos uma vez a cada período, fossem
dois meses, fosse um ano – era difícil marcar períodos de tempo quando todo ele
era tão igual – era preciso reabastecer. Principalmente para o inverno.
Como fizera em anos anteriores, ele
vinha de bicicleta buscando um veículo maior, normalmente um furgão ou
camionete, com a qual carregaria o máximo de galões que a máquina suportasse,
em conjunto com a bicicleta. Ela era uma pequena benção, essa belezura sempre
prática como meio de transporte que não precisa de nada mais que tração humana,
e a manutenção eventual de pneus. Nada que reparos precários por fita isolante
e um mínimo de esforço não fosse suficiente para diminuir uma distância de
trinta quilômetros a poucos minutos de pedaladas.
Menos de dois quarteirões do posto de
combustível, havia uma livraria, com um vasto acervo, e onde ele por sorte
encontrou algum café da última vez. Era um lugar bastante deserto devido as
condições destes loucos tempos, o que fazia dela o lugar perfeito para
estacionar e sondar o perímetro. Numa eventualidade, era inclusive um lugar
perfeito para passar a noite.
Por garantias, é claro, resolveu
conferir as instalações, saboreando aquele breve e estranho momento. Passear
por entre os livros, como se nada estivesse errado... Como em um longínquo
passado em que ele fazia isso, levando seus filhos e a esposa para tomar um chá,
um café e folhear revistas novas... Quando dezenas de livros novos saiam todos
os meses. Quando existiam livros novos. Quase parecia ser uma outra vida...
Um passado que não existia mais, onde
ainda havia esperança.
Foi quando ele notou, numa das portas...
Na verdade em todas as portas do
sanitário, havia um longo texto, espremido no espaço que tinha disponível para
todo o conteúdo, e formatado de uma maneira pouco convencional, com cada
parágrafo/estrofe utilizando um espaçamento oscilando, escrito de maneira quase
maníaca devido a repetição de cada detalhe entre as muitas versões do texto.
Não aparentavam demonstrar qualquer diferença visível. Ele vagou por outras
salas, por outros ambientes, e notou nos banheiros femininos e de outros
andares que haviam as mesmas inscrições, repetidas e repetidas em cada porta –
somente nos toaletes.
Algo que lhe pareceu curioso, porém, e
seus conhecimentos falhavam para confirmar ou constatar, é que a cada novo
ambiente ele veria o texto reproduzido em um idioma, ou ao menos assim parecia,
e seguia em frente, com o coração pulsante imaginando que encontraria ali o
autor ainda escondido, esperando e buscando ajuda e outra criatura.
Começava a pensar que, talvez, não
estivesse sozinho, e seus olhos começavam a fitar atentamente o texto, buscando
respostas.
O
universo deu-se início em um fenômeno chamado ‘Big Bang’ num condensado de
massa densa e quente aproximadamente 13,73 bilhões de anos começando a expansão
contínua. Estima-se que sua dimensão é de 93 bilhões de anos luz (destacando-se
que 1 ano luz equivale a 9.460.730.472.580,80 km), ou mais ou menos 5,88 x 10¹⁵
vezes a distância entre a Terra e o Sol (de aproximadamente 149.600.000 km).
Estima-se que a matéria somente passou a surgir no universo 300.000 anos depois
do princípio de sua expansão. Foram mais 200 milhões de anos para o surgimento
das primeiras estrelas, 500 milhões para o surgimento das galáxias e 5 bilhões
para o surgimento de nosso sistema solar, cujo centro é ocupado por uma estrela
de maior proximidade, e eixo gravitacional.
