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4 de dezembro de 2012

A inovação, a pesquisa e direito autoral

Parte 3 de "A Educação e ignorância que andam de mãos dadas".

Se você tem mais de vinte anos, provavelmente já pensou alguma vez na vida em montar seu próprio negócio.
Se você tem até trinta anos, talvez já tenha tentado ao menos uma vez.
Alguns corajosos sobreviveram à primeira onda de ataque que vem por parte da papelada, mas é quando os tributos começam, que você aprende o significado do medo.

Até o primeiro ano da sua empresa você de fato não fazia ideia do que eram impostos.
Bah, pagar IR e continhas residenciais são fichinha perto dos quase 15% que terá de deixar pro fisco por Nota Fiscal emitida...

E contratar funcionário então? Amigo... Se você não fez convênio com a NYCOMED ou outro laboratório que produza dipirona, paracetamol ou ácido acetil-salicílico, pode se preparar, porque boa parte do seu orçamento vai para compra destes remédios (afinal, dores de cabeça não faltarão).

Porque tudo isso, e porque isso faz parte da continuação do artigo sobre educação? Esse artigo tem mais mistérios, intriga e escândalos que você pode imaginar...
É quase um livro da Agatha Christie... Hércule Poirot ficaria intrigado...

A inovação e desenvolvimento empresarial fazem parte do processo educacional.
Grandes empresas surgiram de pesquisa.
Grandes empresas surgiram de dentro da universidade (mesmo no Brasil, não pense que não).
Mas com tão altas cargas tributárias e tamanhas dificuldades para que uma empresa se firme e se monte, fica difícil pensar que profissionais arrisquem seu tempo e dinheiro em projetos.

Google e Gatorade, só pra citar dois exemplos nasceram dentro da universidade (através de pesquisa e start-ups).
No Brasil, as leis que sancionam pesquisa e transferência de tecnologia são bastante recentes - boa parte dos núcleos datam da última década (entre 2002 e 2006)... Isso é um problema.

Enquanto uma patente demora em média SEIS MESES na China (que deve ser o serviço de patentes mais porco do mundo), nos EUA e em boa parte da Europa, o processo leva entre dois e três anos. Cinco em casos específicos e turbulentos.

No Brasil, em casos que tudo esteja em ordem, vai levar duas Copas do Mundo.
Se tiver algo enroscado, ou for da indústria farmacêutica, pode acrescentar pelo menos mais uma (na verdade, até mais, porque podem ser quinze anos no total, e não apenas doze, mas você entendeu, né?).
Ah, e tem um detalhe não relatado ainda: Aqui também temos MENOS processos patenteáveis que em outros países, como procedimentos médico/cirúrgicos ou softwares - patenteáveis apenas os processos e não os programas em si.
Desta feita, fica claro que é preciso pessoal MENOS QUALIFICADO (não precisamos de um corpo médico, por exemplo, mesmo pra indústria farmacêutica, que só precisaria de especialistas em química - que não necessariamente precisam ser mais que técnicos de laboratório), e inclusive MENOS PESSOAL que em outros países (de novo, menos tipos de processo).

E isso justifica de forma clara a quantidade inferior de patentes nacionais com relação a outros países.
Alguém tem de começar um processo hoje para em 2020 estar com o depósito da patente para explorar...
Tem que consultar a mãe Dinah antes de entrar com pedido de patente...

Então eu pergunto: Que empresa em sã consciência vai desenvolver pesquisa no Brasil?
Pagar salário de funcionário por oito anos com a possibilidade de descobrir seu pedido indeferido e ainda pendente de realização de novos processos? Prever tendências de mercado daqui a uma década - afinal, porque explorar uma patente pra um produto que só seja comercializável por curto tempo?

E, mais importante: Como uma empresa pode ser competitiva - e até vencer num mercado competitivo - sem um diferencial de pesquisa?

Por isso Israel (uma das maiores nações em número de pesquisa e patentes) supera o Brasil no ranking de educação...

Mudando um pouco o foco sobre direito autoral - que apesar de ser algo sujeito a patente, e pertencer a uma gama similar de processos - o assunto é de uma natureza diferente. Aqui envolve menos pesquisa e mais trabalho artístico.
E é uma área ainda mais problemática que a primeira...

Quer dizer, você deve conhecer esses caras, não?

(Tudo bem, tem uma legenda dizendo, eu sei, eu sei).

Mas o que você não deve saber é... Quem é o autor dessa imagem?

Tá assinada pelo Maurício, eu sei... Assim como todas as revistas publicadas pelos quase 50 anos de publicação de histórias desses personagens - mesmo período de vida do Homem Aranha, por exemplo - e, pelo menos até onde sei, os créditos de autores NUNCA FORAM DADOS.
Os autores simplesmente são empregados do Maurício de Souza e recebem financeiramente, e é isso.
Artistas tem de deixar seu traço particular de lado para produzir em larga escala no 'estilo Maurício de Souza'.

E... Porque isso é ruim?
Mais uma imagem bonita pra vocês:


É gritante a diferença de estilo dos três artistas.
E é justamente essa diferença que proporciona mudança e crescimento na indústria.

Tanto que é justamente pelo estilo diferenciado, que Todd Macfarlane (a última imagem da esquerda para a direita) conseguiu fazer seu nome no meio quadrinhístico e aliado de outros produtores, criou sua própria editora nos anos 90: A Image Comics (hoje a terceira maior editora nos EUA).Porque isso é importante?

Porque a Image criou séries autorais, e gente como Robert Kirkman (criador de The Walking Dead, um dos maiores sucessos na TV americana - que quebrou recordes de exibição dos finais e estréia de temporadas) e tudo isso só é possível com o reconhecimento de talento.

E isso não vale só pra quadrinhos.

Com o reconhecimento do talento de autor de um livro adaptado para o cinema, o autor ganha um bom dinheiro de royalties por sua obra (que invariavelmente passa a vender um pouco mais), e esse ciclo incentiva o mercado literário em busca de novos autores que possam produzir material para o próximo grande sucesso.

Não importa essencialmente a qualidade do material. Claro, Crepúsculo ou Jogo dos Tronos são de um gosto mais questionável que outros materiais, mas rendem adaptações de sucesso, fomentam a indústria artística (novos atores surgem, e nisso podem surgir novos talentos - apesar que minhas fichas caem sobre o segundo nessa aqui).

E é a busca por material mais obscuro - como Dexter, de Jeff Lindsay, ou a já citada Walking Dead - que possibilita a perspectiva dos artistas independentes (e novos).

Sim, é verdade que os EUA caíram bastante no ranking de educação (já foram o número 1), mas eles também caíram bastante de produção artística.
Como o 'Everything is a remix' mostra, pela quantidade de reboots, remakes, adaptações e continuações lançadas nas últimas décadas. A produção artística vem declinando - como sinal da qualidade da educação que decaiu também.

E sim, eu ainda estou longe de um final para o problema da educação...

ERRATA: O burrão aqui falando de direito autoral e não cita de quem é a arte dos desenhos do Homem Aranha acima...
Então vá lá, da esquerda para a direita: Steve Ditko (o recluso co-criador do personagem), Alex Ross (ficou famoso nos anos 90 pelas obras "Marvels" e "Reino do Amanhã") e Todd MacFarlane (Criador de Spawn, co-fundador da Image Comics).

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