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26 de junho de 2013

Ato 1 - A vida, o universo e tudo mais (parte 1)


É uma prisão. Sem muros, sem paredes e limites visíveis aos olhos nus. Somente o verde do gramado encontrando o azul do céu no horizonte em todas as direções que se olha. Ainda assim, falta algo, evidentemente. Talvez seja a liberdade, ou somente o senso de arbítrio... Todo mundo parece igual, com mesmo estilo de roupas, mesmos cortes de cabelo, mesmo olhar sem vida... Eu vejo um monte de corpos vazios, sem vida, caminhando e, como se estivessem pastando naquele gramado, zanzando de um lado pro outro, vez e outra vez.
Então alguém diferenciado, bem vestido, elegante até surge, e diz, sem muitos rodeios: “Vocês podem sair daqui quando quiserem. Nada os prende aqui”. E a voz ecoou por algum tempo, e fiquei pensando e pensando sobre aquilo, e como era confusa a idéia de algo nos prender, sem que houvessem limitações espaciais. A voz mudou, como se fosse transmitida ao longe por uma espécie de alto-falante. Estava mais oscilante, e às vezes uma ou outra palavra faltava, enquanto a frase se repetia sem fim. Às vezes parecia que um ‘não’ surgia antes do podem, ou um ‘tudo’ substituía o nada, mas era apenas a baixa qualidade acústica.
Uma pessoa então chama a atenção de todos, ao longe, gritando a plenos pulmões. Urrando, na verdade, enquanto rasga a parte de cima de sua roupa de forma primitiva e feroz. Com a distância ficava difícil distinguir o sexo da mesma, e não fazia muita diferença. Ao redor todos olhavam chocados, eu inclusive. Esta pessoa então começou a correr, livrando-se de seus grilhões da vestimenta, do cabelo engomado, e, mesmo que tão distante, percebia-se que sua pele ganhava vida, resplandecendo diante de uma multidão de pessoas apáticas.
“Livre, livre afinal” ecoa pela planície contra o som da microfonia monótona e repetitiva.
Ela desaparece no horizonte, e, por um instante isso me perturba, mas pareço o único. Mesmo sem olhar diretamente para alguém, já sei que todos estão fazendo as mesmas coisas de antes, zanzando de um lado para o outro, vagando sem rumo...
É quando vejo um lago, que talvez sempre estivesse ali, misturado à paisagem, mas confesso que me parece que ele simplesmente surge do nada em meu caminho, querendo que eu o encontre. E vou até este lago, me aproximando vagaroso, e vendo que, a cada passo pra frente, vejo menos e menos pessoas. Quando estou à beirada, em toda direção que olhe, não há mais ninguém. Olho pra baixo, e, como o verdejante, linear e homogêneo gramado, o lago não traz nada de marcante, além do fato de sua cor, próxima ao verde da grama, fazendo com que realmente seja difícil localizá-lo com alguma distância.
Olho para o lago, um pouco abaixado, e vejo meu reflexo. Como as demais pessoas, meus olhos estão estranhos, apagados... Sem vida. Tenho uma vontade incontrolável de gritar, mas não sai nada.Tudo que consigo é recuar alguns passos, e engolir em seco aquela estranha sensação de vazio. Aquela imagem me atormenta. Aquele não sou eu. Não pode ser. Meu corpo treme, enquanto me afasto e recuo, e, aterrorizado, fecho meus olhos, cobrindo-os com minhas mãos.

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