Neste
eixo gravitacional estipula-se uma órbita de 5 bilhões de quilômetros, no qual
centenas de corpo celestes circulam em virtude de sua força gravitacional, ao
redor desta estrela batizada de ‘Sol’, incluindo planetas, satélites naturais e
asteróides. Todos estes planetas e corpos respeitam as mesmas leis físicas de
coesão atômica, gravidade eletromagnetismo e a deterioração nuclear, possuindo
elementos químicos diversos e de mesma natureza distribuídos de forma e
proporções diferentes, e, de acordo com a temperatura, até em estados físicos
diferentes. Sendo o terceiro planeta em ordem de proximidade do sol, a Terra
(nome dado ao nosso planeta) possui raio geral aproximado de 6.371 km (o que
representa em magnitude algo proporcional a 7,24 x 10⁻²¹
do universo), e, estima-se que exista há pelo menos 4,54 bilhões de anos. O
planeta leva vinte e quatro horas (unidade sexagesimal utilizada para
quantificar o tempo) para dar uma volta completa sobre si mesma. Leva 365
voltas completas sobre si mesma e mais seis horas para completar uma volta ao
redor do Sol, centro do sistema planetário do qual faz parte, movimentos
semelhantes repetidos pelos demais corpos celestes, adequados às suas
proporções e distância relativa do centro do sistema.
Apesar de qualquer especulação que seja
feita, ou teorias lógicas, não existe nada para supor em contrário ao fato de
surgimento de vida em outro lugar, mesmo considerando-se as extensões e
dimensões do universo mensurável. Até o presente momento, somente o terceiro
planeta em proximidade à estrela sol daquela galáxia que é chamada láctea
apresenta traços de vida consciente, apesar de traços de água e microrganismos
encontrados por sondas e imagens de satélite. Por milhões de anos de calmaria,
o planeta foi se adaptando e ajustando, produzindo nutrientes, resfriando
metais, adensando partículas gasosas e ajustando cada vez mais partículas e
substâncias complexas ao ponto de gerar os primeiros organismos unicelulares,
seguindo num ciclo para formar estruturars cada vez mais intricadas. Assim
sendo, os fósseis microbióticos mais antigos a surgirem da ‘sopa primordial’
(abiogênese) em 3,5 bilhões de anos, antes mesmo da gigantesca e única placa
tectônica que hoje compõe os seis continentes se formasse. Seguindo num
processo constante e ainda corrente de evolução para a sobrevivência de genes
mais fortes e preservação da espécie, cada vez mais organismos vão surgindo,
mutando e estabelecendo estruturas cada vez mais complexas. Com o passar dos
anos vão surgindo novas espécies até algo entre dezenas de milhares e até
milhões de espécies de animais, plantas, fungos, protozoários, arquéia e
bactérias (mesmo que se discuta sobre os vírus e sua posição e condição na
configuração de ser vivente ou mera unidade replicadora de ADN ou Ácido
DesoxirriboNucleico), todos com estruturas celulares baseadas em carbono,
definindo-se pela capacidade de produção do próprio alimento dos seres
primários das cadeias e ciclos alimentares (fotossíntese), assim como a
capacidade e variabilidade reprodutiva (assexuada para espécies com menor
variação genética, e sexuada para espécies com maior adaptabilidade evolutiva).
Desde seres unicelulares com ciclos de vida de horas até estruturas mais
complexas com períodos de vida de séculos, a vida habita em todos os elementos,
por toda a parte, em todo canto do planeta, mesmo, bem, nos ‘cantos’ de outras
formas de vida (ignorando-se uma reflexão mais filosófica e contemplativa sobre
o termo vida, existência e seu sentido mais amplo, arbitrando-se o ponto lógico
de estruturas celulares minimamente complexas e com capacidade de reprodução).
