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14 de abril de 2013

EDITORIAL> Dois erros não fazem um acerto...

Eu não gosto de falar sobre religião.
Na boa, acho que não existe nada mais desagradável para se falar, principalmente porque a única comparação boa o suficiente para explicar religião na minha modesta opinião é um comercial de cigarro dos anos 90 (acho eu, talvez seja mais velho que isso), que dizia "cada um na sua, e todos _____" (preencha com o nome da marca).
Cada um na sua, curtindo seu veneno, é o que eu consigo entender e aceitar como a definição mais apropriada de religião, e aí alguém me pergunta porque eu não gosto de falar de religião, certo?

São problemas e mais problemas e discutir um ou cada um deles não aproxima da real questão que estamos obscurecendo que é a busca por iluminação espiritual - que, caso alguém se pergunta, vale mesmo que você não acredite em qualquer conceito religioso e teocrático!

Enriquecimento espiritual é um processo complexo e difícil e que pode surgir das mais diferentes maneiras através dos mais diferentes avatares. Alguns encontrarão em Jesus, outros em Budha, outros no Doutor (Who?), mas não obstante é a mensagem e a sua compreensão que são importantes. Não o mensageiro (porque a vida é só um passeio).

Mas, o que me irrita de fato, é essa perseguição aos ateus.
Porra, porque é preciso vincular um texto de teor religioso a uma figura pública ateia, e mais do que isso, uma figura pública ateia falecida (já que não podem se defender)? - Como a falsa história de que Einstein provou diante de um professor ateu a existência de Deus (ou que Darwin em seus momentos finais de vida, desmentiu a teoria da evolução e abraçou a fé cristã).



Ou agora, nesse caso mais recente do Brasil sobre o pastor Marco Feliciano e John Lennon.


Repare que os cretinos que elaboraram esta falácia não se preocupam em rotular os absurdos do discurso de Feliciano (como que Paul, Ringo e Yoko - a esposa do Beatle - continuam vivos, e George Harrison só faleceu em 2001 - e o comentário de Lennon sobre os BEATLES serem maiores que Cristo envolve também estas pessoas... Deus é vingativo, mas pontual? Como Charles Bronson...?), ou o simples fato que, bem, Deus mata enquanto o diabo dá discos de platina (no caso de Lady Gaga e Caetano Veloso - outro ateu, mas claro, que venderia sua alma para vender uns discos a mais, afinal, porque não?).

Mas não... Eles tem de apelar, como Feliciano, e abusar de uma figura conhecida para distorcer um argumento prático.
Profanar a memória de Lennon para um argumento barato e ridículo.
Como o fato que Lennon, como ateu (God is a concept by which we measure our pain), dificilmente estaria ao lado de uma figura antropomórfica religiosa que represente Deus.
Ou que como falecido jamais seria representado por qualquer político - principalmente um de um país que não o dele (inclusive porque ele sequer pisou no Brasil em sua vida).

E mais do que tudo isso, é a questão de vilanizar que nós tanto amamos, não é mesmo?
Marco Feliciano é o diabo, o bandido, então que o crucifiquemos em praça pública! Esse é o circo que queremos, pois afinal assim há um vilão claro e evidente para perseguir.
Porque afinal todos os problemas do Brasil e de nossa situação atual estão atrelados ao fato de um homem homofóbico, chauvinista e racista (que foi eleito por voto popular, o que aponta na verdade a grande falha do PROCESSO eleitoral - mas isso é OUTRO problema) presidindo a comissão dos direitos humanos... Não é mesmo?

Mas quantos homofóbicos, chauvinistas e racistas enrustidos não existem por aí presidindo empresas, ministrando aulas ou tantos mais outros predicativos a eles poderiam ser aplicáveis, se encontram por nosso país?
E, desde quando isso é imperativo contra - ou a favor - da competência de uma pessoa?
Na verdade, não é a mesma intolerância que, bem, quem está reclamando, está aferindo (viu como é fácil alterar um argumento somente com raciocínio?)

(Algum vilão deve estar ferrando com a continuidade de Nosso Universo! - Plastic Man de Kyle Baker, infelizmente nunca publicado em português...)

Agora, obviamente, a grande questão afinal de contas é: E o que isso muda?
Afinal, nosso dinheiro é ofensivo a judeus, budistas e quantas outras religiões (porra, religiões africanas são comumente chamadas de 'macumba' ou 'vudu', então vá dizer que há respeito a elas), e obviamente aos ateus. Mas onde estão os protestos?
Nossos órgãos públicos, escolas - e universidades (PUC - pontifica universidade CATÓLICA, preciso dizer mais?) com símbolos religiosos, com a ostentação e desrespeito a demais crenças (e não crenças)... Devemos esperar o criacionismo (ou como eu chamo 'criacinismo') como 'teoria' também?
A comissão dos direitos humanos - que é apenas UMA DE VINTE comissões permanentes... O que ela de efetivo fez e faz no Brasil desde sua fundação em 1995? - Lembrando que é da Comissão da Verdade o processo sobre tortura e o histórico da ditadura militar...
Porque discutimos um problema causal, e não de fato a causa dele?
Afinal o problema não é que Feliciano seja o presidente de um órgão do governo que não tem autoridade e poder para nada. O problema é que ele foi eleito em primeiro lugar, assim como Tiririca (com base de slogan 'você sabe o que faz um deputado? Nem eu, mas me elege que eu te conto') e incontáveis figuras que se baseiam num sucesso banal que nada tem de base de trabalho ou sequer de conhecimento (ei, quem é mesmo o principal opositor do Feliciano? E não é que é um ex-participante de reality show?)... E esse não é um padrão que vá deixar de existir.

Ou o povo brasileiro já se esqueceu de Mulher Pera, Kiko (do graças a Rao finado KLB), Geraldo Wolverine (com destaque no NYT) e até mesmo um Netinho de Paula (agressor de mulheres) que quase foi prefeito de São Paulo.
Quais os CRITÉRIOS para que esse tipo de gente que chega à vida pública - muitas vezes sem um diploma de ensino médio ou noção e vislumbre de solução de problemas reais com base prática de trabalho - e em 90% dos casos sem uma plataforma de governo e governabilidade somente baseado numa noção vaga de 'sucesso' por exposição à mídia?
Que povo somos nós que achamos NORMAL que esse tipo de gente chegue à vida pública?
Ainda mais quando devemos admitir que a democracia é falha - seja estabelecendo teoremas com número de Dunbar, seja pelo processo que permita estas falácias como mencionadas acima (em que o processo político é forma para absorver gente incompetente e incapaz que de alguma forma seja popular) e que ISSO precisa de revisões, e não exatamente o que vem depois...

Mas é mais fácil elencar atores, distribuir papéis de mocinhos e vilões em um cenário caótico onde não existe bem e mal, porque isso nos faz sentir melhor... Acreditar que existe um senso de lógica e praticidade, e que todos os problemas do mundo podem ser resolvidos somente como num filme, quando o bandido é derrotado, e o herói pode dar um beijo na mocinha (ou no caso em particular... num outro mocinho, ou o herói é uma mocinha...)
Porque afinal, é mais fácil culpar o diabo por alguma coisa que assumir a nossa irreparável responsabilidade sobre nossos atos...


Tiago Salviatti NÃO apoia Marco Feliciano, Jean Wyllis (Coyotis) e tampouco acredita que tenha algum representante que de fato o represente, e não acha que de fato seja necessário dizer isso... Mas nos dias de hoje...

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