Por exemplo, estima-se que existam 6,7 bilhões de seres humanos no planeta,
assim como também se estima que três vezes este valor seja o equivalente de
bactérias e demais microrganismos presentes no corpo humano. Em UM corpo
humano. O ser humano é considerado um mamífero complexo, talvez até o mais
complexo e o ápice da cadeia alimentar, dada sua quantidade de células e
sistemas (imunológico, cardio-respiratório, digestivo, neuronal, reprodutivo,
entre outros), que se reproduz de forma sexuada, dependendo da união de dois
gametas, o masculino (espermatozóide) e feminino (óvulo), desenvolvendo-se de
forma embrionária. Cada mililitro (0,001 L) de sêmen contém aproximadamente
100.000 espermatozóides, que podem durar até uma semana em seu ambiente, e até
três dias fora dele. O óvulo, por outro lado, mede aproximadamente de 100 a 200
μm (ou 1 x 10⁻⁶m
ou 0,000.006m), e diferentemente do organismo masculino que os produz e repõem
diariamente e sempre prontos para fecundação e geração de vida, o organismo
feminino durante os ciclos menstruais renova os óvulos e possui períodos ou
janelas propícios para a concepção. A gestação de um ser humano leva um período
de nove meses, ou 40 semanas em média, oscilando devido a estímulos e fatores
internos. Após o período de gestação, o recém nascido ser humano leva um
período de adaptação e amadurecimento, para o desenvolvimento e crescimento
tanto celular quanto junto ao quórum e sociedade na qual se estabelece – sendo
este último bastante lento e duradouro, em virtude de convenções sociais que
requerem uma extensa graduação num sistema educacional dividido por módulos
durante anos até a chegada de certa idade quando em busca tanto de
independência quanto uma posição e lugar sociais, e tais quais os demais
animais, a jovem criatura tem de aprender a sobreviver por conta própria,
buscar seu próprio alimento e viver em sociedade, e continuar o ciclo de
preservação, subsistência, reprodução e aprendizado para garantir a manutenção
do ciclo.
Outras
sociedades, em menor escala, como formigas e abelhas, trabalham de forma
rítmica para a manutenção da ordem e de seu crescimento ordenado. Cada pequeno
e mínimo operário fazendo o fluxo e funcionamento do organismo maior, do
coletivo. O agrupamento e junção de células (aproximadamente entre 1 a 10 μm),
e moléculas, de acordo com seus átomos (consistindo a unidade básica da
matéria, com diâmetro variável entre 62 a 520 picometros, que corresponde a 1 x
10⁻¹² m),
e, subseqüentes partículas subatômicas nêutrons e prótons que constituem a base
e núcleo atômico (que variam entre 1,6 e 15 fentometros, que corresponde a 1 x
10⁻¹⁵
m), e os elétrons (com massa normalmente 1836 vezes menor que a do próton)
orbitando constantemente como satélites naturais a estes cernes. De forma
semelhante, nestes encontram-se os quarks (partícula elementar e fundamental
constituinte da matéria), que também agem carregando as forças fundamentais
(gravidade, eletromagnetismo, coesão nuclear e deterioração atômica). Cada
corpo, partícula e sub-partícula agindo e funcionando como uma parte de algo
maior, algo mais preciso e complexo no funcionamento concreto de todas as
coisas.
No
grande esquema das coisas que se define e garante que cada engrenagem que vira
e se liga a próxima e a próxima ainda após esta, para fazer com que algo muito
mais complexo de uma escala maior que a sua, funcione. De forma semelhante com
o ordenamento de todas as coisas, em escalas maiores ou menores que esta, em
proporções que excedem e suplantam a razão. Os corpos celestes que rodopiam no
cosmo e contornam vastos espaços ao redor de outros corpos celestes maiores,
assim como os elétrons ao redor dos núcleos de prótons e nêutrons. Padrões
repetidos em escalas variadas. Tudo em sincronia harmônica, movendo-se e agindo
de acordo com seu lugar e sua noção e consciência do universo. Dos macros e
micros.
Não parecia uma mensagem, era mais como
poesia. Versos confusos e mau escritos, sem rimas, e com uma função estética,
talvez mais importante que o conteúdo em si. Mesmo assim ele leu. Duas, três
vezes, e se emocionou com aquilo. Era uma leitura difícil, letras pequenas e
muita informação para uma mente destreinada para leitura. Não importava.
Não com as linhas tortas em si, e sim
com algo que a muito ele não sente... Esperança. Afinal de contas, não estava
mais sozinho. E num mundo de silêncio e sem palavras, alguns breves sibilos
rascunhados e pichando paredes eram quase um grito. Um zeitgeist.
Se tem algo que podemos aprender na
vida, é que qualquer idiota bem intencionado pode usar milhões de palavras sem
dizer coisa alguma, promover inflamados discursos em nome de suas causas sem ao
menos compreender do que está falando. Em silêncio, por mais que tentemos, por
mais que nos esforcemos, não conseguimos deixar de ser nós mesmos. Não somos
capazes de mentir sem palavras.
E somente no completo silêncio podemos
apreciar e realmente valorizar a presença das palavras.
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